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ELE

–Eu aceitaria ficar careca por duzentos dólares. - Minha melhor amiga entra por último no carro e senta ao meu lado, bufando.

A saída do hotel se distancia enquanto o carro avança. Vejo que Olga puxa alguns fios para trás da orelha, e que sua maquiagem está borrada com um vermelho específico ao redor de seus olhos.

–De onde vem esse número tão específico? E porque está tão obcecada por seu cabelo ultimamente? - Questiono para Olga, que apenas revira os olhos. Ela não fala mais nada pelo resto do caminho.

Katherine por outro lado, veio reclamando do carro que pegamos de Old Hill até o hotel no centro de São Francisco, e desse último até o War Memorial Opera House, o teatro onde veremos Louise dançar. E Maria, meu cérebro insiste em acrescentar. Estava pensando nela a cada segundo desde nosso estranho encontro na floricultura dias atrás. Meu peito estava disfuncional em saber que iria vê-la daqui a pouco.

–Poderia ter ficado em casa. - Minha irmã mais nova murmura outra vez quando meu pai estaciona nosso carro perfeitamente na vaga do estacionamento.

Mamãe sai do carro quando seu marido abre a porta e alisa a manga do vestido de Katherine.

–Você consegue ficar uma hora sem reclamar? Louise já estava ficando triste com tantas reclamações. Você viu a cara dela no hotel? - Ela questiona, tentando olhar para o rosto de Katherine, que apenas sai andando na frente, já subindo as escadas do imponente teatro. Minha mãe suspira e engata o braço em meu pai. - Não sei o que fazer com ela.

–Deixe-a. - Ele diz, beijando a testa de mamãe. - Dale, vá na frente com sua irmã.

Reviro os olhos e sigo Katherine, a alcançando quase na entrada. Ela está claramente odiando todas essas pessoas exageradamente arrumadas.

–Anime-se. - Digo enquanto adentramos a estrutura de luz amarelada e o ambiente preenchido por risadas e conversas. Deixamos nossos casacos na chapelaria, onde uma moça gentil os recebe. - Será só por essa noite, Kath. Amanhã você poderá ser uma turista comum com Olga e Louise, como combinado com o papai.

O combinado havia sido o seguinte: Louise viria um dia antes da apresentação de abertura com sua professora de ballet, no caso ontem, enquanto nós viríamos de carro até São Francisco e assistiríamos sua apresentação, no caso hoje. Eu voltaria com papai no carro amanhã de manhã e as três garotas ficariam no hotel com a mamãe por mais um dia, para um passeio em família e voltariam de avião depois. Não era um mau plano, mas eu odiei a logística e estava tremendo as quase três horas que passaria num carro com Frank. E, quanto a Arthur, ele dirigiu até aqui em seu Maserati com a família de Maria. Claro que o genro perfeito tentaria conquistar os idosos Conteras sendo um cavalheiro e trazendo toda a família até aqui. Eu não sabia em que hotel eles estavam, mas duvidava muito que fosse o The Fairmont como minha família.

–Você só veio ver Maria. - Katherine volta a falar, se soltando de mim para andar com Olga. - Não seja hipócrita e finja que está fazendo isso pela família.

Vejo as duas acompanharem meus pais, mais a frente. Os sigo, tentando ignorar o que minha irmã havia falado. Não era verdade, uma parte de mim sabia que eu vim por Louise. Aquilo também era importante para ela. Observo meus pais beberem algumas taças de champagne e pegarem aperitivos de salmão no salão principal. Em meu contato com o teatro, essa etapa da recepção era a pior parte. Não podíamos simplesmente ir até os assentos e curtir a peça?

Reparo em Katherine entediada ao pé de minha mãe, como uma criança e em Olga ao meu lado, parecendo ansiosa.

–Quer conversar? - Puxo papo, colocando as mãos nos bolsos da calça social.

Onde Reside o Desejo (Concluído)Where stories live. Discover now