13 - FRUSTRATIO

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FRUSTRATIO (s.f.) do latim significa frustração. Ato ou efeito de frustrar-se, de não ter o seu desejo satisfeito, sentimento de insatisfação ou contrariedade, causado pela não concretização de um desejo, expectativa, necessidade ou objetivo.


Rosamaria

Parece que eu tomei o porre mais louco da minha vida, minha cabeça nunca esteve tão pesada, estou fazendo um esforço para abrir os olhos, o que foi que aconteceu? Me forço a abrir pelo menos um deles, e em um movimento para coçar e tentar tirar a sensação de areia, sinto algo puxando a minha mão direita para baixo, estranho, faço o mesmo movimento com a esquerda e sinto a mesma coisa. Eu estou presa? Abro os olhos e um clarão me invade, minha cabeça segue pesada e agora a minha boca parece seca, tentando entender o que está acontecendo, reparo que de fato estou presa, meus pulsos estão atados a um ferro da cama, cama de um hospital? Meu Deus! O João e a Estela, cadê eles? Ai, minha cabeça vai explodir e eu não posso simplesmente gritar, estou sozinha, com esforço consigo ver que tem uma campainha próxima do meu dedo indicador direito. Entendi, estou em um hospital, presa na cama sabe lá Deus porquê, mas cadê as crianças e o que eu estou fazendo aqui? Boca seca, extremamente seca, o que aconteceu? Aperto o botão com uma força exagerada, sinto meu coração acelerar cada vez mais e volto a fechar meus olhos, tudo a minha volta está me gerando incômodo. Um medo estranho começa a me percorrer, a última coisa que eu tenho lembrança foi de buscar as crianças na escola e estar a caminho da casa dos meus pais. Será que eu não cheguei lá? O que aconteceu com as crianças? Por que eu estou presa? Meu Deus do céu!

Uma mulher que eu acredito ser a enfermeira entrou e começou a verificar algumas coisas nas máquinas acima da minha cabeça, queria falar e perguntar o que estava acontecendo, mas a minha voz não saia. Ela pareceu perceber e me ofereceu um pouco de água, que bebi com o auxílio de um canudinho. Ela sorriu e disse com a voz baixa, que ia chamar a médica. Assenti, e acompanhei ela deixar o quarto. Voltei a olhar ao redor e vi que era um cômodo amplo, mas diferente dos convencionais, não tinha televisão, ou armários, coisas por perto que eu pudesse pegar, caso não estivesse com as mãos atadas. Eu não sei quanto tempo passou, até que duas mulheres entraram pela porta e vieram até mim com sorrisos amenos, uma de cabelos cacheados segurava uma prancheta nas mãos e a outra estava com as mãos para trás do corpo e parecia me analisar com cuidado e em silêncio.

— Oi Rosamaria. — A cacheada começou, sua voz era rouca e carregada de sotaque — Como você se sente? Eu sou a dra. Gabriela, sou psiquiatria. E eu fiz seu atendimento. Você sabe onde está?

Neguei e troquei um olhar dela para a outra médica. Que seguia me olhando cautelosa. Voltei a tentar movimentar os braços e fui impedida, obviamente. Com um gesto de cabeça indiquei meus braços e vi quando elas trocaram olhares entre si.

— Oi Rosamaria, eu sou a Roberta, psicóloga que vai fazer seu acompanhamento aqui. Você está no hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte.

— O que aconteceu? — Foi a primeira coisa que eu consegui dizer — Cadê meu filho e minha sobrinha? Por que eu tô presa?

A Gabriela começou a explicar brevemente o que tinha acontecido, mas seu bip tocou e ela precisou se ausentar, pedindo licença ela saiu e a psicóloga continuou a explicação, disse tudo o que tinha acontecido e ao passo que eu ia ouvindo, ia ficando cada vez mais nervosa, não era possível que eu tinha tido um surto psicótico não, é fora de lógica. Não faz sentido, minha cabeça voltou a doer bastante, eu queria muito que ela parasse de falar. Não estava entendendo nada, eu tinha ido buscar as crianças, de repente bati o carro e vim parar na psiquiatria de um hospital? Nada estava fazendo sentido, um desespero voltou a me incomodar e eu só sabia pensar nas crianças, na Júlia, meu Deus a minha filha dormiu sem mim depois de tudo.

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