Capítulo 7.

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 — Aguarda por Hellas? —Lysina Deadlyax se aproximou com cautela, ela parecia estar mais dócil, sua voz adocicada me deixava até enjoada.

— Talvez. —Continuo focada apenas na arena.

— Uma fera encantadora. —Ela havia escolhido um macho quadrupede da classe Brave com escamas vermelhas tom de tomate. — Creio que o Gladiatrix será um grande desafio para ambas.

— Dispenso conversas alheias.

Lysina assentiu volvendo sua atenção somente para o poço e no mesmo momento o reprodutor surgiu, rugindo para a multidão.

— Boa sorte com aquela fera, ele não parece ser uma montaria adequada e tamanho não garantirá a vitória.

Magnífico. Logo depois outro dragão de aparência mais arredondada e da mesma classe, com cicatrizes diversas espalhadas por sua couraça, com a asa deformada e sendo de tamanho menor que Hellas — adentrou a arena, ela estava um pouco mais forte que as presas anteriores o que renderia uma luta um pouco mais interessante.

As criaturas rugiram uma para outra se rodeando. O reprodutor não esperou por aprovação antes de atacar a caça, ou melhor, o macho usado apenas para que seu inimigo demonstrasse suas habilidades, força extrema e não um poder único, golpeando com a cauda. A besta pequenina se abaixou com agilidade surpreendente como se sentisse o ataque do reprodutor, erguendo a cauda e ameaçando acertar a cara de Hellas, ele não pareceu muito amedrontado, pois ainda tentava encurralar a presa com dentes amostras, o dragão rosnou advertindo o inimigo dando passadas para trás mantendo uma razoável distância. Um capataz açoitou o portão de ferro fazendo o barulho distrair o dragão, dando liberdade para Hellas atacar, o animal já estava prestes a saltar sobre ele quando, rapidamente volveu o olhar acertando a bola de demolição no maxilar da fera, que mesmo desnorteado arranhou com a garra da asa seu flanco robusto.

Hellas continuou atacando sem parar, a isca não podia fazer muita coisa se não se esquivar e balançar sua clava óssea no ar para afastar o inimigo a fim de não ser morta. O capataz assobiou esperando que o grande wyvern recua-se como as bestas anteriores faziam, mas o animal continuou atacando, aparentemente seu instinto matador falava mais alto que qualquer comando dos adestradores, ele movia-se com a graciosidade fluida de uma indomada besta selvagem.

A isca gritou, e mesmo sem a olhar, poderia jurar que Lysina — que estava observando ao meu lado, havia se encolhido. Jamais ouvira um grito de dor de nenhum das feras mortais — parecia com o guincho de cachorro quando está ferido — mas, quando Hellas recuou, eu pude ver onde o animal o agredira — logo acima de um ferimento anterior que ainda não cicatrizara, no flanco da besta. Como se Hellas soubesse onde acertar para infligir mais dor, sabia que as criaturas eram inteligentes, mas quanto? O homem assobiou de novo, e um chicote soou. O reprodutor apenas continuou caminhando diante da isca, contemplando como atacaria. Não por estratégia. Não, queria saborear aquilo, queria provocar.

Estava maravilhada com a inteligência do animal e toda a brutalidade, já estava decidida, ele será meu, montar essa criatura e destroçar inimigos... Seremos imbatíveis.

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Algumas semanas depois da escolha da montaria eu me vejo arrependida de nem mesmo ter considerado o que Lysina falou, erro meu apenas por ela ser inimiga por causa da competição. Hellas era indomável de uma maneira muito ruim para mim, ele quase arrancou meu braço quando tentei tocá-lo e esse foi o contato mais próximo que consegui em dias, nenhuma das minhas Valkyries teve um problema desse nível com suas bestas. Obviamente é normal dificuldade com aproximação ou conseguir montar logo no início, mas isso é só até o animal se acostumar com a dona o que não dura semanas como Hellas, e isso poderia me prejudicar. Entretanto sinto como se o wyvern tivesse algum tipo de rancor apenas comigo, pois mesmo com dificuldade a ponto de precisar de mais capatazes, eles ainda conseguiam lidar com a fera.

Eu até ponderei sobre a hipótese de mudar de montaria, mas há duas complicações, primeiramente seria um motivo para falatório entre as outras Guildas, e em segundo; não havia nenhuma serpente alada restante. Estou em frente a baia de Hellas apenas o vendo rosnar e exibir os dentes para mim, apesar de ser chamada de baia o mais correto seria jaula, grades de metal parecidas com postes do chão ao teto impedem contato com uma tranca achatada de correr sendo a porta, fora essa precaução necessária o espaço é bastante amplo para o animal se sentir no mínimo confortável. Suspiro colocando a mão na face, nem sequer conseguia alimentá-lo direito sem correr risco de vida, essa situação não pode continuar ou serei banida da Guilda se não pior.

Ele olhou para o lado em postura defensiva, arisco, pronto para atacar quem chegasse perto das barras, Literean se posicionou ao meu lado com sua atenção no animal, eu havia descoberto o motivo do homem me parecer tão familiar, tinha o visto naquele bar com temática de taverna que geralmente frequentava em Montreal, mesmo tendo passado alguns anos ele não parecia ter envelhecido nem um pouco, mas ainda não entendi o motivo dele parecer tão interessado em mim naquele dia, e o fato de ser nosso instrutor... Parece coincidência demais.

— Se ao menos me permitisse aproximar...

— Deveria ter escolhido outra fera, essa classe tem uma péssima reputação.

Seu olhar não desvia da besta enquanto fala comigo.

— O que devo fazer?

Franzi a sobrancelha, aquele animal estava me dando nos nervos.

— Leve-o para a arena, ele precisa aprender quem manda. —Talvez fosse uma ideia insensata e bastante impulsiva, mas o que mais poderia fazer? Se isso não adiantasse para que ao menos possa montar... O instrutor das Flowing Blood engoliu em seco e não disse nada, porém assentiu devagar.

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Nemain me acompanhou até a porta de aço grosso da arena, Hellas já estava esperando do outro lado, foi preciso quinze capatazes para amordaçar sua boca e conseguir anestesiá-lo para que ficasse calmo e conduzi-lo para a montanha. Respiro fundo pegando um escudo da parede, minha irmã e imediata morde o lábio exterior evitando verbalizar a preocupação em seus olhos.

— Pare de se preocupar, não sou a melhor assassina da Guilda sem motivo.

— Isso jamais vai acontecer e sabe disso, mas não entrara lá para matar um Tyga. —Volvo o olhar para ela. — Certeza que quer fazer isso?

— Tem uma ideia melhor? Mesmo Ajax não se mostrou tão arisco.

— Deve haver alguma outra solução que não envolva ser devorada! —Reviro os olhos e coloco as mãos sobre seus ombros tentando a tranquilizar um pouco antes que eu acabe nervosa.

— Vai ficar tudo bem e se as coisas saírem do controle eu tenho minhas espadas e as Valkyries para me ajudar.

— Certo.

Ela finalmente cedeu se afastando da porta, as Valkyries observariam da plataforma junto do instrutor e de Marion, apertei o botão esperando a porta se erguer o suficiente para que possa passar, enquanto isso tentava controlar minha respiração e meus nervos. Encarei meu adversário com o olhar agressivo fixo, entrando devagar e fechando o portão em seguida, o escudo erguido era minha única arma no momento, pois não poderia arriscar ferir minha montaria. Agora não havia mais volta.

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