10 - DISQUE D PARA DORMIR

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01 de março de 2085, 17:45pm. Restaurante Lender 24 horas, bairro Mourigan Cheng, distrito residencial externo 14, Hollowpointtown.

As horas do dia ficaram um tanto lentas e dispersas.
O restaurante estava sob supervisão do fórum sanitário.
Mesas xadrez brancas e vermelhas, num aspecto de flanela.
A TV emitia uma estática fina e prolongada, não era nova.
O programa irritava os ouvidos de Harvey com seu café.

Fresna estava ao seu lado, com um cheeseburguer pela metade.
Usava um sobretudo preto enorme, cobrindo todo o corpo.
Um batom vermelho suave que sumia nas mordidas.
Um relógio de prata com acabamento de lítio.
Exibia seu nariz com orgulho e fôlego.

Pensava em dizer algo.
Uma ideia, uma boa declaração.
Mas nada saía, sua mente estava fraca.
Seu espírito estava escorrendo pelas beiradas.
E um capuz se fechou sobre sua cabeça, da sua jaqueta.

À sua frente, Kassie bebia um milkshake light com batata frita.
Andava com um suéter rosa fordo aquecido e reluzente.
A boca estava com um corte transversal, dor, dor.
E seu nariz vazava o tempo inteiro sem fim.
Os olhos não ficavam abertos.

Harvey não conseguia mais aguentar sua agonia.
Não dormia bem haviam vinte e cinco noites inteiras.
As noites estavam ficando prolongadas e cheiros apareciam.
Tomava banhos cautelosos e comia todo tipo de besteira.
Enchia seu corpo com soníferos, mas nada parecia...

Seus dentes de trás doíam, não paravam.
Ah, e como doíam, latejando na boca.
Passava a língua e a língua doía.
A dor não ia embora nunca.
Queria levar um soco.

A garçonete trouxe a segunda xícara de café da novata.
Richer se demitiu do departamento há uma semana atrás.
A última vez que a viram, estava no hospital em estado crítico.
O nariz saiu do lugar e o queixo quebrou em dois lugares.
As duas mãos foram quebradas em sete lugares.
 E suas costelas furavam seus órgãos.

A novata era parecida com Richer.
Mas seu cabelo era ruivo e mais curto.
Sua aparência era mais saudável e jovem.
E estava sempre vestida como uma intelectual.
Terninhos, gravatas, saiotes e botas de camurça altas.

Era de origem mexicana ao que disseram.
Agora o grupo se tornou totalmente "do bairro".
Richer não era do bairro, morava em outro distrito.
Agora todo o grupo era composto por moradores locais.
O nome da novata é Heinídia Lavina, mas seu apelido era "Hei".

Comia uma tigela de macarrão com frango.
Suave e cheiroso. Macarrão com café, estava louca.
O ambiente refletia sobre elas um tom de roxo distinto.
O som da estática da TV se somava à chuva artificial.
E criava uma tensa gama de sonoridades únicas.

Fresna cutucou seu pé com o dela com leveza.
Depois o deixou ali encostado, um tanto trêmulo.
Ela não dizia nada, nem fazia muito mais além disso.
Mas Harvey sentia uma energia única vindo desse momento.
Se apoiou na mesa com a mão baixa, e tentou pegar seu joelho.

Ela arrepiou um pouco, sua calça era apertada e firme.
Então tocar seu joelho era quase como tocar sua perna crua.
Olhou para o lado, e buscou ares para dizer qualquer coisa à Harvey.
Harvey não conseguia sorrir, seus dentes estavam doendo demais.
Mas buscava tentar tentar um sorriso com seus lábios tremidos.

- Hei... você trabalhou na equipe 10... e...? -
- 19... substituí uma motorista que acabou sendo internada na equipe 30 também. E vocês? -
- Eu... já trabalhei na equipe 31... uns quatro anos atrás eu já fiz parte do DVH do bairro Livingwood, umas vinte quadras daqui. -
- Hum... e você, Fresna? -
- Eu? O que tem eu? -
- Quais outras equipes você trabalhou? -

DEPARTAMENTO DE VESTÍGIOS HUMANOSحيث تعيش القصص. اكتشف الآن