Seja a minha Descrença

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No quarto escuro Crowley estava sentado no chão ao lado do colchão com a mão na testa.

- Então isso foi depois daquela vez? – Crowley se culpava enquanto olhava para Aziraphale.

O anjo só ficava sentado encarando o demônio. Ele olha para o lado e depois suspira.

- Não tinha como evitar, querido. Apenas aconteceu.

- Então – O demônio o encarava e em seguida via a grande marca de queimadura. – A culpa foi minha.

- Não seja ridículo, Crowley. – O anjo segurou as mãos do demônio e tenta sorrir. – Foi algo que já sabíamos que podia acontecer.


- Certo... Já sabíamos... – O demônio não consegue mais olhar para o anjo. Ele sentia raiva, raiva do céu, raiva dos arcanjos, mas sua raiva, a que ele mais desprezava era dele mesmo... Como ele pode falar que arriscaria tudo para ficar com Aziraphale? Por acaso é um idiota ingênuo?

"Isso vai do problema para você e para mim"
Essas palavras voltaram a mente dele. Ele pensou que estaria preparado para tudo, até não está mais.

Ele já devia saber que era sempre tarde.

Por que se agarrou em uma esperança cega desta vez? "Por acaso achou que isso ia dar certo?" O demônio que habitava nele ria soltando o seu veneno.

"Um anjo e um demônio juntos"

O anjo o chamava, mas Crowley estava cego em descrença.


- Crowley (ruido abafado) Se não fo--- por voc-- eu est---a mo---! – A voz do anjo não passava mais pelos seus ouvidos.


Ele olha para a corrente que agarrava a perna do anjo e se sentiu um mostro.

"Ele não confia em você nem mesmo para falar da sua dor, do seu passado, ele nem mesmo falou nada"

"Por que confiaria?" Por que confiaria?
"Vocês não são nada um para o outro"
Não somos nada um para o outro

Não deveríamos nem mesmo ser conhecidos.

Crowley procura algo no bolso e olha o card metade preenchido.

Seu desejo egoísta de demônio vai destruir tudo.


Entre ele e o anjo, quem era mais importante?

Os demônios egoístas iam preferir tomar tudo para si e não olhar para trás.


Mas para Crowley

Crowley com a mão tremula segura a mão do anjo e te entrega o card.

O demônio apegado e arrependido falava em seu coração.
"Eu não consigo te soltar"
O demônio imaginou a dor e os gritos do anjo sofrendo.

"Por Satã. Eu não consigo te deixar ir"
Sofrendo sozinho.

Sofrendo em silêncio.

Ele desejou ficar ao lado do anjo, mesmo em seu sofrimento, mas quem ele era para pensar assim?


Pela última vez o Crowley olha para o anjo e fala seco
- Quando rasgar, pode ir embora.

- Ir embora? Ir embora para onde?

"Eu não quero te deixar ir"
- Não é mais assunto meu, anjo.

O demônio se levanta em suspiro como se tivesse calmo e anda até a porta, mas é parado quando algo agarra na sua perna.

Ele olha para baixo e ver o anjo trêmulo.

- Depois de ver isso, você não gosta mais de mim?

As lágrimas caíram nos olhos amarelos no mesmo instante como se não tivessem como se segurar depois de receber aquele golpe final.

Ele pensa isso de mim então.

- A culpa é minha, Aziraphale. Por não confiar em mim neste ponto.

Crowley não se prende a mais nada, seu olhar não se prendia mais com o do anjo, sua mente, nem mesmo o seu coração apertado o parou.


Ele apenas foi embora mesmo que o barulho abafado da voz de Aziraphale o afetasse.

- Crowley! Pare agora mesmo! Crowley?!

O anjo procura o card. Vendo que o jogou no chão ele se estica e o pega.

Aziraphale rasga e por milagre faz a corrente abrir.

Ele se levanta e corre para a entrada meio que tropeçando, mas quando ele sai para o corredor olhando ao redor, nem mesmo a presença de Crowley apareceu em lugar nenhum.

Ele sente uma pontada aguda no braço e se ajoelha no chão.
Ele coloca a mão no braço se perguntando por que começou a doer.

- Sempre doeu assim? – Ele percebe que suas roupas estavam rasgadas então ele alisa o braço fazendo as roupas voltarem ao normal. Sim, sempre doeu assim.

Isso é algo que ele já havia ouvido falar antes, quando nos acostumamos com algo e em seguida ela sai de sua rotina, para voltar, era mil vezes mais difícil. Isso é claro, se incluía a dor.

