Cap 7 𖠌 O suicídio

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Não haviam se passado sequer uma semana após tudo, eu não ia a escola, eu não saia de casa, eu me lembrava de cada detalhe do corpo morto dela.

A primeira vez que vejo alguém morto daquela forma, e ainda por cima sendo minha irmã.

Os olhos virados e brancos quando abri sua pálpebra.
Sua boca escorrendo sangue, não muito diferente do buraco em seu peito, um buraco profundo. De facada.

Eu me lembrei de tudo.
Eu sempre iria lembrar.

Michael vinha à minha casa todos os dias, ele brincava com meus pais e comigo, ele retocou o loiro do meu cabelo e até me ajudou a hidrata-lo. Ele estava genuinamente disposto em nos animar.

Eu sempre tive muita admiração por ele, eu sabia no máximo 2% do que ele passava em casa, e ainda sim era terrível, e mesmo assim ele se mantinha de pé, como se nada estivesse acontecendo.

Ele tinha defeitos como qualquer outra pessoa, e levando em conta a grande influência que seu ambiente familiar teve em sua formação.

Ele sentia prazer em machucar sentimentalmente seus irmãos.
̶E̶r̶a̶ ̶s̶á̶d̶i̶c̶o̶ ̶

Um pouco explosivo com os menores.
̶A̶g̶r̶e̶s̶s̶i̶v̶i̶d̶a̶d̶e̶ ̶

E na época eu não tinha a simples capacidade de entender o motivo de tudo aquilo, para mim ele era apenas burro nesse requisito e deveria amadurecer.

Mas ele apenas foi inconscientemente influenciado a fazer aquilo.

̶O̶ ̶a̶b̶u̶s̶a̶d̶o̶ ̶s̶e̶ ̶t̶o̶r̶n̶a̶ ̶a̶b̶u̶s̶a̶d̶o̶r̶ ̶

Numa tarde, 4 dias depois o assassinato. Meu pai e minha mãe foram a delegacia para averiguar como iam as investigações.

Dessa vez eu e char não iriamos assistir filme algum, não iriamos pintar e nem jogar algo para estimular o cérebro da mesma.
Não teria leitura.
Teria apenas eu e uma televisão com comercial da Coca-Cola.

A porta estava destrancada, quando um garoto com "moletom" que não haviam mangas por terem sido rasgadas, entrou rapidamente e fechou a porta e se forçou contra ela.

— Preciso me esconder. – Disse Michael.

— Joseph está atrás de você, de novo? – Minha voz se tonou cavernosa.
Fui até Michael e peguei um guarda-chuva que estava do lado da porta, eu estava definitivamente pronta para quebrar aquilo na cabeça de Joseph.

— Acha que eu me esconderia do Joseph?

— Sim.

— Olha, é pior. Hoje eu iria pro tribunal, aquele lance da guarda ficar com minha mãe ou meu pai. Eu não quero ir, meu pai está mexendo com a cabeça do Evan e Elizabeth. ELE É ABUSIVO, RAVEN, NÃO A MAMÃE, NÃO ELA! – Ele gritou, seus olhos ficaram vermelhos, lacrimejando. Aquilo me espantou, sua reação me espantou – o primeiro lugar que ele vai preocurar é aqui, ele quer que eu dê um depoimento contra a mamãe.

— Devia ir Michael, pela sua mãe.

— NÃO! Não é assim Raven, é pior do que você pensa! Ele vai me machucar, me machucar muito – Ele escondeu o rosto entre os joelhos.

Eu me levantei indo até a janela mais próxima e olhando à espreita.

Vinha de não muito longe, um homem de terno roxo e cabelo lambido, o pai de Michael.

— Venha Michael – Tranquei a porta e puxei ele pelo braço.

Eu não estava me sentindo bem, mas não deixaria meu amigo ali.

1983: O início - 𝐌𝐢𝐜𝐡𝐚𝐞𝐥 𝐀𝐟𝐭𝐨𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora