Capítulo 22 - Conversas

86 23 91
                                    




— Ayra —

— Aquilo aconteceu no dia anterior, estávamos nos três brincando fora de casa e o nosso irmão, Murf, não estava muito feliz de você estar feliz, ele tinha ciúmes de você desde que você nasceu, a caçula da família e ainda por cima uma menina, você chamava atenção. Eu não sei se você se lembra, mas você tinha cabelos castanhos e olhos castanhos iguais aos meus.

— Então meus cabelos eram mesmo dessa cor, e agora mudaram? Eu tinha memórias de meu cabelo mudando, mas elas ficaram tudo borradas.

— Eu tenho uma foto sua daquela época, apesar de você ser bem pequena e cabelo não muito longo, você quer ver?

— Quero sim.

Ele se levantou e foi até a mesa dele, abriu uma gaveta e pegou um papel, que eu deduzi ser a foto.

— Olhe — ele disse enquanto me entregava a foto. — Essa foto é uma das poucas que eu tenho, e a única que eu tenho impressa.

Estava eu na foto, mas não parecia eu, parecia uma pessoa normal, alguém sem a habilidade que eu tenho, alguém sem tudo isso, me fez ficar em dúvida se eu queria saber o que tinha acontecido. Meus olhos eram da mesma cor que os de Reid e o meu cabelo também, era óbvio, pela foto, que éramos irmãos. Se ele apresentasse aquela foto para as pessoas dizendo que era a filha dele, ninguém contestaria.

Será que eu precisava saber o que aconteceu?

Ele mexeu no celular e me mostrou outra foto, parecia uma foto de uma família feliz, tinha dois garotos, um mais velho do lado do pai, um mais novo do lado da mãe e uma menina, que demorei a reconhecer, mas era eu.

— Essa é uma foto da nossa família toda junta, um mês antes de você ser enviada para aquele lugar — ele disse enquanto me mostrava.

— Estávamos felizes mesmo como nossos rostos na foto? — eu perguntei.

— Naquele dia, estávamos.

Então eu não consegui deixar de me perguntar, foi inevitável, o que foi que eu tinha feito para destruir aquela família feliz. Eu acho que minha expressão me entregou completamente, porque Reid disse:

— Nossa família nunca foi muito feliz, nós éramos bem divididos. Eu nasci primeiro, mas também não era o favorito da mamãe, o pai tratava quase todos iguais, mas nunca falava um a para nossa mãe. A mãe sempre deu a palavra final.

— Mas parecemos tão felizes na imagem.

— Bom, naquele dia estávamos, como eu já disse. Mas não éramos muito. Eu não gostava muito da mamãe, ela sempre ficava do lado do nosso irmão do meio, que tinha quase morrido durante o parto, mas como pode ver não morreu. Desde então ela o tratava como um prêmio, e você a mãe já não gostava porque quem quase morreu durante o parto foi ela, entenda isso, ela é uma pessoa rancorosa, e como achou Murf um milagre ela te achou como um presságio de má sorte. Tudo da cabeça dela, aquela mulher precisava ir para um hospício.

Eu não queria, mas soltei um leve riso quando ele falou a última frase. Ele continuou com um sorriso.

— E você foi embora, por causa dos dois a mãe e o Murf, que amava a mãe e odiava você, ele sempre disse que eu dava mais atenção a você, já nosso pai não era muito de nada, era mais na dele. No fim descobri que ele se importava um pouco, mas muito pouco. No dia em que aconteceu, foi o dia que a sua habilidade começou a surgir, seus olhos clarearam um pouco quando você imaginou algo bem fofo, você disse que queria ser uma fada e que soltaria brilho pelas mãos. Eu ri muito, estávamos nos três no jardim de trás, e quando você disse seus olhos clarearam bem de leve, mas eu percebi e nosso irmão também. E aconteceu, ele te empurrou pois levou um susto e você caiu de bunda na grama e começou a chorar o glitter parou de cair de suas mãos e caiu algo como uma névoa preta. A mãe ouviu o choro e foi ver, Murf ouviu que a mãe estava vindo e bum, ele se jogou no chão e fingiu o choro.

Olhos BrancosWhere stories live. Discover now