24 𖠌 Nó na garganta

57 8 1
                                    

— Raven, querida! – Minha tia Josiane me puxa para um abraço assim que abri a porta.
Levo um tempo para raciocinar, e então respondo:
— Oi tia, como está a senhora? – Sorrio retribuindo o abraço, meu pai se aproxima e tira as sacolas da minha mão, levando até minha mãe que o espera na porta da cozinha.
— Ui, vou ótima, e você?

— Igualmente, mas onde está o tio Daniel? – Questiono com uma genuína curiosidade, me lembro dos dois como um belo casal.

— Saiu às pressas para comprar um carvão antes que as lojas se fechem. O coitado esqueceu – Ela ri – logo ele está aí. Suas primas Lisi e Alice chegaram e foram dormir.

— Economizando energia, normal, elas têm doze anos.

— Quatorze, na verdade.

Me surpreendo.

— Raven, ajuda seu tio Anthony e sua tia Doris. Eles estão no quintal guardando as decorações de natal. – Diz minha mãe, da cozinha.

Dou mais um abraço na minha tia e sigo em direção a porta dos fundos, em todo ano minha mãe e meu pai não resistem a uma enorme e exagerada decoração de natal, é sempre uma grande dificuldade quando o natal passa.

[...]

O dia passa como o vento. Meus tios se ajeitam sobre a cadeira de madeira, minhas primas e primos parecem distraídos procurando algum bom programa de réveillon na televisão e eu ajudo minha mãe a terminar de colocar a mesa, já meu pai está novamente no escritório, enfurnado em algum "projeto" que não conta para ninguém.

Subo novamente as escadas, mas dessa vez não entro no escritório, apenas o chamo por trás da porta e em questão de poucos minutos ele desce as escadas.

— Tia, temos que esperar o ano acabar, para comer? – Lisi choraminga com seus longos cabelos louros percorrendo seu corpo até as coxas, a nomeada Rapunzel Emily.

— Vamos comer agora. – Minha mãe se senta e ajeita o vestido branco florido, segurando as mãos de meu pai e com um olhar de conforto volta a dizer, agora em tom mais baixo, para meu pai – Esse será um ano próspero para nossa família. Não sei quais projetos são esses que você faz no seu escritório, meu amor, mas dará tudo certo e eu estarei aqui para festejar com você quando esse tal projeto se concretizar.

Ela finalizou com um leve beijo na bochecha do mesmo, logo ela se virou para todos, fazendo um gesto para comermos.
Eu queria ser como minha mãe, ela é doce, amável e compreensiva, eu não sei quem eu puxei, não consigo ser delicada e amável como ela, e sei que ela não se força a ser assim, ela simplesmente ama amar.

E no final, quando os fogos de artifício se cessam, nas panelas restam raspas, os mais jovens se jogam nos sofás e os mais velhos contam fofocas sobre os acontecimentos do ano, já eu atendo uma preocupante ligação da Sally.
Saiu para o quintal que está parcialmente iluminado pelas pequenas luminárias que por ela estão espalhadas, a garota chora como uma criança e não consegue me dizer uma palavra sequer.

— Sally, eu não estou conseguindo entender – Digo, já ficando desesperada ao escutar os soluços – eu estou indo aí, ok? Você está na sua casa mesmo??

— Ele morreu! – Ela desmorona em um choro alto.

— O que?! Quem morreu?? Sally?! – Minha mão livre vai até a cabeça, e dessa vez o desespero realmente vem à tona.

— Encontraram o corpo dele dentro da empresa – Ela solução a cada palavra – enforcado com suspeita de suicídio, mas – ela chora ainda mais – por que ele faria isso?!

Meu coração se acelera, corro para a cozinha e tomo em mãos a chave do carro de meu pai.

— Pai, eu já volto! – Ele me olha com preocupação enquanto saiu com desespero de casa, correndo até o carro, voltando minha atenção para Sally que se derrama em lágrima – Sally, pelo amor, me diz que morreu!!!

— O DYLAN, RAVEN, O DYLAN!

