Primeiro amor na casa ao lado

A primeira vez de Vicente

Na manhã seguinte, Jonathan acordou sentindo como se tivesse ido parar em outra dimensão, como se sua vida tivesse tomado um curso que não esperava. Nunca tinha saído de casa antes, porém lá estava ele em um hotel velho de beira de estrada, sem saber o que iria acontecer depois. Seu rosto e corpo ainda doíam onde tinha apanhado do pai e estava evitando pensar sobre isso, não queria lembrar da dor do dia anterior e de todas as coisas ruins que tinha sentido. Era verdade que nunca foi muito próximo do pai e que guardava rancor por todas as vezes em que o viu bater em sua mãe. No entanto, nunca pensou que as coisas chegariam nesse ponto, sentia que dali em diante não teria mais volta, sua relação estava arruinada.

Ele se virou com dificuldade no colchão e quando olhou para o lado, Vicente estava sentado olhando para o celular e suas bochechas estavam molhadas por ter chorado. Não era a cena que esperava ver, então ficou preocupado.

— O que aconteceu? — perguntou com a voz rouca.

Vicente limpou as bochechas molhadas e largou o celular.

— Minha mãe disse que ontem à noite nossos pais tiveram uma briga muito feia por nossa causa — explicou — Parece que o seu pai descarregou toda a raiva no meu, agora ambos estão contra o nosso namoro e brigados um com o outro...

Jonathan deu um longo suspiro e sentou ao lado dele, puxando-o para perto de si.

— Não é nosso problema — ele deu de ombros — Se eles querem brigar como duas crianças, então que briguem, a gente não devia se importar com isso, não estamos fazendo nada de errado.

Vicente assentiu e se agarrou ao braço dele.

— Eu sei disso, eu só... só fico triste porque não queria que as coisas fossem desse jeito — refletiu — Mas não vamos mais pensar sobre isso, vamos dar uma volta? O dia parece bonito.

Jonathan ficou surpreso com aquele pedido, achou que o namorado iria ficar deprimido o dia inteiro, então se animou. Ele se colocou de pé no mesmo instante e os dois saíram de mãos dadas para ver o que tinha para comer no café da manhã daquele hotel. Eles deram uma olhada no buffet, porém nada ali parecia seguro para comer, por isso decidiram caminhar até a cidade e procurar por uma padaria. Eles nem sabiam ao certo onde estavam, mas isso não importava. Estava tão sereno e agradável que andaram de mãos dadas por um longo tempo até finalmente chegarem a um pequeno centro. Havia uma padaria pequena que parecia ter coisas gostosas, por isso Vicente ficou animado e carregou o namorado para dentro. Jonathan não era do tipo que comia de manhã, ainda mais doces, então pediu apenas um café. Enquanto isso, o outro pegou bolo, um croissant e um copo grande de suco de laranja e se deleitou. Ao vê-lo ali comendo cheio de alegria, sentiu como se não houvesse nada de ruim no mundo.

Depois do café da manhã, eles foram andar pela pequena cidade. Vicente viu uma loja de artesanatos e ficou interessado, o outro não ligava para coisas assim, porém já tinha sido puxado para dentro. Tudo o que Vicente via ele apontava e mostrava com empolgação, até as coisas mais simples e sem graça. Parecia que o mundo pelos olhos dele era muito mais bonito, como se ele visse magia até nas pequenas coisas. Para alguém que era o oposto disso, Jonathan não podia deixar de se sentir curioso por cada coisinha sobre ele.

— Ei, veja isso!

Vicente o carregou até a vitrine de um brechó ao lado da loja de artesanatos e apontou para uma câmera digital que estava à venda por um preço barato. Eles tinham uma boa quantia em dinheiro que a senhora Belchior havia dado, claro que não era para comprar uma câmera, porém de repente ele estava com vontade de congelar alguns momentos.

— Devíamos comprar? — Jonathan perguntou, parecia que suas mentes estavam conectadas.

Sem pensar muito sobre isso, eles entraram no brechó e pagaram pela câmera. Depois disso, correram para o lado de fora para tirar fotos juntos por todos os cantos. O bom de estarem em uma cidade pequena onde ninguém os conhecia era que podiam fazer o que queriam que ninguém dava atenção, então estavam como dois bobos fazendo caretas e poses esquisitas enquanto riam de absolutamente todas as fotos ali. Jonathan pensou que teria que imprimir todas elas e colocar na parede do quarto — ele só não sabia de qual quarto iria ser.