10 - DESPERATIONIS

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DESPERATIONIS (v.) do latim significa desesperar. Falta de esperança acompanhada de sentimentos violentos de mágoa e/ou revolta, sensação de impotência, aflição.

[*] Antes de ler, leia o recado.

Naiane

A minha paciência que já não é pouca, acabou! Eu amo a minha amiga, aprendi muito com ela, temos uma boa relação há anos, já fomos confidentes, ela me contou sobre a sua intenção de namorar a Rosa, me contou que estava apaixonada, eu participei de todo o processo feliz da vida delas, quando Júlia nasceu eu recebi de bom grado o convite para ser madrinha dela, e depois disso nós fomos muito felizes. Mas o ego e a intolerância da Carol ultrapassou as barreiras do aceitável, ela sabe muito bem como é a filha, sabe das suas fragilidades e ainda sim, consegue falhar nos mínimos detalhes. Não se esquece das crianças, principalmente em escola, criança pequena piorou. Assim que eu cheguei na sala da psicóloga, Júlia pulou em meu corpo, o seu pequeno corpinho tremia, assustando e com medo. Minha afilhada chorava em silêncio, quase perdendo esse choro e aquilo me bateu muito forte. O seu desespero era tanto que suas unhas chegaram a me arranhar no pescoço, ela precisava ter a certeza que estava com alguém de confiança. Agradeci aos profissionais da escola e saí com ela para ir ao jornal, não era o indicado principalmente por conta das viroses dos funcionários, mas ela só repetia que queria a mamãe.

A nossa chegada foi anunciada e Fran pediu para que aguardássemos uns pouquinhos minutos, para garantir que a reunião que Carol e Rosa estavam já tinha terminado, não demorou mais que cinco minutos, e Fran falou que podíamos ir até a sala de reuniões e vi o estado da nossa loirinha sabendo que estava quase chegando ao encontro da mãe. Ela nos acompanhou até a  tal sala de reuniões e assim que Júlia viu a Rosa saiu correndo e bateu com seu corpo contra as pernas dela. Ainda chorava, e seus olhos estavam além de molhados, vermelhos. Olhei para a Rosamaria oferecendo um sorriso com carinho e minha amiga respirou aliviada. Pegou Júlia imediatamente e a minha afilhada foi se acalmando, eu precisaria pegá-la de volta só o tempo de Rosamaria terminar sua organização e ligar para Cida, para que tanto elas quanto eu, fossemos embora. Não foi fácil afastá-la novamente da mãe, mesmo que por pouquíssimo tempo, mas com calma conseguimos.

Deixei a redação para voltar à emissora com os ombros cansados, elas estavam carregando um peso em excesso e acabava por respingar em todos nós, me lembro de quando eu disse para a Carol que seria interessante ela buscar a terapia por uma série de motivos, mas a minha amiga fez pouco caso, sempre dizendo estar tudo bem, sempre dizendo que o problema era com o outro, e hoje ela está completamente perdida. Contudo não vai ser de mim que ela vai ouvir que precisa de ajuda, não mais. Tudo tem limite, e agora a única coisa que ela merece é o desprezo.

O pós susto de Júlia conseguiu piorar em grandes proporções, com a situação caótica da redação e com o meu jornal começando um pouco mais tarde que o comum, deixando meu horário flexível, eu fui convocada para levar as crianças para a escola, minha Estela, João e Júlia na carona da tia Nani, e pelo certo seria assim pelo restante da semana acredito eu, já que minha esposa e minha amiga estavam pegadas no trabalho. Terminei de arrumar a minha filha, que hoje pediu para ir com o short saia do uniforme e a camisa polo, e foi uma pequena batalha, porque ela queria ir de crocs, não é permitido na escola e  pior, é horrível, ela gosta porque Carol gosta e ela diz que tem que andar igual a mamãe, eu só pari essa menina mesmo, todo resto é igual da mamãe dela. Dei seu café da manhã depois de acordarmos que ela iria com o tênis preto, e descemos para buscar os outros dois.

Rosamaria nos atendeu parecendo exausta e pediu para que entrássemos, também parecia estar em uma batalha ali, um pouco mais complicada que a minha, Júlia se negava veementemente de ir para a escola. E minha amiga tentava acalmá-la para que pudessem conversar melhor, mas ela parecia estar pior do que o dia anterior, mais assustada, mais ressentida, mais amedrontada. Eu conseguia ver o desespero nos olhos das duas, por motivos diferentes, claro, mas com a mesma intensidade. Ela estava com medo de ser esquecida novamente, o que é completamente compreensível. Afinal estamos falando de uma criança de 4 anos que vive um susto atrás do outro, sendo vítima do adulto que mais deveria protegê-la.

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