Meu corpo paralisa quando escuto o nome do nosso amigo Dylan. O Dylan?! Por que o Dylan se mataria????

Meu coração aperta e o choque me faz derrubar a chave na grama.

— O... Dylan? – Minha voz trava a cada letra e meu corpo fraqueja com os olhos ardendo.

— Me, me disseram pra te passar as informações, mas eu não consigo, Raven, eu não consigo!

Me abaixei lentamente para pegar a chave e caminho até o carro, sentindo lágrimas se desejarem dos meus olhos, eu não esperava, definitivamente não esperava.

— Eu estou no hospital municipal, Raven, por favor venha, eu não aguento isso sozinha, mais ninguém sabe, ainda... Não sei nem como estarão os pais dele ao descobrirem.

— Eu estou indo – Fungo tentando segurar o choro, ligo o carro e dou partida. Sally desliga e finalmente despejo minhas lágrimas sobre o volante e todo o ambiente é preenchido com o choro e os soluços, um plangor que apenas eu escuto.

Em questão de minutos, deixo o carro no estacionamento do hospital e corro até a recepção, passando com pressa na frente de qualquer um.

— Vim ver Dylan!

— Dylan o que, senhora? – Pergunta a mulher, enquanto digita.

— Raven? – Sally se aproxima de mim, ela está com um vestido verde escuro e seus cabelos presos, seus olhos vermelhos e o nariz molhado.

Vou mais rápido até ela e lhe dou um forte abraço, a mesma se esconde o rosto no meu ombro, meu salto faz ela parecer minúscula, e assim que que suas lágrimas se derramam, Joe e Erika entram sobressaltados, e antes que chegassem à recepção, eles nos veem e se direcionam a nós.

— O que aconteceu com Dylan?! – Erika pergunta com os olhos cheios de lágrimas.

— Eu fui buscar ele de carro na empresa, a gente planejava ir lanchar um cachorro quente com todo tipo de recheio – Sally se afastou de mim e olhou para cada um de nós enquanto tenta conter o choro – Fiquei parada com o carro na frente da empresa, esperando dar o momento, ele não saia e nem atendia as ligações, e aquele portão de ferro pra aquela porra de empresa subterrânea só abria com uma senha que eu não faço ideia de qual pode ser. Fui para o outro lado da rua, pensando que poderia ser o sinal de telefone que estava ruim, quando de longe vi Michael saindo do portão, ele estava com um pano enrolado no corpo, eu chamei e chamei ele, mas ele não me escutou, acho que o coitado nem sabe o que aconteceu, mas ele deixou o portão aberto, e por pura curiosidade eu entrei, os corredores estavam todos vazios, mas aí tinha uma sala de manutenção, ela era muito escura, mas quando liguei a luz – Ela olhou nos meus – os corpo de Dylan e de outro homem estavam...

Joe se aproxima de Sally e coloca as mãos aconchegadamente em seus ombros, ela procura as palavras certas para definir o que viu.

— Estavam pendurados pelo pescoço, com fiações enroladas nos pescoços e os olhos – ela aponta para os próprios olhos – esbugalhados e avermelhados, o pescoço sangrando, eles... eles estavam muito alto.

— Um suicídio à dois? – Joe pergunta espantado – Dylan nunca faria isso.

— Então! – Sally diz com um ódio óbvio – Mas insistem que tenha sido um suicídio por conta dos indícios no corpo, mas por que eles fariam isso? Não faz sentido!

— Os pais dele sabem? – Ele pergunta novamente.

— Já fizeram a ligação, devem estar a caminho. – Enxugando os olhos ela pega nossas identidades e leva até a recepção, que permite que eu e os demais entremos hospital a dentro.

Pelos corredores, Sally nos guia até o bloco F, onde fica uma segunda recepção e a sala de autópsia, a garota se senta no banco de espera, então fizemos o mesmo 

1983: O início - 𝐌𝐢𝐜𝐡𝐚𝐞𝐥 𝐀𝐟𝐭𝐨𝐧Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon