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Ela

Eu odiava primeiras vezes.

Lembro da primeira vez que dancei balé, do quanto foi cansativo como criança não parecer em nada com as fitas de vídeo da mamãe girando, em ser tão graciosa como ela. Lembro do meu primeiro selinho no fundamental, roubado por um garoto chamado Luís, ainda no México. Odeio que ele me roubou isso, e que eu permiti que ele roubasse. Eu estava lá, vi ele vindo até mim. Mas não disse nada, então como ele presumiu que eu queria? Odeio permitir que as pessoas tomem tão facilmente decisões por mim, porque é o que uma boa garota faz. Ela dança e continua a carreira de sua mãe, ela aceita um selinho de um menino qualquer, ela fica calada ao frequentar uma escola tão distante de casa, mesmo não se sentindo confortável no ambiente.

Era meu primeiro dia de aula desse ano, e eu já estava cansada. O colégio católico Saint Félix se achava muito moderno sendo misto e permitindo saias acima do joelho. Abuela faz questão de deixar as minhas no meio da canela. Eu aceitava, era o que deveria ser feito. Ela teve o trabalho de fazer a barra de minha saia, então que fosse do jeito dela. O colégio era grande, mas cheio de corredores que eu considerava inútil. Com um uniforme ridículo de colegial em tons de verde e branco. Eu gostava dos sapatos, eram confortáveis.

Na aula, o tempo parece não passar, e fiquei aliviada quando acabou. Sinto alguém me encarando, em um dos armários próximos ao meu. Não é Louise pois não consigo vê-la antes das aulas, sempre chego tarde tendo que vir do outro lado da cidade. Ou nenhum dos seus irmãos. E graças a Deus, não é Dale, fico aliviada.

— Desculpe? Você quer alguma coisa? — eu perguntei, com as sobrancelhas franzidas em sua direção. 

A garota loira e de rosto perfeito vem até mim, com todos os seus pertences, como se não estivéssemos acabado de sair do primeiro tempo e sim indo embora. Ela parecia como todas as outras alunas da escola.

— Você é a garota que deu o livro não é? — murmurou, como um segredo.

Eu franzi o olhar, desconfiada, mas ela não pareceu perceber. E, se percebeu, não pareceu se importar.

— Você está cometendo um erro. Você tem ideia dos boatos sobre ele? Não. Claro que você não tem. Você é nova aqui, deve ser — continuou, as palavras deixando sua boca com grande urgência.

Não consegui conter uma risada com seu último comentário, agradecendo minimamente por ela não ser da minha sala. Estou confusa com sua abordagem. Ela deve estar falando sobre o livro que dei para Dale, óbvio, e com seu tom, só posso assumir que ela é uma pessoa.

— A propósito, meu nome é Mon. Monique Krueger Peterson — disse ela, com um sorriso radiante. 

— Maria Rebeca - digo, confusa com sua mudança repentina de expressão.

— Rebeca? — ela perguntou, como se já me conhecesse de algum lugar — Eu já sei! - ela disse juntando as mão - Você é a garota bolsista!

Ah, ótimo.  Agora teria que inventar um outro nome antes de me apresentar para as pessoas.  Obrigada, estereótipos.  

— Hm... Sim — respondi, um pouco incomodada. — Sou eu. 

— Interessante — seu tom era bastante curioso— Nem imagino como deva ser você. Você convive muito com os Castilhos? Eu nunca te vi.

— Ãhn... eu sou meio que nova nisso. Porque tantas perguntas? Você é namorada dele? — o tom de minha voz parece ofendê-la — Então, ainda não sei sobre o que você está falando, ou qual crise de ciúmes deu em você para achar que pode vir falar comigo assim, e honestamente nem quero descobrir. Não quero me meter entre vocês. Era só um livro.

Onde Reside o Desejo (Concluído)Where stories live. Discover now