Capítulo 9.

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A luta não estava nada justa sendo que o dragão parecia muito cansado e machucado para aguentar um pouco mais, e eu não deveria me importar, pois poderia sobrar para mim, com certeza sobraria, e ainda estava com hematomas horríveis para encarar quatro aranhas gigantes cheias de venenos e talvez um dragão que ainda não sei as habilidades, mas também há a probabilidade de estar morto em alguns instantes. O animal já não aguentava lutar por muito mais tempo, desviando das garras felpudas e mandíbulas venenosas, atacando com a grossa cauda e investindo com mordidas, essa brincadeira estava acabando, pois as aracnídeas encurralarão a besta atacando com pouco tempo para que se recuperasse até que caísse no chão com um baque que fez o solo tremer.

A luta pela vida não era minha e não devia inferir no curso natural da vida, mas quando meus olhos recairão sobre os prateados do animal, cansados, estava assustada implorando silenciosamente por ajuda... Eu não vi uma besta cruel encarando-me, mas uma criatura gentil cuja alma refletia a minha — mesmo estando a uma distância considerável, e eu só sei que não podia abandonar essa fêmea a própria sorte.

Droga.

Engoli em seco e fiz uma careta antes de intervir, o barulho de meus passos chamaram a atenção das Acromântulas, e que a Escuridão não me levasse naquele momento. Li uma vez em um livro que há uma maneira de sair vivo de um encontro com elas, as aranhas costumam fazer negociações com os mortais por isso deveria oferecer algo que as agrade assim não devoram você, mas não é fácil ter agradá-las. Aproximo-me dos animais imensos me fazendo parecer uma mísera formiga, as palavras presas em minha garganta, não estava com medo só nervosa pela atitude totalmente louca e suicida por uma serpente alada selvagem, me posicionei entre o dragão desacordado e as quatro aranhas.

— Sinto lhes informar, mas esse animal está fora do cardápio!

Três delas riram, um som esganiçado semelhante há mãos arranhando um vidro.

— O que a faz pensar que pode dizer o que devemos ou não comer? —O aracnídeo debochou me olhando e estreitando os pequenos olhos medonhos. — Vai ser meu lanche primeiro, um aperitivo incomum em Ilynor antes do prato principal.

— Conversar com a comida é perda de tempo! —A jovem da direita exclamou avançando, imediatamente me coloquei em postura de ataque.

Uma perna peluda a impediu de concluir o ataque.

— Não se precipite, não é assim que fazemos negócios. —Falou aranha do centro com rouquidão, pelo visto era a matriarca delas.

— Qual o preço de vocês? —Criando coragem pergunto com a voz firme, pelo menos, o mais firme que consegui devido a situação.

Ela sorri, ou acho que sorri pelo menos e começa a cheirar o ar ao meu redor, forço meu corpo a se manter ereto. As quatro começam a me rodear.

— O que há dentro de você.

Esquerda.

— A mais poderosa magia que corre em suas veias.

Direita.

— De a nós e seu animalzinho pode viver. —Sibilou a quarta integrante que até agora estava silenciosa.

Gargalho.

— Vocês são loucas, sou uma Tyga. —Grito com convicção mesmo que eu mesma já tenha duvidado, mas elas não precisam saber disso.

— Você sabe que não é verdade, não sabe? Posso sentir o fedor da magia empregando.

Não respondo apenas engulo em seco.

— Estão blefando, não tenho magia!

— Então não há motivos para não nos dar.

Penso por um minuto já cedendo, elas, com certeza, estavam enganadas então não haveria problema já que eu sairia ganhando, mas pensando pelo lado lógico o único modo de tê-la seria a drenando junto do meu sangue me tornando uma casca seca nojenta no processo, além disso disseram que o animal sobreviveria, porém não falaram nada sobre eu sobreviver. Levantando a cabeça com seriedade, respondendo sua proposta.

— Oferta tentadora, mas prefiro o sangue circulando no meu corpo —Olho rapidamente para as quatro visualizando uma estratégia enquanto falo. — E vou conseguir o que quero de qualquer jeito mesmo, uma pena que tenha que ser do modo mais difícil.

