14 - CURARE

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CURARE (v.) do latim significa cuidar. Ação de tratar com cuidado, com atenção, de se preocupar ou de se responsabilizar por.


Caroline

A chave de voo estava repleta de partidas internacionais nessa semana, eu estava em Santiago, capital do Chile e voltaria para o Brasil em três dias. Mas após falar no telefone com meus filhos e descobrir sobre a internação da Rosa, eu sabia que teria que dar um jeito de voltar o quanto antes para perto deles. Minha cabeça passou a doer infinitas vezes, até me senti indisposta, tentei contato com meus pais e com os pais da Rosa, mas ninguém conseguiu me atender nas vezes que eu tentei. Em uma reunião rápida, eu pedi para voltar ao Brasil, mesmo que não fosse na tripulação, precisava pegar as crianças para ir para casa, cuidar deles e principalmente entender como isso tudo aconteceu. O meu superior entendendo a minha situação e conhecendo a minha esposa dos jornais e até mesmo dos eventos da companhia, me liberou para que retornasse a minha base, que é em Confins, disse inclusive para que eu não me preocupasse, pois eu poderia ter esses próximos dias de folga, agradeci imensamente e passei a arrumar as minhas coisas, o voo partindo do Arturo Merino Benitez Internacional direto para o Tancre, saíra essa noite e nós chegaremos no meio da madrugada, visto que são quase cinco horas de voo.

Com a minha mala organizada, fiquei só esperando que pudessem me avisar se eu ia comandar o trecho ou se iria como passageira, e a resposta chegou já quase na hora de sair. Acharam que seria melhor que eu fosse de passageira nessa volta e honestamente eu também, minha cabeça poderia explodir a qualquer momento então seria bom que eu pudesse descansar, já prevendo que as coisas não serão fáceis na minha chegada. Embarquei com os demais e aguardei repassando na ponta de língua as instruções de segurança e decolagem, mais alguns minutos e estávamos voando, pela primeira vez em muito tempo eu estava ansiosa para esse retorno, pouco tinha entendido para não dizer nada, sobre o que aconteceu com a Rosa, e aquilo tinha me abalado mais do que eu esperava. Aproveitei que estava inquieta demais para dormir, que decidi ver alguma coisa no streaming e mesmo assim não consegui ficar. A todo momento minha mente voava até Belo Horizonte, em como estariam as crianças, a Rosa, se ela estaria machucada, se o acidente havia sido grave, algo desse tipo. Entretanto eu precisava dormir, descansar minimamente para estar bem para enfrentar essa volta.

Não sei bem dizer como foi que aconteceu, mas a minha mente voou para dois anos atrás, aniversário de 12 anos do meu filho João, acordamos aquela manhã muito animados, tínhamos programado uma viagem curta para um hotel fazenda, iríamos só nós quatro, mas lógico que nosso filho teria a sua festa no final de semana seguinte, Júlia estava com pouco mais de dois anos na ocasião, e obviamente estava feliz de ver a nossa felicidade e principalmente a do irmão. Ela sempre foi muito expressiva, seus olhos denunciavam suas emoções com facilidade e quando ela viu a enorme piscina azul ainda de dentro do carro, começou a bater palminhas e gritar muito alegre com a descoberta. João já conseguia expressar sua felicidade de outro modo, fazendo planos para o nosso final de semana, que seria comandado por ele.

Assim que nos acomodamos na suíte ampla, nosso filho pediu para irmos conhecer o local, e como o aniversariante hoje era o chefe da excursão, descemos, depois que nos trocamos e pusemos roupas mais confortáveis, para fazer o que ele tinha pedido. Naquele primeiro dia brincamos muito juntos, Rosa, Júlia, eu e João estávamos radiantes, fizemos um pouco de tudo que tinha disponível para se divertir com direito a tirolesa de uma criança e duas mães desesperadas, com uma outra criança no colo gritando pelo irmão, rezando para ele descer no brinquedo com segurança. E lógico que foi o que aconteceu, finalizamos com um bolo, um parabéns no quarto e ele soprando a vela todo feliz e contente.

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