- Oh Deus. – Ele suspira tentando parar de sentir dor. Aziraphale se levanta trêmulo e entra novamente no apartamento de Crowley, como se procurasse refugiu.




4 meses depois.





Belzebu estava de braços cruzados com seu olhar cansado de sempre. Ele revira os olhos enquanto no seu escritório cheio de documentos um telefone gritava sem parar. Era a administração fazendo reclamações e mais reclamações.

- Greve! Sabe a quantos milênios não sabemos o que é uma greve? – Ele suspira e decide olhar um documento enquanto escutava. – É o quinto demônio nesse mês que temos que jogar no caldeirão. Acha o que? Que demônios caem do céu? – Belzebu olha para o telefone levantando uma sobrancelha. – Por Satã, quantos duques do inferno temos que ter para resolver a situação?

- Não podemos fazer nada. – O demônio boceja jogando o papel no chão. – É a guerra que vocês tanto queriam.

- Onde está o desgraçado que começou isso? Manda-o resolver. – O demônio suspira lembrando do desgraçado do Crowley. – Agora mesmo!


- Sim senhor. – O Belzebu fala em sarcasmo para o demônio da administração antes de desligar.

Belzebu olha aquela quantidade acumulada de papeladas ao redor do trono dele.

Ele preferiria ter que resolver tudo aquilo do que ir para a terra de novo.

- Essa porcaria de eternidade está acabando comigo. – Ele se levanta andando até a porta.

- Belzebu – Um demônio que não tinha olhos se curva para ele ficando nervoso.

- Fala logo. – Ele diz cansando demais para jogos.
- M-meu senhor, o-o-o Caronte perguntou quando via receber por suas horas extras?

- Aquele barqueiro desgraçado ainda está vivo? – Belzebu se irrita voltando a andar e o demônio o segue.

- C-Cre-Creio que sim senhor

- E mercenário como sempre. Manda-o ir para o inferno.

O demônio para sentindo medo da aura de raiva que saia do Belzebu.

- O se-senhor que dizer o R-...R.H?



Chegando no elevador viu que ele estava quebrado de tanto uso.

- Essa merda velha.

Ele olha para a escadaria.



"Para descer todo "santo" ajuda"

Ele já ouviu falar disso.

Ele olhou para cima vendo a quantidade infinita de escadaria para cima.

- Foda-se, nem se me batizarem.
Uma hora depois ele estava em cima de um trono lendo alguns documentos enquanto alguns demônios o carregavam para a terra subindo as escadarias.

Eles ficavam brigando entre si.
"Eu falei para você arrumar aquela porcaria daquele elevador"
"Eu não vivi o inferno para ser um condenado agora"

- Calem a boca! – Belzebu fala colocando a mão na testa se concentrando no documento.


O portal sai no fundo de um galpão.

Era de noite, mas nem isso o alegrou. Ele estrala os dedos ficando com aparência mais "humana" sem as moscas ao seu redor.


Essa merda de mundinho, para que existe? Só ocupa espaço para preencher papelada.

Ele anda com suas roupas formais de sempre com uma faixa vermelha.

Ele chega em uma floresta e resmunga.

- Só me faltava essa agora.

Além de psicopata esse desgraçado virou um hippie?

Como milagre ele chega perto em poucos instantes de onde o Crowley estava.

Ele "dormia" tranquilamente apoiado em uma árvore com uma grama na boca.

- Seu cachorro do inferno, não tinha comprado a porra de uma casa?

- Eu não gostei dela. – Crowley responde colocando o chapéu que estava usando no rosto e se inclinando mais para baixo.
Ele nem mesmo ficou surpreso do Belzebu está lá.

Crowley sempre foi um demônio frio aos olhos de seus companheiros. Nunca se importava e nem mesmo parecia ter medo, mas ele geralmente tinha respeito com Belzebu.

- Seu verme. – Belzebu anda até o Crowley e o chuta fazendo o demônio se assustar. – Essa merda de guerra está dando problema! Quem mandou ser tão bom no seu trabalho?

- Ah, já começou? – O demônio fala pensativo e depois volta a deitar. – Tá legal. Parabéns para nós então. Um ponto para o inferno.

- Quero que vá para a linha da frente e evite que tantas almas condenadas sejam mortas, vá para as tropas do lado ruim e de seus pulos.

- Eu estou de férias. – Ele cruza as pernas e fecha os olhos.

