6 - A NOITE DOS DORMENTES VIVOS

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15 de fevereiro de 2085, 05:45am. Bairro Lar  er M ggie,  ua Norm    Alle n, Lados de Baixo, Hollowpointtown, Nova Iorque.

Houve um ataque zumbi. É como chamam. Não são de fato zumbis, como nos filmes e jogos.

Alguns demonicistas depois que morrem começam à manifestar sua energia pelo seu corpo morto por algum tempo, isso varia com o tempo, pode ser algumas horas ou anos depois da morte. Mas às vezes, acontece disso durar e afetar mais mortos ao mesmo tempo do que de costume.

Os regressados - como realmente se chamam -, não transformam os outros em regressados também com mordidas nem nada, e eles não buscam comer carne humana. Eles apenas ficam andando sem rumo como mortos-vivos desesperados atrás de algo que a morte não lhes entregou. Mas no fim, é como uma greve dos mortos, mas sem as mudanças políticas.

Existe todo um sensacionalismo em torno dessas criaturas bizarras, mas a realidade se prova pouco palatável ao lembrar que existe um foco inteiro desses mortos nos Lados de Baixo da cidade, o lugar das placas apagadas, prédios abandonados e esgotos à céu aberto. Muitos lá embaixo já morreram e não foram nunca resgatados ou tiveram a chance de ser coletados. Saindo dos becos profundos, das fábricas abandonadas, dos fundos dos apartamentos velhos, nas ruas apertadas e esquecidas.

Mortos pendurados e empilhados pelas ruas com resquícios suaves de vida extrapolando por seus corpos. Mas hoje era um dia histórico. Pela primeira vez em pelo menos onze meses, iriam precisar de não um, não dois, mas dezoito caminhões para fazer o trabalho todo. Haviam mais de 2 mil corpos de mortos-vivos espalhados por toda região, a maioria já estava morto há mais de um mês, haviam alguns recentes, e uns velhos espalhados. Vítimas das mais diversas mortes.

Kassie, Richer e Fresna estavam dispersas por aqueles lados escuros da cidade, se perdeu delas, devem estar por aí. Mas não podia tirar a máscara e nem parar nem por um segundo. Precisava pegar os corpos e enfiar no caminhão o mais rápido possível. Havia a ajuda de outros colegas do departamento, uns vinte deles para pegar os corpos. Estavam por todos os lugares, em cima dos carros, pelas calçadas, caídos nas lixeiras, estirados pela rua, atropelados, alguns até foram baleados por extremistas que acreditavam nas mídias audiovisuais.

Ela chegou à levar quarenta e oito cadáveres a manhã inteira, estavam acompanhados da polícia e umas equipes de reportagem. Os mortos-vivos estavam fracos demais para reagirem à qualquer coisa, então mesmo rosnando, babando e gemendo, eles não reagiam ao contato dos agentes do departamento. Eram levados e empilhados no caminhão rosnando, babando e gemendo mesmo. Era bizarro para ela levar corpos de mortos-vivos, mas era o protocolo, todos eles seriam convertidos em adubo.

O lugar e sua atmosfera escura reluzindo pelas lâmpadas velhas dos postes através daqueles carros velhos cobertos de uma terra escura artificial que caía dos tetos dos prédios que formavam o teto dos Lados de Baixo. Por onde olhava, haviam corpos sendo levados. Os poucos agentes que andavam com porretes precisavam segurar a paciência, estavam sendo bombardeados por latas vazias de bebidas e lixo orgânico dos moradores locais.

Ela chegou à levar um morto-vivo de quase cinco anos, ele estava tão pútrido e quebradiço que precisaram trazer uma maca, se não, não iriam aproveitar nada do corpo. Os outros estavam sendo levados nas mãos mesmo. Poucas macas por vez, precisavam estar todos no caminhão o mais rápido possível, e não havia tempo para pôr todos nas macas. O corpo de cinco anos se desmanchava numa cadeia de fibras esverdeadas mofadas repletas de crateras onde larvas passaram, e emitia um tom de preto profundo de um estágio da morte além da natureza, era repulsivo de se sentir, mesmo que com o traje. Um cheiro mortiço incontestável e repleto de ânsias de vômito, uma dor similar à dor de dente, uma agonia parecida com a morte com tiro no estômago.

DEPARTAMENTO DE VESTÍGIOS HUMANOSOnde histórias criam vida. Descubra agora