Esboço um sorriso dissimulado, algumas situações pedem sarcasmo. Antes da reação de alguma das aranhas, me abaixo deslizando por baixo de suas patas pegando as facas de lançamento em meu cinto, passo as lâminas pela perna da matriarca, graças aos céus o solo estava um pouco barrento para funcionar conforme o planejado. Fico em pé com um salto e tentando ser o mais rápida que consigo contra as bestas corro na direção das árvores subindo em uma delas, as aranhas gigantes não demoram a me encontrar tentando me fazer cair com suas patas compridas, mal sabem que estão bem onde queria, arrumo o meu arco mirando nos olhos das Acromântulas, acerto uma flecha em cada aracnídeo que grita de dor. Sem medo, pulo em cima da mais velha montando-a e cravando minhas unhas nela, infelizmente não são afiadas o suficiente para me manter em cima do animal por muito tempo ainda mais quando está se remexe como um corcel arredio tentando me derrubar, com força o bastante para os nós de meus dedos ficarem brancos, seguro-me em seu pelo matagoso.

— Saia de cima de mim, aberração! —Ofegou enfurecida. — Ajudem-me, irmãs!

As outras se aproximaram, tentando me tirar e não atingir a irmã no processo, eu só me abaixar para evitar ser perfurada permanecendo no lugar me sentindo em um touro furioso dando pinotes.

— Pare de tentar, te daremos uma morte rápida.

Como se isso me fizesse parar de tentar lutar pela minha vida.

— Jamais!

Por mais que minha resposta fosse um grito de guerra, permanecer nessa posição era morte na certa, pois não demoraria para que não conseguisse mais me segurar no lugar, até mesmo as facas não suportariam e com várias investidas dos gravetos peludos mais cedo ou mais tarde eles iam me acertar. Muitas vezes tinha um sonho em que havia garras de ferro superafiadas e retrateis em minhas mãos, esse sonho era mais recorrente quando sentia uma raiva intensa que não podia deixar ser liberada ou tenho a impressão que poderia destruir quem quisesse.

Fechei os olhos desejando que aparecessem naquele momento, visualizando a coloração prateada, seu tamanho razoavelmente comprido e seu aspecto afiado.

— Verme, você e seu animal serão carniça! —Ela urrou com o timbre grave e rouco, a princípio nem percebi e depois pensei ser uma alucinação, mas era tudo completamente real, eu havia conseguido fazer elas surgir como mágica, por um milésimo de segundo o mundo havia parado para que pudesse deleitar o feito.

Porém esse momento durou pouco, pois ela continuava a se chacoalhar e pular, as outras três surgiram novamente para me empalar e com um movimento rápido desprendo uma de minhas garras da coluna da aranha mais velha rolando para sua lateral justo quando uma delas investiu com sua estaca peluda, mas como ajo mais rápido, ela crava fundo na pele da irmã chegando a atravessar. A aranha grunhe de dor lançando um olhar enfurecido a pata acabou por perfurar tão fundo que ficou presa, uma delas usou seu membro peludo para me tirar do couro de sua irmã que se debatia ainda presa à outra.

Acabo por ser arremessada para longe colidindo com tamanha força à árvore que sangue azul tão escuro quase negro escorre de minha têmpora, no entanto agora as duas brigavam entre si discutindo sobre uma ser incompetente demais e a outra não conseguir matar uma simples Tyga, ou seja, lá o que eu for. O problema era a mais nova enraivecida por serem feitas de bobas, ela vem em minha direção com tudo prestes a me atravessar, viro para o lado escapando por pouco tentando inutilmente golpeá-la com facas presas em meu cinto, porém ela impede jogando-as para longe de mim com um simples movimento da pata.

Escondo-me atrás de uma árvore para que possa atacá-la de surpresa, mas meu esforço foi em vão ela pressentiu minha presença se esquivando, a besta rasgou meu antebraço fazendo sangue enegrecido manchar o solo amargurado, as duas Acromântulas presas se libertam e agora me atacavam junto das outras, elas se esquivavam de minhas lâminas, assim como eu me esquivava de seus golpes mortais, sem dúvidas encontraria a Escuridão e ninguém nem ficaria sabendo.



Sangue ObscuroWhere stories live. Discover now