Onde Reside o Desejo (Concluído)

.12.

ELE

Monique tem um corpo lindíssimo. Reparo nisso enquanto ela se veste, lentamente, como se quisesse estender o momento. Termino meu cigarro e jogo na lixeira ao lado da cama.

—Espero que sua mãe não me convide para jantar.

Suspiro. Ela não iria convidar. Talvez minha mãe nem saiba que Mon está aqui em cima. Esse comentário era algo que ela fazia com frequência, pois queria que eu a chamasse para ficar e jantar, com minha família. Então ela se faz de desinteressada, mas sei que quer isso a muito tempo. Já vestida, Monique passa os olhos pela minha mesinha de cabeceira e vê o livro. O livro dela.

—Você leu?- ela pergunta, esticando a mão para tocar a capa surrada.

Encaro o teto, não quero que ela veja o que acho da história.

—Acabei hoje de manhã. Eu gostei.

Ela faz que sim e tira a mão do livro, sorrindo para mim com os lábios fechados.

—Você nunca lê as coisas que eu gosto. - ela senta na ponta da cama.

Levanto e pego minhas roupas que estão no chão, estou rindo de sua alfinetada ciumenta.

—Talvez você nunca tenha dado a recomendação certa. Acontece.

Ela ri, mas não está feliz. Quando subo a calça, me viro para vê-la. Monique está com os lábios inchados sob a meia luz do quarto. Apenas o abajur ilumina o cômodo, com a luz fraca que entra pela janela.

—Eu vou indo, minha mãe não sabe que eu estou aqui. - ela pega sua mochila e casaco e vem até mim.

Monique me beija demoradamente, sem a pressa que estava demonstrando estar. Retribuo o beijo mas a afasto com as mãos em seu quadril.

—Você sabe - começo nossa frase mais repetida - que o que começa aqui...

— ...termina em algum lugar. Então eu vou...

—... pra logo depois voltar. Nunca ficar. - termino.

Ela assente e sorri.

—Eu estou bem. - ela diz, para si mesma.

Aperto seu queixo e a vejo ir embora. Visto minha blusa e saio do quarto, trancando a porta atrás de mim.
Antes mesmo de bater na porta de Olga, ela abre e manda eu entrar. Seu nariz franze quando ela olha para mim, está fazendo uma careta.

—Você fede a perfume caro! A Peterson tava com você? - ela me julga, indo sentar em sua poltrona, ao lado da cama.

Reviro os olhos e me jogo em seu colchão.

—Você estava indo atrás de mim? Ultimamente sinto que você tem me vigiado, nem precisei bater.

Ela me encara, talvez esperando que eu respondesse sua pergunta, reviro os olhos outra vez e deito de lado, para sua direção.

—Sim, Monique estava aqui. Algum problema?

Ela dá de ombros e revira os olhos. Vejo que do lado da cama que não estou deitado, há vários papéis espalhados.

—Estava estudando?- estico a mão e pego um dos papéis e vejo que são panfletos.

—Estava pesquisando sobre faculdades, preciso me decidir esse ano. Sua mãe se ofereceu para viajar comigo, conhecer algumas pessoalmente. O que você acha?

Sorrio com a clara animação em sua voz.

—Olga, isso é fantástico. Tem alguma em mente?

—Quero muito ir para Columbia, mas não sei como. Preciso pesquisar mais, e é muito longe daqui. Sua mãe diz que seria bom ter outras opções.