3 - MUTATIO

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MUTATIO (s.f) do latim significa mudança. Palavra que se refere ao que muda de forma ou de essência.

Caroline

Inferno! Se assemelha muito com o que tá acontecendo comigo, um grandioso e absurdo inferno. Eu nunca tive um desembarque tão conturbado desse jeito, as crianças estão diferentes, a minha mãe está, nossas amigas, e principalmente Rosamaria. Eu ouso dizer que a culpa é dela, minha esposa sabe ser bem persuasiva quando quer. Em dois dias tudo virou contra a minha cabeça, como se eu fosse uma vilã de televisão, tudo bem que eu não deveria ter esquecido do combinado com o meu filho, mas quem nunca esqueceu uma data importante? Eu sou humana, eu esqueço. A noite foi muito difícil, ainda sai como rude com as meninas, a volta para casa nunca demorou tanto, Rosamaria estava com os olhos vermelhos a maior parte do tempo e eu ainda a ouvi murmurar que estava com vergonha, como se não tivesse parte nisso também.

Ela não me trata nada bem, chegamos em casa sozinhas e nem um beijo quis me dar. Se eu não soubesse que ela é tão certinha, poderia jurar que estava com outra pessoa. Mas felizmente a minha esposa me ama, eu não posso dizer nada contra isso. Rosa está triste, acho que para ela é muito difícil a minha ausência, mas eu não posso fazer absolutamente nada para mudar. É o meu trabalho e é onde eu gosto de estar, eu me sinto muito bem e não vou abrir mão disso por capricho dela. Rosamaria surtou e disse que ia embora de casa, o que eu acho que além de ser um completo absurdo, é impossível. A rotina de trabalho dela também é complicada, ela não vai conseguir sem mim. Minha esposa foi dormir no quarto da nossa filha e eu vim deitar no nosso quarto, vou esperar que ela se acalme e mude de ideia. E nesse meio tempo, dormir é o que me resta.

— Que merda! — Acordei assustada com o barulho do meu celular tocando. — Alô!

— Cá, você esqueceu de buscar as meninas? Tinha prometido. — Porcaria, era a Carolana. Eu realmente disse que ia levar as crianças para a escola hoje.

— Carol! Me perdoa, eu apaguei e esqueci de por o celular pra despertar. — Me pus de pé correndo, teria que ir com a roupa do corpo, olhei o horário no relógio de cabeceira e tinha pouquíssimo tempo. Merda. — Amiga, segura um pouquinho, tô saindo daqui.

— Relaxa, Cá. Não precisa mais! A Rosa já levou. — Me joguei sentada na cama de volta e dei um suspiro longo. — Obrigada, preciso desligar agora. Se precisar conversar, você sabe que pode contar comigo. Fique bem.

Tirei o celular do ouvido e me joguei de costas na cama, que merda eu esqueci completamente de colocar o despertador. Era óbvio que não ia acordar naturalmente, dormi mal a noite toda. Permaneci alguns minutos mais deitada, e depois resolvi me levantar para preparar um café, e ligar para a minha mãe, a fim de combinar finalmente o nosso almoço.

A casa estava silenciosa sem as crianças, fui até a cozinha para passar o café e voltei para a sala, tinha mania de ligar a televisão para ouvir o jornal da manhã, mania que aprendi com seu Maurício, meu pai. Estava distraia trocando os canais, encontrei o do jornal e quando ia voltando para a cozinha, meu pé esbarrou em uns cabos de fio soltos, que vinham da própria televisão. Estranho, procurei de onde vinha e meu corpo gelou, o vídeo game do João não estava ali, corri para o quarto dele e percebi que haviam poucas coisas na cômoda, poucas roupas no armário, fui até o quarto da minha pequena e por lá a mesma coisa, poucas coisas nos nichos e armário. Merda! Fui a passos largos até o nosso quarto, a penteadeira da Rosa estava completamente vazia, resisti a ir ao guarda roupas, e quando cheguei até o closet, vazio igual. Não tinha restado um sapato sequer, uma calcinha, nada. Ela tinha mesmo ido embora, minha garganta ardia de raiva, de ódio, e de descrença. Ela não podia ter feito isso e como eu não vi ou ouvi seus passos aqui dentro? Não teria deixado ela sair de maneira nenhuma.

SKYLINE.Where stories live. Discover now