13 - BEAST WITH NO DORMATION

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09 de maio de 2085, 11:45am. Sala dos supervisores, Departamento de Vestígios Humanos, Hollowpointtown.

Harvey se sentia um animal louco.

Faziam mais de dez meses que não ia para a sala dos supervisores, Harvey até tinha esquecido do cheiro horroroso de cigarro barato terráqueo e da aparência velha do supervisor que a contratou.

Estava tonta, os dentes doíam, sempre doíam, estavam sempre, sempre doendo. Dor o tempo inteiro, mal conseguia prestar atenção no ambiente à sua volta. Só não doía quando bebia, e bebia o suficiente para não lembrar das sensações pervertidas que cruzavam sua mente quando fazia coisas... coisas imperdoáveis. Coisas com alicates, maçaricos, revólveres e com um pouco de força nos punhos.

O seu supervisor estava sentado na sua mesa, cortou a barba, alisou o cabelo e comprou um óculos novo. Estava com uma camiseta de flanela e um implante biônico no queixo, soube que entrou numa briga com a ex-mulher, ela bateu nele com um abajur e agora estava em perseguição pela polícia por extorsão, lavagem de dinheiro, violência, invasão de domicílio e teorizam que ela possa ter matado a própria irmã.

Estava ele, o supervisor com uma cara indistinguível para os olhos latejantes e um tanto perdidos de Harvey Ressacada, era o apelido que escutava nas ruas. Hoje veio com sua jaqueta militar, dada de presente por seu pai, por cima de um baby look cortado ao meio, expondo sua barriga cheia de cicatrizes pequenas mais visíveis, e um pouco de seu sutiã vermelho, e com uma calça de moletom qualquer com seis manchas de seis cafés da manhã (ou da noite?), e tênis pretos comuns sem marca, comprou de uma mendiga.

Estava puto. Era uma definição fácil e de quatro letras. Puto, puto, puto, puto... muito mas muito puto, e com um curativo no nariz, puto. Mas muito muito puto. Muito puto mesmo. Era visível pela maneira como pronunciava as palavras com a boca rasgando o rosto para baixo e o nariz queimando os olhos sob os óculos. Não escutava nada, entrava por um ouvido e saía pelo mesmo, nem passava pelo outro.

- Harvey! Caralho! -
- Oi? Não escutei. -
- Porra! Eu tô falando há uma hora, cacete! -

Era uma hipérbole, mas era possível. A vodka cheirava de sua boca e escorria por um suor límpido de uísque quente e sua pele brilhava com uma luz forte ofuscante. Não estava mais enxergando direito com o olho direito, achava que estava com câncer no olho, mas era só um astigmatismo, usaria óculos e ficaria tudo bem. Sempre que algo doía muito, não funcionava direito em seu corpo ou sempre demorava pra funcionar, já pensava que estava com outro câncer. Pensou consigo, já teve câncer de pulmão, o que a impediria de ter outros?

- Harvey!!! -
- Oi... éh... tô ouvindo agora... eu acho que posso ter câncer no cu. Sabe. -
- É o quê? Não fode! Éh... enfim. ... tá... vamos recomeçar... -
- Tá. -
- Bem, que tal começarmos com sua ausência constante?! Hum? -

Pensava nas razões de ter faltado o serviço nos últimos dias, além de ter sido responsável pela morte fria de uma das suas colegas. Não gostava do ambiente, parecia um funeral silencioso disfarçado de jogo de cartas e sexo cabuloso. Não via razão para trabalhar lá e sorrir, nem mesmo nas pausas para o almoço com Fresna, onde faziam coisas que só podiam ser definidas em um verbo.

Foder.

- Você tá querendo me foder mesmo, né? Vamos falar da sua aparência ruim? Do seu comportamento lascivo com as funcionárias? Está sempre com um cheiro de vômito e bebida destilada. Os outros funcionários tem medo de você... acham que você vai machucar eles. -

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⏰ Last updated: Oct 06, 2023 ⏰

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DEPARTAMENTO DE VESTÍGIOS HUMANOSWhere stories live. Discover now