Capítulo 21 - Diretoria

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— Ayra —

Aquele dia tinha sido cheio, mas muito divertido, nunca vou me esquecer da visão debaixo d'água, mesmo que seja de uma piscina com luzes coloridas. Lá dentro a água lembrava o mar, o movimento da água por dentro parecia muito o mar, e aquela sensação do peso ser totalmente diferente do que na terra, era maravilhoso.

Depois do banho, eu nem me olhei no espelho, estava feliz demais para olhar para o monstro que sou. Eu posso de vez enquanto ser feliz, não posso? Aquele era um momento meu, e nem mesmo a minha imagem no espelho iria estragar. Depois que eu tomei banho, foi a vez de Lina, tinha uma tevê no quarto, e eu fiquei empolgada, eu conhecia tv, mas o que eu queria era ver lugares do mundo, peguei o controle e apertei o botão de mais, eu tinha aumentado o som, depois apertei o de uma flecha para cima e mudou de canal. Fiquei vagando até achar algo interessante achei um filme de príncipes e princesas, deixei lá pois o reino era bonito.

Fiquei pensando naquele dia, como ele havia sido, existia muitas pessoas com habilidades naquele lugar e eu fui vendo cada uma delas, me perguntava qual seria uma limitação para minha habilidade. Eu só sabia de uma até aquele momento, mas poderia haver mais, sempre fui grata de ter conseguido a habilidade de ver qual é a habilidade dos outros, sem ela nunca teria conseguido fugir tão fácil.

Isso me lembrava do passado, do dia em que descobri que eu era uma das pessoas no mundo que tinham uma habilidade especial. Faziam muitos anos eu só me lembrava que estava eu, Reid e meu irmão do meio brincando no jardim, o dia estava bonito, eu acho, não tenho certeza, mas alguma coisa aconteceu, algo não foi normal e...

— Gente que chuveiro maravilhoso — disse Lina me tirando de meu devaneio. — Você ligou a tv, está passando alguma coisa boa?

— Está passando esse filme aqui de reinos, me parece bom, são princesas gêmeas que precisam resolver problemas do próprio reino — eu expliquei pelo que eu tinha lido da sinopse.

— Ahh, esse filme foi muito comentado quando saiu, eu amei, inclusive comprei o livro, maravilhoso, uma trilogia encantadora.

— Se eu achar o livro também vou ler.

— Eu vi que já passa das 21 horas quer terminar o filme e depois dormimos ou quer terminar o filme e descemos para fazer mais alguma coisa?

— Tanto faz — eu disse, mas eu queria descer, ainda não queria dormir.

— Vamos terminar de assistir e decidimos, esse é o tipo de filme que começou tem que terminar.

Foi o que fizermos, mas a decisão foi tomada assim que o filme acabou, já passavam das dez horas, sem querer peguei um filme que tinha acabado de começar. Mas a questão era que quando o filme acabou Lina fechou os olhos e apagou, assistiu ao filme inteiro, mas foi no instante em que as letras apareceram não aguentou mais manter as pálpebras abertas. O que foi um tanto engraçado.

Mas Lina dormiu e eu fiquei sozinha na noite pensando na vida, sempre pensei muito, acho que porque eu não tinha com quem conversar, nem o que fazer, sempre no escuro. Eu não quis ficar ali mais, podia estar de pijama, mas estava muito escuro, mesmo com luz, e eu sentia falta do Eyder. Era fácil dormir quando ele estava ao meu lado.

Desci ao saguão e fui até as esteiras da piscina e fiquei olhando para o céu, as estrelas brilhavam como nunca naquele dia. Me lembrei do passado, um passado mais distante quando eu ainda era uma criança, não que eu fosse muito adulta nessa época.

Tinham muitas memórias minhas que não estavam muito bem, parecia que tinham apagado elas de propósito, eu não me lembrava de chegar no domo, nem dos meus primeiros testes. Sempre achei que isso fosse normal por causa da idade que eu tinha. Então eu percebi que tinham memórias muito mais recentes que estavam borradas, como rosto dele, eu não me lembrava direito. Será que eu tinha o visto? Eu achava que sim, mas eles nunca tiravam minha venda, só de vez em quando e quando me ensinaram a ler. Por que eles me ensinaram a ler? Por que não havia guardas na segunda fuga? Nada fazia sentido.

Olhos BrancosWhere stories live. Discover now