Capítulo 3

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Mavis

Quinto dia como prisioneira, ou sexto.. talvez sétimo, a dor me fez me perder nas contas.

Não tinha a noção do que era noite ou dia aqui trancada, apenas a  noção de que haveria mais tortura.

Hoje por incrível que pareça o espião estava demorando, ele finalmente teve dó de mim? Tenho que ir para casa, já deve ter passado extremamente da hora da minha avó tomar os remédios dela.

Passou da hora de eu dar comida aos cachorros e de tomar café na calçada com José para falar da vida alheia.

Passou da hora de tudo, será que eles perceberam o meu sumiço? Ou esse mundo tem um tempo diferente do meu??

A porta se abriu e eu arquejei, deveria não ter pensado tanto na demora dele.

Ouço o som de suas botas batendo contra o chão e então a porta se fechando ocultando o pouco de luz que havia de uma tocha na parede do corredor de pedra. Junto dos gritos agoniantes de quem quer que estivesse preso aqui junto comigo.

Esses gritos me atormentaram durante esses dias, quando eu fechava os olhos para tentar dormir e esquecer as dores no corpo, mais gritos e eu despertava. Isso abriu uma brecha de pensamentos, aqui com toda a certeza deveria ser a prisão que Rhysand trouxe a Feyre nos livros.

Significa que as chances de eu fugir eram zero. Mas uma única pessoa conseguiu escapar daqui... Amren.

— Está pensando demais hoje.

— Égua, quer dizer que nem a isso eu tenho direito? —questiono irritada— não tenho direito de pensar? Você me multilou inteira por só Deus sabe quantos dias, eu não ter morrido de sangrar aqui nesse buraco foi um milagre.

Silêncio.

— Tem noção de que está fazendo comigo o que fizeram com você? Está me trancando no escuro como a sua madrasta fez.

Ele travou levemente

— E está me deixando com cicatrizes assim como os seus irmãos fizeram com você. O que vai fazer hoje? Vai usar óleo e fogo em mim como eles te fizeram?

As sombras explodiram densas e eu me calei, o espião me lançou um olhar de ódio frio.

— Eu não lhe dei permissão para falar.

— Arranque a minha boca para me tornar quieta como você, porque enquanto eu tiver voz eu irei falar, eu não vou me esconder no silêncio como você faz.

Um rosnado que estremeceu as correntes que me prendiam.

— Está precisando de um novo corretivo, talvez assim responda as minhas perguntas e se cale de uma vez por todas. -ele puxou a reveladora da verdade.

Me preparei e senti, o corte em meu abdômen, em meu ombro, braços, meus gritos pareceram dormentes entre as paredes daquele lugar que parecia já ter se acostumado com eles, assim como se acostumou com o de todos ali.

Levei socos consideráveis no rosto, fortes o bastante para estalar algum osso.

Eu olho zonza e dolorida para o encantador de sombras que arrumava a bandagem em seus punhos ao longe.

Senti algo frio tocar a minha bochecha, secando onde lágrimas escorriam, olho de relance para uma nuvem de fumaça que ao se mover soltava um baixo assovio espectral, deixando um rastro gelado de vento por mim.

De esguelha eu captei o espião observando o que estava havendo, uma de suas sombras que foi corajosa o bastante para sair de perto dele e desobedecer, agora ela estava ao meu redor, como uma mãe acalentando um filho, passando a mão em sua cabeça e o acariciando.

Corte De Trevas E Sombras | •AcotarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora