Capítulo 2.

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Por mostrar ser bastante capaz geralmente eu fazia missões solo quando não era necessário uma equipe, algumas pediam por isso, pois quanto menos gente mais chance de passar despercebida. A vítima da vez era um comerciante que estava fazendo transações proibidas ao ver da imperatriz, e como ele detinha de certa fama entre as pessoas tanto humanas quanto Tygas, sua prisão publicamente a mando da imperatriz poderia ser mal vista por alguns e resultar em discórdia, e é ai que as assassinas Flowing Blood entram, dessa forma a monarca consegue o que quer sem correr o risco de manchar seu governo. Era noite e estava chovendo sendo o momento perfeito para agir, pois havia poucas pessoas na rua que mal prestavam atenção ao redor, entrando em lojas de roupas ou calçados. Meu alvo morava em uma casa grande que mais parecia uma mansão, cercada por muros altos de pedras cobertas com folhagem, com apenas um impulso me segurei em uma planta colocando o pé no espaço sobrando entre duas pedras e em poucos segundos já tinha o ultrapassado caindo como um gato do outro lado, um relâmpago iluminou o céu, com meu uniforme todo preto, mascara negra cobrindo até meu nariz e um capuz da mesma cor. Pouco provável que alguém consiga notar minha presença ou o risco de morte iminente.

A janela do segundo piso estava entreaberta parecendo que estava esperando por minha chegada, a parede era lisa e branca impossibilitando qualquer escalada, porém com destreza conseguiria subir pelo meio de duas colunas e entrar sorrateira pela janela entreaberta. Assim que entrei mais um clarão iluminou a escuridão e o vento começou a fazer as portinholas baterem, ouvi passos femininos apresados no corredor e me escondi, a mulher que cuidava do casarão se apressou em fechar as portinholas antes que molhasse mais, ela já estava saindo quando parou no meio do caminho, desconfiada, checando ao redor, mas nada viu e nem veria. Pendurada no teto por uma corda especial com um gancho afiado, espero ela sair para que possa descer e continuar minha missão, me esgueirando pelo corredor com muita cautela para passar despercebida, chego ao quarto de portas duplas no final do corredor que está sendo vigiada por dois seguranças com terno preto e cabelo alisado de tanto gel que parece ter sido lambido.

Matá-los chamaria atenção indesejada, então só havia duas opções, golpear em certos pontos para fazê-los desmaiar ou esperar pacientemente a troca de turno para entrar, a primeira opção é bem tentadora, mas se alguém os vir caídos alarmaria os moradores e descobririam que foi um assassinato, então a escolha mais esperta é também a mais entediante. Não sei quanto tempo aguardei a troca de turno, porém o céu não estava em seu tom escurecido como no início da noite, os seguranças se dissiparam após falar com os substitutos pelo pequeno comunicador preso ao lado do rosto e com isso aproveitei para entrar silenciosa no cômodo e achar um casal dormindo tranquilamente, o homem ao seu lado era grande e corpulento enquanto a mulher de cabelo rosa pouco desbotado parecia pequena demais, tirei a adaga do cinto a lâmina reluzindo com o raio que rasgou o céu e, com um movimento rápido e limpo corto o pescoço do homem de orelha a orelha, ele acorda sentindo o que acaba de acontecer colocando a mão sobre o jato de sangue prateado esbugalhando os olhos ao me ver, o homem estava fazendo força para sair algum ruído e isso poderia ser o bastante para alertar os seguranças então cravo o punhal em seu peito dando fim a agonia.

A mulher também estava acordando e se entendesse o que houve com o garanhão que pagou pelos seus serviços poderia causar grandes problemas, mesmo que cortasse sua língua ainda seria ariscado manter uma testemunha, então infelizmente para ela não existia mais futuro, rapidamente a apunhalo silenciando qualquer vestígio de vida. Xingo mentalmente percebendo que o desgraçado sujou o lençol de sangue me dando mais trabalho, preciso limpar rápido a bagunça antes de alguém checar se estava tudo bem, suspiro enrolando os dois no lençol parecendo um saco, um saco pesado que seria complicado descer e pular o muro, nessas horas a força ampliada dos Tygas viria muito bem a calhar, mas como me queixar não vai fazer com que a tenha preciso dar meu jeito.

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Concluída a missão devo me reportar a Matriarca antes de começar os treinamentos diários até o anoitecer, troquei as vestes escuras que só usava ao realizar os serviços aproveitando para tomar um banho, o cheiro das cinzas ainda estava impregnado em mim e nas roupas. Marion, a imediata de minha mãe, me anuncia antes de permitir que adentre. Scatha está sentada em sua cadeira giratória de couro de costas para mim, não sei se notou minha presença, pois continua silenciosa sem se virar então decido dar procedimento.

— A missão foi concluída sem haver nenhuma testemunha.

Ela volve o olhar estreitando seus olhos cinzentos como concreto, em uma das primeiras vezes hesitei em silenciar as testemunhas e por isso outras assassinas foram enviadas para terminar meu trabalho.

— Garanto que não encontrarão nem vestígio.

— Espero que tenha apagado corretamente seus rastros dessa vez, não darei uma terceira chance.

— Não se preocupe Superior, os corpos foram queimados e as cinzas despachadas em um dos esgotos de Flower D' Ville.

O fogo sempre foi o melhor aliado para despistar curiosos. Além dos treinamentos para matar somos acometidas assim que chegamos a simulações de interrogatório sobre tortura para que caso fracassemos, a imperatriz jamais deve ser descoberta ou a Guilda.

— Bom. —Era o único elogio quando alguma das assassinas completa corretamente a tarefa. — Tenho analisado seus treinamentos e os relatórios das missões, e notei que está equiparando as mais velhas em habilidades apesar de ser jovem.

Não demonstro felicidade com o comentário, mas admito ter sido bom ouvir que meus esforços têm se mostrado valer a pena.

— Por isso tomei uma decisão... —Scatha ficou em silêncio por segundo apenas, mas pareceu ser horas e o tempo parecia passar ainda mais devagar por eu estar em pura ansiedade. — De agora em diante você ocupara o cargo de minha Sucessora sendo autoridade entre as outras assassinas.

Sucessora, uma honra inigualável para qualquer Flowing Blood, mesmo sendo ainda muito jovem com apenas quinze anos e com experiências ainda para adquirir, eu fui escolhida. Abaixo a cabeça em forma de gratidão.

— Obrigada pela honra Matriarca, farei o melhor para que nunca se arrependa da decisão tomada.

— Assim espero, anunciarei está tarde até lá seu antigo posto continua. —Assinto e ela gesticula com a mão mandando-me sair, não há joias apenas um bracelete com garras postiças de metal ornamentadas com elegância, mas bastante afiadas para cortar pele e carne, elas combinavam com a mulher linda e letal.

A melhor parte do dia foi ter recebido um elogio de minha mãe, pequeno e pouco explícito, mas, mesmo assim, valido. Entre assassinas Flowing Blood é proibido gerar uma prole e por isso é retirado o útero, porém Scatha sendo Superior teve autorização para dar seguimento com assassinas de sangue forte e potencialmente talentosas. Pensando com mente ambiciosa, é um jeito que a Imperatriz conseguiu para obter sempre mais poder. Assim as assassinas Imperiais perpetuam e com isso seu controle sobre as pessoas também.

Sangue ObscuroWhere stories live. Discover now