Chocolate de Dia dos Namorados

114 18 47
                                    

Vicente e Jonathan tinham pegado no sono ainda dividindo a cama do hospital quando o pai do segundo apareceu depois de terminar sua cirurgia. Assim que viu os dois daquele jeito ficou um pouco confuso e então acendeu a luz para acordá-los. Vicente ficou envergonhado quando abriu os olhos e logo levantou, porém o outro não fez muito caso.

— Senhor Belchior — o cumprimentou sem jeito — Desculpe, acho que infringi as normas do hospital.

— Deixa disso — Jonathan deu de ombros — Estávamos assistindo a um filme e pegamos no sono, a cama é grande, qual é o problema?

O médico estava olhando de um para o outro e por fim decidiu que já tinha se incomodado demais naquele dia, então iria deixar aquilo passar. Avisou que se o filho continuasse bem, amanhã de manhã receberia alta e poderia ir para casa. Por fim, disse que estava indo e pediu para Vicente acompanhá-lo, o levaria junto. Como ele estava sem jeito, apenas assentiu e acompanhou o homem para fora do quarto, deixando o outro sozinho para trás.

O caminho até em casa foi extremamente silencioso e esquisito. O garoto até tinha tentado pedir desculpas por toda a confusão que causou, porém a postura do médico era um tanto fria e calada, nem sequer o olhava, então ele apenas se virou e ficou observando o céu noturno passar pela janela até que chegassem.

Quando entrou em casa, seus pais estavam assistindo televisão. Ele deu "boa noite", mas não recebeu nada em troca, por isso apenas subiu para o quarto. Ao se atirar na cama um tanto exausto, Vicente estava com um peso no peito que o destruía, sentia que tinha magoado seus pais, tinha feito seus vizinhos sofrerem e tudo isso era sua culpa. Por mais que pensasse sobre isso, só conseguia sentir que era errado, que era defeituoso. Se tivesse nascido "certo", seus pais se orgulhariam e o pessoal da escola não iria atormentá-lo. Porém ele não era assim e sabia que nunca conseguiria ser, era impossível se forçar...

Havia uma lágrima escorrendo por sua bochecha quando pensou no vizinho. Como se fosse uma cura para o seu coração, ele conseguiu ouvir suas palavras em seus ouvidos novamente:

"Existem várias pessoas que gostam de você e ficariam muito tristes se soubessem que você está pensando essas coisas. Tem aquelas suas amigas da escola, e... eu".

Sem que pudesse controlar, seu coração acelerou de um jeito caloroso e um sorrisinho se formou em seus lábios tristes. Aquele era o exato conforto que tanto precisava, por isso em seu coração agora todos os seus sentimentos por Jonathan eram bonitos.





Na manhã seguinte, o pai de Jonathan foi até a escola e exigiu que os alunos que bateram em seu filho fossem expulsos, caso contrário iria tirá-lo de lá e espalhar para todos que aquela escola protegia delinquentes. Como era uma escola particular e com certo nome, não queriam ter sua imagem manchada, por mais que oferecessem bolsas de estudo e tivessem alunos de classe baixa, também tinham aqueles bem ricos e perder esses alunos seria terrível. Assim, aquele trio problemático foi "convidado a se retirar" da escola e não tinha outro assunto pelos corredores que não fosse esse. Quando ficaram sabendo que o motivo pelo qual Jonathan apanhou era para proteger Vicente, muitos tiveram que se conter quanto às provocações feitas ao garoto, já que ninguém mais queria ser expulso. Foi só por causa disso que ele teve um pouco de paz naquela manhã.

— Ele está inteiro? Jon é magro como um graveto, ele foi desmontado? — Kevin perguntou curioso.

— Por que ele não nos avisou? Eu teria ajudado a dar uma surra naqueles malandros — Jesse repetiu.

Primeiro amor na casa ao ladoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora