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Crowley não sabia o que sentia quando viu Aziraphale no meio do nada naquela neve.

Estava feliz, mas também ficou preocupado, aquele lugar era literalmente a imagem que vinha depois da palavra "perigoso" no dicionário.
Então aceitou apenas ficar irritado.

Ele andava pelo corredor não evitando de olhar para o Aziraphale todo iluminado andando atrás dele olhando tudo ao redor.

- Já faz tempo que não vou em uma base militar, mas suponho que essa não se pareça com nada que já tenha visto..... É uma base secreta? - Ele pergunta essa parte em sussurro.

Crowley abre a porta da sala dele - do coronel - e dá espaço para o Aziraphale passar.

Crowley olha de mau humor para alguns soldados que ainda estavam o seguindo.

- Vão. - Ele fala e os soldados fazem reverência e marcham para longe ao som de um milagre.

Ao fechar a porta ele olha Aziraphale todo feliz olhando ao redor.

- Puxa, como está quente se nem mesmo tem uma lareira? - Ele começa a desenrolar o cachecol do pescoço e de uma forma informal tirar o casaco mais pesado.

- Aquecedor elétrico. - Crowley bateu em uma máquina quadrada que tinha do lado da porta.

Ele vai para perto da mesa onde o Aziraphale estava. Ele tira os óculos.

- Agora dá para me explicar? Como me encontrou? - Não tinha forma dele encontrar o Crowley, ele estava em um lugar muito isolado e muito longe de Londres. - Não me diga que está em uma missão?

- Não estou em uma missão, Crowley. - Aziraphale abre o sobretudo para tirá-lo também. - Vim para conversar.


- Conversar? - Crowley lembra bem o que acontecia quando eles conversavam. - Eu não tenho tempo para isso. - Crowley pensa em falar com algum soldado para levar o Aziraphale para cidade mais próxima em segurança. - Agora se me der licença. Eu estou muito ocupado. - Ele vai para a porta pensando em chamar alguém até escutar um barulho conhecido.

Ele olha para ver.

Aziraphale tirou de dentro do sobretudo uma garrafa de vinho cara e em seguida a põem na mesa.

Nem isso tirou o mau humor do Crowley.

Aziraphale olha suspirando e enfia novamente a mão no sobretudo tirando um uísque importado, um dos favoritos de Crowley.



- Isso é o que penso que é? - Crowley tira o chapéu andando até a mesa. A garrafa tinha uma forma redonda que era característica da marca, seu estilo de uma garrafa escura com bordas pretas gastas pelo tempo e o uísque era um vermelho quase vinho revelando a safra.

- Um legítimo Dalmore Trinitas 1864, lembro que sempre gostou dos Dalmore. É um pouco forte para mim, mas tenho 3 ou 4 garrafas no meu armazém. - Aziraphale fala orgulhoso tirando finalmente o sobretudo para ficar à vontade.


- Hmm~ - Crowley travou uma luta interna olhando as garrafas e em seguida o Aziraphale na sua frente. - Nah. - Ele muito relutante decide voltar para a porta.

- Eu vim me desculpar, Crowley. - O demônio para e olha o anjo.

- O que?

- Eu... - O anjo em pé inquieto toca na cadeira ao seu lado. - Eu... - Ele pensa o que falar e em seguida suspira. - Eu... a muitos anos lutei com o que eu sentia por você e depois de muita, muita luta decidi aceitar os meus sentimentos Crowley. - o Anjo começa a se sentar enquanto o demônio ainda querendo ver o seu rosto vai até novamente perto da mesa. - Sim, eu aceitei de todo o meu coração, Crowley. Todos os sentimentos que tinha dentro de mim por você. - Ele olha para o Crowley e em seguida sorri olhando para baixo. - Com isso aceitei a impureza que sabia que viria junto, a tristeza, a angústia, a saudade, eu sabia que tudo isso viria junto com as coisas boas e isso me apavorava, quer dizer, ainda me apavora, mas...


O demônio suspira olhando para o lado.

- Então, dito isso, isso significa que eu estava ciente do que eu sentiria, mas não pensei que teria que aprender como lidar com isso. - Ele olha para o demônio novamente ainda sorrindo. - Meio óbvio não? Mas aceitar os sentimentos, não significa que agora sabe lidar com eles, muito menos como se expressar sobre eles.


Fica pior para os anjos e demônios que não tem sentimentos humanos comuns.


- Isso me cegou, Crowley e eu fui um tolo em achar que apenas com meus sentimentos estavam tudo bem. - O anjo não tirava os olhos de Crowley, mas depois de um tempo envergonhado olhou novamente para baixo e começou a brincar com a luva. - Agora eu sei disso.

Em um relacionamento os sentimentos de amor não eram os únicos que bastavam.

Relacionamento era confiança, parceria e união.

- Azi-
- Eu...Desta vez... - O anjo se levanta novamente e olha para Crowley. Nesses 2 dias de viagem que o anjo fez para ver o Crowley, ele pensou muito no trem. - Desta vez, eu quero tentar ser diferente, Crowley. Assim como quero que tente ser diferente também.

O Anjo caído fica paralisado quando Aziraphale segura sua mão com vergonha.

- Nós nunca conversamos sobre o que sentimos de verdade.

- Claro que já. Falamos sobre isso toda hora.

- Não Crowley. - O anjo fecha os olhos. Está tudo bem, agora ele tem confiança que os sentimentos de Crowley e o dele eram parecidos. Ele também se sentia inseguro e insuficiente para o demônio. E só queria provar ao Crowley como isso era mentira. - Eu quero dizer que te amo mais uma vez. - Ele segura a outra mão do demônio. - Só que desta vez sem brigar com você ou ficar contra você. Eu quero ser seu companheiro, Crowley. Eu quero contar contigo como quero que conte comigo.

Ele abre os olhos e olha novamente para Crowley.

Seus olhos, seus belos olhos amarelos eram mais lindos hoje do que a primeira vez que o anjo o viu.

- Eu quero, desta vez, dizer que te amo em um momento que não vamos nos magoar ou sentir tristeza. Por isso, me deixe tentar de novo, querido.

- Pare. - O demônio olhava para baixo e para o lado e novamente para o Aziraphale. - Por que aqui? Por que agora, anjo?

- Por que a única coisa que não posso desistir. - O anjo sorria virando um pouco o rosto de lado dando seu olhar meigo. - É de você Crowley.

O demônio olhou suas mãos que enluvadas que estavam sendo agarradas firmes nas mãos fofas de Aziraphale, sua luva não tinha dedos e combinava com ele de forma adorável.

Crowley suspira tentando ficar naquele momento até onde podia. Ele olha novamente para o rosto do anjo.

- Mas e seu lado? E o meu lado?

- Bem. - O anjo sorridente olha para cima pensativo. - Eu gosto do meu lado, de fato, mas você é mais importante do que isso.

- N-Não é disso que estou falando, anjo. - O demônio solta as suas mãos e olha para o ombro do Aziraphale. - Se você for destruído por minha culpa, eu-
- Eu não vou! - O anjo olhava para o demônio confiante. - Eu não vou ser destruído, Crowley.

- Como tem certeza disso? - Crowley se afasta do anjo andando até a janela atrás da mesa.

- Eu só tenho.

- Confiança ingênua de anjo.

- Eu sei que não vai acontecer nada, por que você vai está do meu lado.

Crowley ainda estava de costas, mas Aziraphale continuava.

- Querido, no dia que fui... bom, você sabe, julgado. - Ele toca no ombro e olha para o lado se lembrando. - Fui para um poço de água benta para me purificarem, deste jeito, por ser um anjo, minha alma limpa ia repelir as chamas. - Ele lembra da alma pura de Gabriel que repelia tudo quando estava perto. - Mas isso não aconteceu porque eu rejeitei a purificação.

O demônio o olha de canto de olho.



- Me purificar ia significar tirar uma parte de você que estava em mim e eu preferiria ficar naquele poço para sempre antes de isso acontecer. - O anjo olha para o demônio e vai até ele. Ele dá a volta ao redor do demônio e fica em frente a ele. - Querido, pensar em você me salvou. Você me salvou! Em vez de ser purificado, minha alma se moldou e abraçou isso. Isso faz parte de mim agora e eu sou feliz com isso!

- Aziraphale, você sabe o que está me falando?
- Sim. - O anjo meio envergonhado pensa um pouco e depois olha para a janela ficando de costas para o demônio. - Significa que não posso mais viver sem você. Bom. - Ele olha de novo. - Na verdade eu posso. - Ele lembra da dor e se lembra dos seus dias tristes e frios. - Mas eu não quero.


Não era isso o amor afinal? Ele pensou. O amor não devia ser a sua parte que faltava, mas sim um complemento. Um apoio, uma união... Um vínculo de ambas as partes.

Com Crowley, Aziraphale não se sentia sozinho, não sentia solidão, não sentia dor.

Não queria falar a parte da dor, porque não queria que o demônio se sentisse obrigado a ficar com ele por conta disso.

Queria que ele tivesse essa opção.

- Você quer, Crowley?

Ele olha para Aziraphale e em seguida olha para o lado. Ele lembra de tudo que passou sozinho. Todos esses anos.


Ele balança a cabeça dizendo que não.

Era doloroso, mas era verdade.


- Você é a pessoa que mais confio, anjo. - Aziraphale suspira surpreso. O demônio sabia que se o anjo falasse "confie em mim" ele iria cegamente. - Só queria que confiasse em mim também.

- O querido, é tudo minha culpa. - Ele segura os braços do demônio. Eles estavam frente a frente um com o outro olhando nos olhos. - Por minha falta de cuidado eu te magoei, não foi? Eu confio em você, eu prometo nunca mais te esconder nada, nunca. Nunca mesmo.

- Nunca?

- Sim, nunca. Por isso, nunca mais fale que vai me deixar.






- Me desculpe Aziraphale. - Crowley abaixou os ombros e a cabeça. - Minha impulsividade, prometo tentar fazer que não seja mais um problema... para nós. - Ele olhava a perna do anjo. - Eu prometo não agir mais por conta própria, por isso, também não me deixe.


O demônio também queria, tentar dizer o que sentia em um momento mais feliz.



O Aziraphale e Crowley a partir daquele momento, não eram mais um simples anjo ou demônio.

Eram apenas eles e isso bastava.

Duas pessoas que se amavam de todas as formas que podiam.
e como novatos estavam aprendendo um com o outro.

- Querido, eu sei que ainda está chateado. - O anjo coloca sua mão fofa no rosto sério de Crowley. - Mas te beijar, está fora de cogitação?

Aziraphe sorri tímido quando o demônio rir.

Crowley coloca a mão sobre a mão de Aziraphale e fecha os olhos.

Um pequeno beijo caiu em seus lábios frios.


Sem se mexer, o anjo caído cedeu ao pequeno contato.



- Bem, foi muita coisa para falar sóbrio, não? - O anjo diz tímido tirando as luvas.
- Realmente.

- O que acha de bebermos?
- Uísque primeiro. - Crowley não se aguentou em falar. Ele queria mesmo provar aquele uísque.





- Trens continuam sendo o melhor avanço tecnológico, Crowley. - Aziraphale fala segurando seu copo sentando na cadeira. - Bem melhor do que carros.
Crowley bufa sentando em uma cadeira do outro lado da mesa de escritório colocando mais uísque no seu copo.

- Pense comigo querido, uma linha só, cruzando a Europa inteira. Não é interessante?
- Avanço? Eles já estão aí a quanto tempo? 100 anos?
- São práticos.
- São barulhentos, e sempre cheiram mal a cigarro e fumaça. - O demônio revira os olhos lembrando da mania sem rumo dos humanos fumarem em qualquer lugar. Com um carro ele não seria perturbado com isso. - 3 dias acabou com minha coluna quando tive que ir para essa terra de ninguém. - Ele pensa no Aziraphale fazendo o mesmo. - Escuta. Anjo.
- Hm?
- E a senhora arrogância do Gabriel? Ele não vai ficar chateado ou algo do tipo?
Em 2 dias de novo seria quarta, o anjo nunca chegaria, apenas se voasse.
- Ah não- O anjo geme caindo na cadeira perdendo sua compostura. - Eu não quero falar dele, esquece ele.

Os dois não eram ingênuos de esquecer sua situação, ainda tinha muito caminho até eles conseguirem ser livre, e talvez nunca fossem, mas desta vez iam fazer isso juntos.


- Eu não aguentava mais, ele sempre foi tão... - O anjo toma um gole procurando uma palavra refinada e adequada ao Gabriel.

Desistindo ele apenas suspira.
- Um porre?

- Por aí, em vez disso prefiro te ajudar com a guerra. O que quer fazer?
- Quer me ajudar com coisas malignas? - O demônio sorriu se inclinando na mesa. - Um branquinho puro que nem você?
- Não falei que faria maldades, apenas que te ajudaria para a gente voltar logo para casa.

O demônio achou fofo o jeito que ele falou em casa.

Ele pensou que seria legal ter uma casa com o Aziraphale.



Aceitaria tudo, até aquela montanha de livros de Aziraphale espalhado em todo o lugar.

- Er... - O anjo interrompe o pensamento de Crowley lembrando da casa do demônio. - Falando em casa... a sua casa está meio que decorada agora.





-... O que quer dizer com isso?
- Que está bonita?
- Ela já é, o que você fez?

- Hn... coloquei só poucos móveis aqui e ali - O anjo olha de lado dando um gole. - Você nem vai repar-Oh veja. - Ele pega o uísque vendo que estava no fim. - Acho que teremos que ir para o vinho agora.

Ele se levanta meio nervoso pegando o vinho que estava na prateleira no canto.


Ele evita o olhar do Crowley quando o demônio voltando a ficar de mau humor vai atrás dele.

- Que tipo de móveis... anjo?
- Bem... ouvir falar que móveis em salgueiro estão em moda hoje em dia ent-
- Não é aquela madeira clara, né?
- Bem... ela é um pouco clara sim.

- Mas alguma coisa?
- Bem, tinha um sofá amarelo que-
- Esquece, eu não quero saber. - O demônio queria comprar um sofá de couro, mas já imaginou um sofá bem fofo amarelo naquela sala.
- Não fique assim, querido. - O anjo sorrir ainda nervoso e olha para ele. - Eu garanto que está adorável.
- É isso que me assusta.

O anjo larga o vinho e coloca a mão no rosto do demônio. Seu rosto agora estava quente.

- Não fique assim, amarelo é lindo. - O demônio bufa. - Como seus olhos...

O demônio levanta a sobrancelha e olha direito o seu anjo sorridente bêbado.

- Você é muito espertinho, isso não vai te ajudar e não vou ficar com o sofá.






2 semanas depois.



Gabriel estava olhando para a escrivaninha vazia do Aziraphale com seu olhar sem paciência.

Era a terceira vez que vinha esse mês e não avistava nem a presença dele.

Ele olhou para o abajur que sempre ficava com a luz fraca, quase apagada, quando ele chegava perto.

Arcanjos não podem mexer com almas com segundas intenções, mas se tivesse como, já teria se livrado disso.

Ele bate na mesa olhando alguma pista.

Ele não entendia.

A anos atrás Aziraphale ficava aliviado em vê-lo, e agora o trata com desprezo?
- Por acaso esqueceu o que já fiz para você?

Ele sempre trazia presentes que sabia que o anjo ia gostar e tentou fazer seu relacionamento ser bom para ambos.

Ele bate na mesa com o dedo.

- Já não se importa em sentir dor?


A dor o deixava dependente.

Ele ainda lembra como era adorável.


Ao chegar na livraria ele procurava o Aziraphale e o encontrava em um ponto escuro sentando no chão tremendo.

Era como um passarinho com asas quebradas.

E Gabriel sua luz.

Ele se ajoelhava misericordioso e Aziraphale o olhava com um olhar de esperança novamente.


Isso deu vontade de protegê-lo e não magoá-lo.

- Mas esse seu lado. - O Gabriel segura a caneta azul simplória que o Aziraphale estava usando e a quebra. - Eu desprezo.



Tudo culpa daquele demônio maldito.

Ele está sendo controlado e manipulado.

Vai demorar um pouco até Aziraphale ser um anjo caído se isso acontecer.


O anjo tinha que continuar sendo sua luz e o guiar para o bem.

Notas Finaissz

Obrigada por hoje também gente!

Good Omens - Obcecado por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora