Never More

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    Escuro. Vazio. Solitário. Louco.

    Eram as palavras escritas dentro daquela cela que fora limpa especialmente para eu residir nela pelo resto de meus dias. Edgar Allan tinha uma percepção bem negativa de si mesmo, e enlouquecia escrevendo sobre suas desilusões e terrores. Ainda conseguia sentir a essência da dor e sofrimento grudados em cada pedra fosca da parede mal iluminada pela única janela com grades da porta de ferro maciço.

    A luz da lua, minguante como cada parte de meu ser colapsava em sua própria existência, mostrava os rabiscos e frases escritas pelo poeta da estátua. Escuro. Como aquela cela, feita especialmente para ele.

    Vazio. Vazio de alma. De coração. Vazio de qualquer tipo de sentimento.

    Solitário. Como um corvo. Como eu devia ser.

    Louco. Como eu havia me tornado.

    Olhei para a poça de sangue no chão. Meu sangue. Não era muito. A bandagem impedia que a maior parte saísse, mas eu fiz questão de arrancá-la, e deixar que cada gota seguisse livremente para fora de meu corpo, saindo do purgatório que era a missão de me manter viva.

    Então, com a ponta de meus dedos, me permiti enfiar a mão na tinta peculiar e adicionar mais uma palavra àquela parede. A pedra fria recepcionou meus dedos de forma acalentadora enquanto eu escrevia cada letra.

    Faziam dias, ou algumas horas, não fazia ideia, que me deixaram naquele lugar. Sabia que não eram apenas horas quando Kinbott me fez uma visita, e o sol radiante da manhã queimou meus olhos.

    Quando não disse absolutamente nada a ela, a mesma retirou a camisa de força que me contia e diminuiu qualquer que fosse o calmante que me davam constantemente.

    E depois, ao acalento do escuro, me permiti abrir novamente todas as feridas de unhas que já haviam coagulado, na esperança que sangrassem até que não houvesse mais nada.

    Quando acabei de escrever, arrastei a mão pela parede áspera, deixando um rastro de sangue que parecia ter sido feitas por garras. Algo bem adequado para combinar com a nova palavra daquele martírio poético: Monstro.

    Não me surpreendi quando Thing apareceu na fresta da janela. Não ousei olhá-lo, visto que ele havia presenciado absolutamente tudo.

    Senti seus dedos subirem pela extensão de meu corpo, ficando na única parte iluminada pela luz, que a lua novamente transmitia em sua exuberância. A comida que me deixaram ainda estava intacta, assim como a do almoço. Não sabia quem entrava para fazer isso. E não me interessava saber.

    "Vim tirar você daqui."

    Meus olhos escuros, que provavelmente já haviam se tornado acinzentados, lhe fizeram uma pergunta. E ele levantou um molho de chaves em resposta.

    Antes que ele pudesse abrir a tranca, eu disse, com a voz falha demais:

    — Não.

    Ele parou, e voltou para mim.

    — Não irei embora daqui. Este é o lugar onde mereço estar.

    "Wednesday, isso não é verdade."

    — Você viu o que eu fiz. Viu o que eu sou capaz de fazer. Viu o que me tornei. E é por isso que você tem que ir embora, agora.

    Ele se relutou e se manteve quieto no mesmo lugar.

    — Thing, vá embora. Você precisa ir.

    "Você não é um monstro, Wednesday."

    — Por favor. – não percebi que estava chorando antes que minha voz soasse embargada. – Você precisa protegê-la.

A Sky Full of Stars - WENCLAIROnde histórias criam vida. Descubra agora