9 - O FALCÃO SONOLÊS

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25 de fevereiro de 2085, 16:32pm. Autoestrada Lex 34, condado de Zemecks, Nova Iorque.

O trabalho da Morte era um tanto distinto. Antes de começar à o realizar, passou numa ferragem para pegar os seguintes itens...
Passou por corredores extensos, todos num tom muito claro, afim de ser impossível de se confundir na hora de escolher o produto.

Pegou luvas de proteção para 5000 volts, uma pá, um martelo sem dentes, uma máscara de respiração, 1 metro de mangueiras de borracha de 20mm, uma caixa de pregos, um caixote de madeira de 1 metro de comprimento por 40 centímetros de altura por 50 centímetros de largura; um avental de proteção e umas sete bolsas de plástico impermeáveis. Pensou em levar uma motosserra também, caso o martelo não funcionasse. Levou mesmo assim.

Pôs tudo numa bolsa de lona, menos a caixa, a qual pôs no porta-malas do carro que Pitchie lhe emprestou, o mesmo que Sabbath atropelou o dono de seu antigo apartamento. A mesma caminhonete elétrica quadrada. Estava prestes à sair da cidade no seu dia de folga, para a tal missão da dona Morte. Ainda estava nos centros chuvosos e repletos de metais, era a última imagem que teve da cidade antes de sair finalmente para voltar em poucas horas depois.

Estava na estrada haviam vinte minutos, se afastando de forma considerável da cidade, ao ponto de nem conseguir mais ver a cúpula da cidade à distância. Demorou quinze minutos para não conseguir mais a ver. À esse ponto, na região em que estava, via diversos e amplos campos intermináveis de agricultura, plantas maiores do que casas, maquinários gigantes e autômatos tão altos quanto. Torres de irrigação maiores do que torres de comunicação.

Em dado momento conseguia ver os limites das cercas e as placas de proibido entrar sem autorização. Eram locais de suma responsabilidade, quilômetros e mais quilômetros de estufas repletas de alimentos e conservantes biológicos naturais. Alimentos elevados e repletos de toxicidade. Quilômetros disso.

Um céu azul limpo, não via há tempos. Os céus dos planetas de Alpha Centauri eram rosa, devido ao hélio na atmosfera. Mas esse céu azul limpo, era raro de se ver. Por um momento, perdeu o céu riscado por nuvens de fumaça densas que saíam do topo da cúpula e choviam ácido pelas barragens externas. A comida estava envenenada, e comiam mesmo assim.

Os carros eram ligeiros e sem paciência, via também os caminhões autômatos correndo pelas faixas em velocidades surpreendentes. Eles não paravam, e buzinavam à partir de 100 metros de um objeto à sua frente. O trânsito era um estresse para quem não sabia dessa programação estranha dos robôs-caminhões.

Conseguiu avistar por um instante a estação espacial orbital onde ficavam os geradores de portais para Marte e para outros planetas e luas. Era gigantesco, ocupava uma parte do céu que podia ser usada para outras coisas, mas ficava fosco, escapulindo nas nuvens de hidrogênio, como uma miragem estranha e sem sentido. Via pequenos pontos brilhantes sumirem na atmosfera como um risco num quadro branco apagado. Espaçonaves saindo da Terra em velocidades muito acima da luz através da distorção espacial por matéria escura ou alguma sacanagem assim que você vê em documentários da TV.

Passaram-se uma hora e vinte de direção, estava seguindo as instruções da Morte, e já estava adentrando um enorme deserto de estações de fraturamento. Nada além de pedras e maquinários de extração de petróleo e gás natural por meio do tal processo de fraturamento.
Máquinas enormes e repletas de dor por onde quer que se olhasse.

Um deserto alaranjado sem nenhuma distinção real e um senso morto. Não era quente, ainda havia vida em alguns lugares, mas era morto em sua extensão e complexidade geral. Era oco e mecânico. Via um pouco de lama subindo para a estrada, essa lama vinha das máquinas perfuradoras em épocas de chuvas muito fortes.

DEPARTAMENTO DE VESTÍGIOS HUMANOSWhere stories live. Discover now