The Raven

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    Nevermore estava exatamente a mesma desde o último semestre.

    As paredes de pedra fosca e a estrutura rudimentar, me davam boas vindas para mais seis meses de incrível tédio e futilidades adolescentes, no qual eu agora fazia parte. E sinceramente, por muito tempo isso me pareceu uma ideia terrivelmente péssima, não no bom sentido.

    Depois de várias tentativas de tentar escapar daquele purgatório, todas elas interrompidas por um maldito hyde que entrava no meu caminho, e me obrigava a me afundar em seus mistérios grotescos e assassinatos brutais, acabei por aceitar meu destino insuportável e permanecer naquele lugar, e entender por qual motivo eu dividia o fim do mundo, ou melhor, de Nevermore, com um peregrino morto a mais de 400 anos.

    Confesso que não foi exatamente o que eu esperava.

    Ser vítima de tentativa de assassinato era com certeza minha sina, pois a cada metro quadrado de floresta sombria, algum ser amaldiçoado tenta atentar contra minha existência parasitária. Fora os espíritos que agora não me dão um segundo de paz. Eu sinceramente esperava algo mais do sobrenatural, pois a regularidade das mesmas ameaças e assombros já estava ficando entediante.

    Agora, Nevermore tinha um toque a mais de casa do que a própria Mansão Addams, já que pelo menos aqui eu tinha algo mais interessante a fazer do que suportar as relações românticas excessivas dos meus pais, que a cada dia mais pareciam gêmeos siameses.

    Até torturar Pugsley tinha perdido a maior parte da graça. No início, tinha um ar satisfatório de nostalgia, depois foi apenas virando rotina os mesmos gritos de terror e as mesmas súplicas misturadas com soluços.

    Até tentei escrever mais algumas edições do meu livro. Pensei que o silêncio de meu quarto permitisse que eu transformasse no mínimo umas duas mil folhas de papel em histórias macabras, mas não consegui chegar a cem. Tinha algo que estava faltando. Algo que eu tinha quase certeza que eu iria reencontrar assim que chegasse em Nevermore. Devo confessar que meu dormitório na academia tinha se tornado aconchegante, e eu sentia falta dele.

    "E é só dele que você sente falta, não é mesmo?"

    Thing tinha indagado isso quando eu estava deitada em meu dossel, sentindo o mais profundo dos tédios.

    — O que você está insinuando, seu apêndice irritante?

    "Não estou insinuando, estou afirmando que você sente falta de tons de rosa e música pop."

    Naquele dia, fiz questão de o prender ao pescoço do Uncle Fester, que tinha conseguido a proeza de ser pego furtando mel. Quem diabos é pego furtando mel? Nem ursos seriam tão estúpidos. Foi uma punição dupla. E uma escapatória.

    Eu detestava admitir, mas eu definitivamente estava sentindo uma certa estranheza na ausência de risadas ao telefone, rangido de dentes à madrugada e tagarelices intermináveis sobre esmaltes e coisas completamente fúteis.

    Recebi uma mensagem cheia de erros básicos de pontuação alguns dias depois do início das férias, e logo adivinhei quem era antes mesmo de abrir a mensagem de Enid:

— Wednesday Addams!!!!!!

Como vc tem a audácia de ter um telefone e n me falar o número????????

Sabe o trabalho que eu tive pra conseguir ele??? Tive que mandar uma carta para o Thing me dizer seu número pq quando eu perguntei para aquele desgraçado do Xavier, ele não quis me passar pq era uma privacidade sua, e que se vc n contou ele n iria contar. NÓS SOMOS AMIGAS. Ele que torça pra não ter garras pelo pescoço durante o sono.

A Sky Full of Stars - WENCLAIRWhere stories live. Discover now