Onde Reside o Desejo (Concluído)

.14.

ELE

—Você gosta dela. - Olga diz, dando um sorriso triste com os lábios fechados.

Me acomodo no banco do carona e vejo Maria e a avó entrarem em casa pelo retrovisor. Não olho para Olga, tenho medo de ela estar certa.

—Maria? Ela é legal. - digo, tentando soar despreocupado. Ignorando meus pensamentos sobre os olhares furtivos que ela me deu, ou do quanto quis falar com ela sobre o final do livro.

—Você basicamente implorou para que eu fosse falar com ela e oferecer a carona até aqui. Qual é o lance de vocês? E porque a avó dela é tão incisiva? De onde veio aquele papo da faculdade?

Tento rir de sua voz se tornando aguda enquanto fala e gesticula com uma mão no volante.

—Dale, você gosta dessa garota. - ela afirma, olhando para mim enquanto dá a curva para a avenida principal -Não adianta negar.

Continuo encarando as lojas que passam pela janela, evitando contato direto com minha amiga.

—Você gostou do filme? Não tivemos tempo de comentar e sei que você queria ver esse faz alguns dias e...

—Dale! - ela me interrompe - Não vou comentar sobre "Namorada de Aluguel" agora. Talvez mais tarde, mas não agora. O que está acontecendo entre vocês que eu não sei?

Viro meu rosto para ela e não consigo mentir olhando em seus olhos, suspiro forte e dou um sorriso triste. Precisava falar para alguém.

–Há algo sobre ela que me deixa intrigado. Não sei direito o que é. Parece que conheço ela de algum outro lugar. Você já se sentiu assim?

Os olhos azuis de Olga piscam algumas vezes e ela volta a prestar atenção na estrada, quando o sinal abre. Minha amiga aperta os olhos para o sol forte que está fazendo hoje.

–Talvez. - ela apenas diz. - Mas porque?

Coço o pescoço diante de seu questionamento.

–Porque o que?

–Porque você gosta dela? Eu sei que ela é linda, e parece ser extremamente talentosa, mas porque? - ela pergunta, os lábios contraindo mais que o normal no fim da frase.

–Eu nunca disse que gostava dela. - dou um sorriso e ela não parece rir de volta.

–Dale, você parou de prestar atenção em qualquer palavra minha no momento que avistamos ela. A última vez que isso aconteceu foi... - Olga movimenta a cabeça para o lado, tentando lembrar. - Eu nem lembro a última vez que isso aconteceu. Tem algo sobre ela que você não quer me contar. Vocês já se beijaram?

A pergunta me pega de surpresa e sinto algo estranho em meu rosto, um aquecimento incomum em minhas bochechas.

–O que? Não! Ela é nova pra mim. - Passo as mãos em meu rosto e volto a olhar para a estrada. - Escuta. Eu fiquei curioso sobre ela umas semanas atrás e perguntei para você.

–Ok. - ela diz, acompanhando meu raciocínio.

–Depois nos vimos uma vez, a qual ela foi jantar lá em casa. E...

Olga parece tentar lembrar que dia havia sido esse. Até seus lábios se entreabre e ela os morde em seguida.

–O que? - pergunto.

–Maria não jantou conosco, Dale. - o tom de voz de minha amiga é de desculpas, mas não vejo como ela teria culpa nessa situação.

Sinto minhas sobrancelhas encostarem uma na outra. Olga parece notar minha confusão e gesticula com uma das mãos em minha direção.