BEM VINDO AO DVH, PORQUINHO

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O que acontecem com os mortos numa cidade em plena crise econômica, criminal e com problemas políticos? Quando não há mais espaço para enterros e para lágrimas reais em meio à tanta violência e fome, entra o DVH. Confiem em nossos serviços, pois não precisará se preocupar com corpos e restos humanos esparramados pelas ruas, limparemos tudo e nada será desperdiçado. Você não sabia? A comida que você compra no supermercado possui pelo menos 0,001% de humano na composição, numa procedência de mil produtos para cada lote. Ou mesmo, sabia que 1% da compostagem dos produtos agrícolas, possuem ser humano na composição? Pois é. E isso tudo é graças aos esforços dos valentes trabalhadores do DVH em sua função de garantir uma cidade limpa e livre da violência.Não recomendado para menores de 18 anos: contém violência explícita, gore, exposição de cadáveres, linguagem imprópria e sexual, drogas ilícitas, aviso de gatilho para ansiedade e depressão.

Créditos para divisórias de capítulo:  @Ju_Lia__

Esse homem branco, de terno e calça pretos com uma gravata cinza, o cabelo em topete pontudo preto, barba-por-fazer e esses óculos de armação redonda escura... sorridente e otimista, é o jovem Chuck Pallanelluck. Tem 27 anos, trabalha como contador da empresa 010110100, tem seguro social, mora num apartamento comum, dirige um carro compacto elétrico comum, e tem um fuzil SIG SG 550 na sua estante, a qual frequenta um estande de tiro semanalmente.

Ele sai para trabalhar todos os dias, pela cidade de Hollowpointtown, passando pelos mais diversos lugares estranhos da cidade. Ele sempre estaciona em frente à porta da empresa, pois era um funcionário de confiança. E sempre dividia o elevador coincidentemente com sua colega de trabalho do R.H. Cindy Howlling, terno vermelho, sem gravata, o cabelo escovado liso preso num coque, pés-de-galinha, óculos de armação-gato... para baixo e rotineira. Tem 32 anos, seguro social atrasado, mora num apartamento de nível baixo, vai de trem todo dia de manhã bem cedo, e costuma andar com um revólver .38 na sua bolsa em casos de emergências. As emergências que fazem nosso trabalho rodar.

Nosso trabalho nunca acaba, não tem limites para o que deve ser feito em nome da saúde e higiene pública. Todos os lugares, todas as horas do dia, todos os dias da semana.

Puxa vida, a senhorita Howlling atirou contra o jovem Pallanelluk no banheiro, três vezes, atirou no baço, no coração e no estômago, ele sangrou por dez minutos antes de finalmente ter uma falência total. Até esse momento, os guardas renderam a senhorita Howlling, retirando sua arma de suas mãos em prantos e levando o corpo do jovem Pallanelluk para a emergência. E então que nós, do departamento de vestígios humanos, entramos em ação.

Os funcionários presentes no local, devem por protocolo, ligar para o serviço de emergência mais próximo.

- Alô, aqui é o guarda do prédio 01011001. Décimo andar, estamos com um protocolo laranja-traço-06* possível traço-07* aqui. -
- Alô, aqui é da emergência, já temos o endereço identificado. Nome da vítima e número de serviço social? -

Esse número é obtido por um scaner ocular que todos os guardas, agentes da justiça e militares devem portar. Com o scaner, é possível obter esse código de seis dígitos e um traço de dois dígitos.

- 65-987600... -
- Muito obrigada... iremos levar o departamento de reciclagem para sua posição, disponha o corpo para coleta em um lugar sutil e não permita que estranhos o vejam. -
- Conheço os protocolos... -

Nada de câmeras, nem vazamentos, identificação não-profissional ou de não-parentes. Mesmo parentes não devem vazar nada sobre o corpo até ser reciclado, e o autor do crime, até o corpo ser reciclado, se for pego, deverá ficar sob vigilância, voto de silêncio e custódia por pressão. Nesse caso, as autoridades vieram, e isolaram o banheiro, algemando a senhorita Holling no mictório até serem atualizados da situação. Os policiais entraram no prédio sutilmente com pouca vista ou atração de público indesejável, e deverão levá-la igualmente sutis.

Os agentes do departamento chegam com sua maca, geralmente três ou quatro por vez, dois carregadores e um assistente-vigilante (geralmente o único que anda armado com porretes ou bastões elétricos). Todos perfeitamente parlamentados e com sua identidade protegida. A única coisa que pode a revelar são seus documentos ou seus olhos.
Eles põem o jovem Pallanelluk na tal maca e o conduzem até a van de extração do departamento. São raros os momentos em que se necessite de um veículo maior. Uma van em operações comuns está de bom tamanho.

Logo, o corpo do jovem Pallanelluk é despido dentro da van, e seu corpo é envolvido em um plástico não-transparente laranja. E é lá dentro do departamento, que a mágica acontece.

DEPARTAMENTO DE VESTÍGIOS HUMANOS

*Protocolo para fatalidade à tiros por um atirador não quantificado (traço-06), e para fatalidade à tiros por um atirador dolosos (traço-07).*

DEPARTAMENTO DE VESTÍGIOS HUMANOSWhere stories live. Discover now