Te odeio (mas nem tanto assim)

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Jonathan estava com as mãos no bolso do casaco do uniforme que tinha vestido de qualquer jeito, a mochila quase vazia estava pendurada em um ombro e de seus lábios saia uma melodia baixa que Vicente não conhecia. Ele estava andando cabisbaixo atrás dele até que perdeu a paciência quando o viu se virar para observá-lo pela décima vez no trajeto até a escola.

— Não é como se eu fosse desaparecer — resmungou — Você acha que vai tirar os olhos de mim por um minuto e eu vou estar beijando um homem nas suas costas?

— Só estou fazendo o que seu pai me mandou fazer — ele parou em sua frente.

— Eu preciso concordar que você é realmente esperto — Vicente revidou ácido — Me entregou aos meus pais e ainda está fazendo dinheiro com isso.

Jonathan engoliu em seco.

— Não foi proposital.

— Então você casualmente tira as pessoas do armário na mesa do jantar?

Aquela conversa estava claramente indo para um lugar ruim.

— Você estava me humilhando.

— Então é minha culpa? É minha culpa que você é um péssimo estudante?

As mãos de Vicente estavam tremendo agora. Ele geralmente não era alguém que entrava em discussões ou rebatia desse jeito, mas tinha chegado ao ápice do estresse com toda a situação. Se pelo menos o outro tivesse tido a decência de pedir desculpas até poderia ficar mais calmo, porém ele continuava agindo como se estivesse no seu direito de entregar sua sexualidade daquele jeito na mesa do jantar.

— É minha culpa que você é gay? — ele revidou.

Houveram poucos momentos na vida nos quais Vicente se sentiu tão irritado quanto estava agora, por isso ele não pensou duas vezes antes de empurrá-lo.

— Eu te odeio! — gritou — Eu odeio tudo sobre você! Quanto mais de mim você quer tirar além do meu rim??? Você devia ter morrido naquela época!!!

Dito isso, ele apenas tirou o vizinho do caminho e saiu correndo para longe dele enquanto não conseguia conter suas lágrimas. Depois das últimas palavras que tinha ouvido, Jonathan ficou congelado no lugar por algum tempo sem saber o que sentir ou pensar, como se sua mente tivesse ficado em branco. Enquanto via as costas do outro desaparecerem pela rua vazia, ficou pensando se realmente devia ter morrido naquela época.





— Eu não devia ter dito isso...

Vicente afundou o rosto nos braços por cima da mesa na sala de aula. Ele estava deitado ali já fazia um bom tempo enquanto era confortado por suas amigas.

— Foi um pouco cruel — Emma concordou — Mas não se compara com o que ele fez a você.

— Eu concordo — Michaela estava comendo um pacote de salgadinhos de milho e falou de boca cheia — Acho que devíamos dar uma lição nesse seu vizinho.

— Nem pensar — o garoto levantou a cabeça e negou — Não quero que vocês se metam com ele.

— Ele respondeu — Melissa interrompeu a conversa e entregou seu celular na mão do amigo.

Os pais de Vicente tinham tirado não apenas sua internet como também seu celular, por isso ele estava incomunicável desde o ocorrido. Assim, quando chegou na escola naquela manhã, pediu o Motorola V3 cor de rosa de Melissa para mandar uma mensagem a Charlie, o garoto que ocasionou toda aquela confusão. No entanto, assim que leu a resposta dele, sua expressão não ficou nada boa e suas amigas logo ficaram preocupadas.

Primeiro amor na casa ao ladoWhere stories live. Discover now