Capítulo 1.

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Apesar de passar metade da noite acordada lendo um dos livros de fantasia — meu gênero preferido — que consegui comprar em uma das minhas escapadas para a capital, contidos na pequena estante, estava empolgada demais para dormir mesmo sabendo que acordaria antes de o sol raiar como é costume na Guilda das assassinas Flowing Blood. Não demorou para que Marion entrasse em meu quarto avisando com um timbre mais afável que o de minha mãe que o desjejum seria servido em vinte minutos, sorri e assenti começando a me arrumar, pontualidade é uma das principais regras, quebrá-las gera consequências diferentes, mas uma é sempre pior que a outra. Sei por experiência própria. Marion é como uma segunda mãe para mim, pois não sei o motivo, mas a verdadeira se mantém distante desde que me lembro. Coloco um dos conjuntos negros semelhantes em meu armário prendendo o cabelo castanho avermelhado, em um coque, ele acabou ficando meio frouxo mas, acho que já serviria. Terminando o desjejum fui para o hall, várias meninas se agruparam, quando Marion surgiu e indicou que a seguíssemos, fomos repartidas em dois grupos ocupando salas de treinamento semelhantes com paredes marrom fuligem e piso de mármore negro, era praticamente um retângulo um pouco mais alargado, havia alguns alteres espalhados e sacos de areia pendurados no teto.

A mulher de cabelos castanhos com mechas caramelo, nos instruiu explicando o cronograma, primeiro nos alongaríamos, depois um grupo seria responsável por exercícios com os alteres de 6 kg enquanto as outras treinariam golpes com os sacos de pancadas, e a cada quarenta minutos deveríamos trocar e somente a tarde as mais novas — como eu — começariam o treinamento de luta com armas. Marion demonstrou a sequência de seis golpes e dois chutes, comecei meu treinamento obedientemente, a rotina era praticamente a mesma todos os dias sendo assim apesar de magra meus músculos já haviam se acostumado. Duas horas se passaram e por mais que até meus ossos reclamassem do esforço além de já ter perdido metade da água em meu corpo, me mantive firme com as repetições e revezamento sem deixar nenhuma palavra escapar de minha boca, algumas costumavam reclamar por causa do esforço, porém eu preferia me manter quieta, pois de nada adiantaria na verdade somente corria o risco dos treinos dobrarem.

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Como o dia estava particularmente fresco para uma tarde de Primavera nossa treinadora decidiu mover o embate corpo a corpo para o lado de fora, obviamente fiz parceria com Nemain, obviamente, a garota de cabelos cinzentos é somente alguns anos mais velha que eu e por isso razoavelmente mais experiente. Conduzimo-nos para um espaço vazio levando conosco dois pequenos bastões de luta, ainda não poderíamos praticar com armas afiadas, pelo menos não até aprendermos a manusear corretamente. Ela se movia com agilidade parecendo uma simples dança com giros e o som das madeiras se chocando era a música, eu tentava bloquear o máximo dos golpes protegendo as partes mais vulneráveis de meu corpo chegando a esquecer de atacar também, mas só conseguia poucas vezes antes de acabar de bunda no chão, na décima vez já estava dolorida e ignorando a possibilidade de alguém estar me olhando, deito no solo esticada com os braços abertos, Nemain gargalha.

— Pare de ser molenga. — Disse chutando de leve meu calcanhar. — O treinamento mal começou e já está desistindo?

— Fala assim porque não é você que está com os ossos da bunda doendo.

— Desistir fácil não é seu estilo.

— Não estou desistindo, mas é difícil, você é bem mais experiente. — Choramingo.

— Tem razão, e é exatamente por isso que eu sou sua parceira, você não vai ser uma assassina talentosa se não treinar com pessoas mais habilidosas que você. — Nemain estendeu a mão, olhei para ela e bufei, mas aceitei a ajuda para me levantar. — Vamos começar do início, acompanhe meus movimentos.

Imitei sua posição de ataque seguindo seus passos como se fosse uma sombra, realmente não parecia muito difícil tirando o jogo de pés que se não fosse cuidadosa podia tropeçar, treinamos nesse estilo por meia hora até Nemain decidir que já estava pronta para tentar lutar outra vez. A assassina prateada tentou acertar minha cabeça com um dos bastões, mas bloquei a tempo no mesmo instante que protegia minha lateral com o outro, seu sorriso de lado denunciou que era exatamente o que queria que fizesse, arregalei os olhos notando tarde demais que havia deixado minha barriga vulnerável, com um movimento rápido seu joelho me acertou, não com muita força, mas o suficiente para me fazer cambalear.

— Primeira lição, descubra os pontos fracos do seu inimigo e preveja os golpes antes de fazer um movimento.

Tentei novamente, mas ela consegue me derrubar facilmente.

— Não tenha pressa, use tudo o que tiver a seu favor.

Nemain se posiciona, porém dessa vez não espero que ataque, ela é bastante rápida, mas eu sou menor. Nossos bastões se chocam e o som reverbera em meus ouvidos, a arte de lutar é praticamente uma dança, enquanto ela tenta me abater apenas esquivo me movimentando com velocidade e agilidade usando os bastões quando realmente necessário.

— Está melhorando, vamos descansar um pouco.

Assenti, pois as palavras ainda estavam presas na garganta, a acompanhei até o pé de uma árvore próxima sentando com as pernas esticadas, ela me deu uma garrafa de água sorvendo de um grande gole da própria, faço o mesmo.

— Se continuar assim será uma ótima assassina.

— Com certeza serei e ainda vou te superar.

Ela ri.

— Não tenho tanta certeza quanto a isso, mas pode tentar.

Terminamos o rápido intervalo e nos posicionamos na arena imaginaria. Mesmo não tendo os anos de experiência como minha adversária, eu iria me esforçar para derrubá-la apenas uma vez, a assassina também possui reflexos afiados, pois desvia com facilidade dos golpes, me lanço mais uma vez contra sua defesa e como esperado ela bloqueia o ataque com os bastões cruzados me empurrando para longe, a assassina nem esperou que me recuperasse antes de agir. Nemain realiza os mesmos movimentos de antes como um teste, porém antes que seu joelho encontre meu estômago indefeso, desfaço a posição defensiva com os bastões recolhendo os braços e dobrando os joelhos antes de me impulsionar para passar por debaixo de suas pernas, por um momento minha parceira de luta fica desestabilizada e, sua reação proporcionou tempo suficiente para atacar uma das pernas fazendo seu equilíbrio desestabilizar, imóvel, a seguro por trás pressionando em cruz os dois bastões em seu pescoço como se fossem lâminas gêmeas.

Esboço um sorriso abandonando a posição final voltando para o próximo ataque, terceira lição, busque desestabilizar o inimigo. Nos estendemos até o sol desaparecer e dar lugar ao entardecer manchado de lilás, laranja e amarelo. Em pouco tempo eu já estava muito melhor em lutas corpo a corpo e ouso dizer que até mais hábil que algumas garotas mais velhas, acordava antes do sol nascer sem falhar nenhum dia de treinamento, ficava até o anoitecer ignorando os membros reclamarem em protesto, sob sol ou chuva. Para cumprir minha meta de me tornar a melhor, e superar minha irmã, não mediria esforços, ser incrivelmente competitiva tem seu lado bom.

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