Fazendo as pazes

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Parece que ele gostava mesmo de aparecer sem avisar.

Tanto que foi apenas isso que senti durante um tempo "surpresa", saindo do estupor apenas quando vi a luz dos faróis iluminando minha casa. Levantei finalmente e peguei meu casaco pra abrir a porta, fazia muito frio lá fora. Quando ele estacionou de frente a garagem, meu coração acelerou. Aquela camionete azul tão conhecida por todas as fansons era enorme mesmo. Abracei meu corpo quando uma rajada de vento bateu, me arrepiando inteira, foi quando percebi que ele olhava pra mim mesmo ainda dentro do carro. Fiquei em dúvida se o arrepio foi por conta do vento ou do seu olhar.

- Boa noite!

Disse ele olhando pra mim. Mas olhando mesmo, inteirinha. Apertei mais o casaco, fechando e cruzando os braços como se estivesse me protegendo dele.

- Boa noite, Zac! Você gosta mesmo de surpresas?!

Ele sorriu sem mostrar os dentes, parecia meio desconfortável.

- Eu posso entrar?

- Claro!

Dei espaço pra que ele passasse e então fechei a porta. Tirando o casaco em seguida porque dentro de casa estava quentinho. Zac fez o mesmo com sua famosa jaqueta de couro preta, ficando apenas com a camiseta branca e aquela calça apertada que chegava a ser indecente.

- Sobre as surpresas, eu realmente gosto. Mas hoje não fiz com essa intenção, eu só senti que se não fizesse dessa forma, nós nunca iríamos conversar.

Não foi por falta de tentativa.

Sua mão foi parar nos cabelos, naquele gesto que me fazia prender o ar.

- Posso falar com nossa filha antes?

Pediu ele, os olhos tão dentro dos meus me fazendo engolir seco. Assenti apenas com a cabeça, a impressão que eu tinha é que gaguejaria a qualquer momento.

- Oi, querida! Sinto muito por ter ido embora tão de repente e sem me despedir de você como deveria. Papai tem tendência a ser um idiota às vezes, mas eu juro que amo você.

Enquanto ele tocava minha barriga com delicadeza, eu fingia que a maneira doce com a qual ele falava com a nossa filha não me afetava.

Seja forte, Spenc!

Você já tomou uma decisão.

Ele olhou pra cima dando de cara com o meu olhar com certeza apaixonado, embora eu estivesse tão magoada. Desviei, disfarçando e me afastando um pouco enquanto ele levantava.

- Você voltou quando pra casa?

Tentando puxar algum assunto ou apenas curiosidade pra saber quanto tempo ele demorou pra aparecer aqui.

Não sei!

Eu só precisava falar qualquer coisa pra que ele parasse de me olhar daquele jeito.

- Ontem à tarde. Tirei o resto do dia pra desfazer as malas, lavar umas roupas e depois descansei um pouco. Foram dias corridos de trabalho e eu tinha duas das crianças comigo. Fui ver os pequenos hoje e fiquei com eles pela manhã e então quando percebi que você não ia entrar em contato comigo decidi vir até aqui. - ele colocou as mãos nos bolsos, dando alguns passos na minha direção - Decidi procurar passagens, mas não achei pro horário que eu queria, então percebi que vir de carro não era uma má ideia, me daria tempo pra pensar.

- Mais tempo?

Ergui a sobrancelha num desafio claro. Ele apenas assentiu, olhando pro chão e depois pra mim de novo.

ON FIREWhere stories live. Discover now