O primeiro pedido de namoro que Vicente recebeu na vida

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A sala de aula estava uma bagunça naquela manhã de segunda-feira. Vicente e suas amigas tinham acabado de receber suas provas de matemática e estavam eufóricos comparando os resultados — dessa vez Melissa tinha gabaritado e estava se gabando. No fundo da sala, no entanto, o clima estava bem diferente. Jonathan tinha conseguido ficar na média por um milagre, Kevin tinha tirado metade da nota máxima e Jesse estava levando sermão do professor porque tinha zerado a prova e corria risco sério de repetir o ano. Os olhos de Melissa tinham capturado aquela cena e ela ficou refletindo por um tempo antes de decidir levantar e ir até a mesa dele quando ele sentou derrotado.

— Eu posso te ensinar.

— Hum? — Jesse nem estava raciocinando direito depois de ver aquela nota tão baixa.

— Você precisa tirar uma nota alta na recuperação — ela explicou um pouco envergonhada — Eu posso te ensinar.

Ele a encarou um tanto surpreso.

— E o que você vai querer em troca?

Melissa balançou a cabeça.

— Não sou esse tipo de garota, não preciso de nada de você.

Dito isso, ela jogou os cabelos e saiu andando cheia de pose. Jesse estava realmente surpreso com aquela atitude, porém também havia um sorrisinho bobo no canto de seus lábios.





Depois que as coisas tinham ficado mais calmas, o pai de Vicente concordou que não havia mais motivo para sair do trabalho e buscá-lo na escola todos os dias, assim retomaram o combinado de que ele voltaria a pé com Jonathan, o que para ambos foi maravilhoso. Naquela segunda-feira, eles estavam caminhando lado a lado sem pressa nenhuma de chegar em casa.

— Podíamos fazer a maquete de biologia juntos — Vicente sugeriu de repente — É um trabalho individual, mas podemos ajudar um ao outro.

O outro o encarou confuso.

— Qual maquete?

— Não acredito que você estava dormindo na aula de novo — Vicente o empurrou com o ombro e riu — Temos que fazer uma maquete da estrutura de uma célula.

Jonathan enrugou a testa e sua expressão ficou feia como a de alguém que tinha ouvido o maior absurdo do mundo.

— Esse é o tipo de coisa que posso pedir para o meu pai para fazer para mim...

— Então você vai perder a oportunidade de ficar mais tempo comigo? Tudo bem — Vicente fez um bico e saiu andando na frente.

— Ei, eu não disse isso — Jonathan o alcançou e o pegou pela mão, por sorte estavam sozinhos naquela rua — Eu disse que posso pedir ao meu pai, não que eu vou fazer isso.

Vicente o encarou e balançou a cabeça, mas achou que era melhor não discutir. Os dois então caminharam até uma pracinha vazia próxima de onde estavam e sentaram no balanço vermelho e descascado repleto de pichações de canetinha. Fazia um dia tão agradável que nenhum deles estava com vontade de ir para casa agora. Assim, Vicente puxou seu caderno e começou a tomar nota das coisas que deveriam comprar na papelaria para a maquete, enquanto Jonathan puxou o maço de cigarros do bolso, prendeu um entre os lábios e o acendeu. Foi só quando sentiu a fumaça que o outro se virou e o encarou.

— Você precisa fazer isso o tempo todo?

— A fumaça te incomoda? Eu posso ir fumar do outro lado — ele apontou para a frente.

Primeiro amor na casa ao ladoWhere stories live. Discover now