8 - PERICULUM

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PERICULUM (v.) do latim significa arriscar. Expor a risco ou perigo, à boa ou má fortuna, sujeitar ao arbítrio da sorte.

Caroline

O desespero exige medidas desesperadas, e por conta delas resolvi vestir a minha capa de arrependida e vir até aqui. Faz anos que eu não venho nesse endereço e o motivo é óbvio, mas eu não vou deixar que a Rosamaria ache que é realmente uma ótima ideia essa história maluca de divórcio, nem que eu tenha que dar um jeito que eu possa me arrepender depois amargamente. Isso me desencadeou um pensamento que é muito difícil de aceitar: se nós nos divorciamos, ela pode estar com outra pessoa depois e isso não tem que acontecer nunca, a Rosa é minha esposa, mãe dos meus filhos, ela não pode simplesmente querer o divórcio para seguir com a vida, se a vida dela sou eu. Ela é muito sensível, o que seria dela sem mim? Não! Isso não pode acontecer.

Respirei fundo e desci do carro, depois de quase meia hora dando voltas no quarteirão, para organizar a minha mente e pensar bem em como eu iria abordar o assunto que me trouxe e em como aquilo vai fazer sentido para mim, e fui indo até a portaria, esperando que me deixassem entrar sem nenhuma intercorrência. O porteiro me atendeu simpático, e eu disse onde iria, ele interfonou, mas de primeira não houve resposta, o que me soou estranho visto que ele avisou que minha esposa estava em casa. Interfonou mais uma vez e dessa conseguiu contato, foram os segundos mais demorados da minha vida, entre ele dizer o meu nome e liberar de uma vez a minha entrada. E quando aconteceu, alcancei o elevador com duas passadas, entrei em um que estava no térreo e apertei o número tão conhecido de seu andar. Algumas lembranças me invadiram, das vezes que vínhamos para cá depois da faculdade, de quando a Rosa me pediu em namoro depois de uma noite maravilhosa, do dia em que eu vim aqui de surpresa e encontrei com ela conversando com a Carolana sobre as surpresas do nosso casamento. Esse prédio presenciou muita coisa da nossa história, uma pena que a minha esposa esteja pondo tudo a perder por bobeira.

O aviso sonoro do elevador me tirou de meu torpor mostrando que eu estava no andar desejado e eu saí do mesmo segurando firme a minha bolsa nos ombros e respirando fundo. Nada poderia dar errado. Nada. Cheguei em frente à porta e toquei a campainha sem o menor cuidado, precisava ser atendida logo. E fui.

— Oi Rosa — Disse assim que ela abriu a porta para mim. Sua feição era de total surpresa.

— Oi — Respondeu seca — Já chamei as crianças, mas como elas não sabiam que você viria não estavam prontas.

— Eu vim falar com todos vocês, posso entrar? — Precisei perguntar, caso contrário ela me deixaria esperando do lado de fora.

— Entra, desculpa — Abriu espaço para que eu pudesse passar. Meu olhar correu por todo o apartamento

— Nossa, aqui se manteve exatamente como eu me lembrava.

Rosa não teceu nenhum comentário sobre o que eu tinha falado, ela realmente agora só me desprezava. Revirei os olhos só de imaginar que meu plano poderia dar errado por conta de sua cabeça dura.

— Mamãe! — Júlia gritou quando apareceu no corredor — Você veio me ver?

— Oi minha linda. — Abracei ela forte, não a via desde o incidente lá em casa, ela tinha tirado o gesso, mas estava com uma tipoia móvel — Eu vim ver todos vocês, e fazer um convite. — Olhei para Rosa enquanto falava a última parte e a vi estreitar os olhos para mim.

— Qual mamãe? — Uma Júlia ansiosa começou a perguntar — Conta, conta, conta.

— Calma filha, vamos esperar o João chegar aqui. O convite é para os três, então vou falar para todos juntos.

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