- Suas férias acabaram a dois meses... Você não estava fazendo suas missões?



Crowley abre os olhos.

- Como elas se saíram?

- Perfeitas, desgraçado.
- Então eu fiz.

- Apenas escute e faça o que estou mandando, se eu ouvir qualquer merda dos bastardos da administração de novo... ou pior, ter que vir para esse buraco de mundo de novo, eu vou te colocar na solitária.

- Você já pensou sobre isso?
- O que?
- A solitária, quero dizer, não é meio que uma folga? Pense comigo – Crowley gesticula com as mãos no ar fazendo Belzebu cruzar os braços. – Ninguém vai te encher o saco, sem nada para fazer, tempo para dormir... talvez role até um rango.



Belzebu olha para o lado não sabendo o que falar.

- Então eu vou... te jogar aos cachorros.
- Oh, isso sim é ruim.


Farto Belzebu apenas sai.

Ele sabe muito bem quem encontraria se ficasse muito tempo lá.


Ele anda apressado para o galpão com ajuda de milagres e assim que abre a porta viu o Arcanjo Gabriel na sua frente todo brilhante te deixando irritado.

- Belzebu! – Gabriel falou sorrindo.
- Hoje não. Joguei fora meu saco para te escutar naquela lixeira.

Ele continuou andando descendo as escadas.

- Vamos lá, eu queria falar com o Aziraphale, mas ele não me escuta mais. – O Arcanjo o seguia flutuando nas escadarias. – Nem mesmo minhas ameaças parecem surgir efeito... E eu sou muito bom em ameaças.

Belzebu respeitava Aziraphale sem conhecê-lo
Um santo ele pensou.

Em aturar dois idiotas.

Com esse pensamento ele sentiu calafrio.

Respeitar um anjo era demais até para ele.

- Seu caminho. – O demônio para de andar apontando para o alto. – Não é para cima?

Gabriel olha para Belzebu e sorrir. Ele já conhecia bem o mal humor do demônio.

- Certamente que sim. – Ele rir e se pergunta por que Belzebu perguntou isso de repente. Talvez o inveje pôr o inferno ser um lugar tão miserável enquanto ele vivia tranquilamente no céu. – Mas estou ocupado agora te culpando por minha infelicidade.

Ele queria falar com alguém sobre sua pacífica vida. Ele lembra do Aziraphale "Oh deve ser duro"
As vezes ouvir isso, seria bom. Mas só escutava um "Hm" Seco enquanto Aziraphale ficava concentrado no trabalho.

- Me culpando? O que fiz para receber essa alegria?

- Era só ter me dado a localização de Crowley! E eu teria resolvido isso antes de começar.

- Ele estava de férias, ou seja, longe da minha jurisdição.... Você não tinha a pena dele? – Belzebu pensa como Crowley um demônio tão esperto deu a sua pena a um anjo, uma parte dele poderia deixá-lo prisioneiro nas mãos erradas. – Era só ter usado e você saberia onde ele estaria.

- Oh, aquilo...Aquilo é para o momento certo.

- Você não tem amigos? – Belzebu pergunta como se fosse especialista, sendo que ele mesmo não tinha nenhum. Ele cruza os braços mostrando que não precisava de coisas tão triviais.

Quando o Arcanjo flutuante fica mudo Belzebu levanta uma das suas sobrancelhas o olhando com seus olhos cansados.

Ele pensa um pouco e logo sorrir.

- Sabe o que precisa, anjo bobo? – Belzebu segura a gravata cara do arcanjo e o puxa para baixo o desconcertando. – De alguém que cuide de você. – O anjo se assusta e o demônio traiçoeiro faz a melhor cara de atuação que tinha como se sentisse pena. – Oh... pobrezinho, sempre manda e desmanta em tantos....anjinhos nojentos.... Quem cuidara de você grandão?... – Seu olhar cansado de pena logo de tornou em um sorriso animador se mostrando ser a solução. – Talvez eu possa cuidar de você! – Ele o puxa mais e o fala em segredo. – Eu estava precisando de um novo pet mesmo. – Arcanjo olha para ele pasmo. O olhar de Belzebu tinha um brilho perigoso enquanto se curvava em uma meia lua. – O que acha de alguém mandar em você?






O arcanjo vê o demônio saindo vitorioso quando finalmente conseguiu o que queria. Que o arcanjo ficasse mudo.


Good Omens - Obcecado por vocêWhere stories live. Discover now