🌸 Capítulo 3 🌸

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Casas coreanas são meio estranhas... No Brasil, se fosse possível, colocariamos grade até no teto, mas aqui, a única coisa que separa a rua da casa é um pequeno muro e um portão com um ferrolho por trás, não importa o quanto eu tente, a única coisa que se passa pela minha mente era...

- E se um ladrão invadir a nossa casa? Não acha que deveríamos por grades ou aumentar esse muro?

- Amada irmãzinha, você esqueceu que estamos num país de primeiro mundo? - Marina passou sua mão pelo meu ombro depois de sair do carro alugado - aqui não tem ladrões. - sussurrou.

- Não é que não tenha ladrões... - respondeu tio Chul - eles só são raros.

- Verdade, meu amigo foi assaltado ano passado. - Yu-jun confirmou - embora a culpa também tenha sido dele, ninguém em sã consciência joga pokémon GO às três da manhã.

- Pokémon GO? Ha, que babaca! Ele tem algum problema ou algo assim? - perguntei, é tão ridículo jogar esse jogo, mas se ele tiver um problema retirarei meu insulto.

- Aham, tolerância a lactose!

- Ahh, então ele é um blc...

- B-bl, o quê? - Yu-jun não entendeu.

- BLC, bebe leite caga. - Traduzir para o coreano coisas assim é muito difícil, em português é uma linda sincronia, mas em coreano... pelo menos ele entendeu, dá pra ver pelo seu sorriso.

- Aí meu Deus, Clara! Não ensina essas coisas nojentas! - minha mãe me repreendeu - ignora ela, Yu-jun!

- Vamos ver lá dentro? - Tio Chul surgiu animado.

Ele passou a mão por trás do mini portão e abriu, segurança mil, depois do muro era pouco mais que um metro para a porta principal, com aquelas trancas digitais que você só precisa colocar a senha. Ele disse que era o dia do aniversário de cada um de nós na ordem, ou seja, a senha era 814182629, mamãe, Marina, eu, tio Chul e Yu-Jun.

Por fora não parecia, mas a casa era bem espaçosa, na entrada tinha uma área para deixar os sapatos e então vinha a sala do lado direito e a cozinha ao longe, do lado esquerdo dois quartos e um banheiro, tinha uma escada bem no final.

- Meu Deus, amor.... É enorme! - mamãe falou jogando sua sapatilha na entrada.

- Bonito, certo? Escolhi a casa perfeita para nós! - tio Chul se vangloriou.

- Tio Chul... Isso deve ter sido muito caro! Podia ter economizado! - Parece que coreanos não sabem o significado de uma casa simples.

- Kurara, o seu quarto e o do Yu-jun é lá em cima, vai dar uma olhada! - ele ignorou completamente minha opinião.

- Perai, por que a Clara e o Yu-Jun é quem vão ficar com os pães de cima? - A Marina ainda tem dificuldade de falar algumas palavras parecidas no coreano, erros como esse eram comuns.

- É quarto, não pão! - respondi andando até as escadas.

- Porque você é friorenta! Qualquer coisinha fica gelada que nem uma pedra de gelo, lá em cima é mais ventilado, por isso combinamos de você ficar aqui embaixo. - escutei minha mãe responder a ela.

O piso parecia ser de madeira, não é uma casa tradicional, mas tenho certeza que é madeira de verdade. Isso não aumenta os riscos de desabamento? Casas de madeira se destroem rápido se pegar fogo ou passar por um tufão... Casas brasileiras são melhores! Tijolo, ferro e cerâmica deixa tudo mais seguro!

Assim que subia as escadas tinha uma enorme área com uma sacada, dois quartos e um banheiro do lado da escada, explicar como é uma casa é tão complicado... Talvez eu desenhe a planta de uma forma mais fácil. Mesmo sendo uma casa temporária para mim, acho que eu deveria registrar isso.

- Com qual quarto quer ficar? - Yu-Jun apareceu ao meu lado enquanto olhava pela sacada.

- Tanto faz...

- Então, fico com o da frente.

- Pode ser...

- Olha... Eu sei que pode ser difícil, mas o papai te matriculou na minha escola para que você possa contar comigo, portanto, pode vir até mim quando precisar. Se tiver dúvidas com a matéria, eu tenho anotações dos anos anteriores.

- Não é isso... É que... Eu não devia estar aqui... - ele me observou por uns segundos.

- Ahhh, já sei! O primo do meu amigo é do seu ano, quer que eu fale com ele para vocês se conhecerem e virarem amigos? Vai facilitar as coisas, não?!

- Não, não, não precisa...

- Yu-Jun, Clara, venham aqui pra baixo! - A mamãe me interrompeu. - O que vão querer para comer?

- Hm... Não sei, tanto faz. - falei descendo as escadas com Yu-jun.

- Falem o que querem, você também Yu-Jun, em 3, 2, 1. Macarrão.

- PIZZA. - gritei.

- TTEOKBOKKI - Marina gritou.

- Sopa de broto de feijão - Yu-jun falou.

- FRANGO FRITO - Tio Chul gritou.

Todos tinham falado ao mesmo tempo coisas diferentes, se ela escolher comer tteokbokki, juro que vou fazer regime intermitente, mas... Se for sopa de broto de feijão, acho que tudo bem tomar... Afinal... Foi o Yu-jun quem escolheu.

- Ótimo, vai ser macarrão, pode pedir, querido!

- Se ia escolher o que queria então pra que perguntar? - murmurei, me virando para pegar algumas coisas para ir tomar banho.

- A propósito, como vamos comer no chão? - Marina se sentou no chão tentando interpretar.

- Sobre isso... Eu falei com meu amigo para emprestar uma mesa, ele deve chegar...

Uma casa nova sempre é muito assustadora, você não sabe que tipo de pessoa morou nela antes, se era um assassino, uma pessoa doente, uma família feliz ou uma família com brigas constantes, casas assim me fazem imaginar e isso acaba me deixando com muito medo.

Vasculhei na minha mala um hidratante para passar nas minhas pernas depois do banho, como havia me depilado, a alergia da minha pele com a gilete faz minha perna se encher de pintinhas vermelhas. Será que a Marina têm?

- Mas... Que porra é essa? - Quando abri a sua mala e comecei a procurar achei uma coisa que não devia estar lá... Um pote do mesmo creme de cabelo que uso - Pode me explicar o que é isso?

- É creme... - ela falou como se fosse inocente.

- É o MEU creme de cabelo! Por que você tá usando o meu creme de cabelo? Combinamos que não iríamos usar o mesmo creme!

- Mas esse não é o seu creme, é diferente! - ela se aproximou tentando tirar o pote da minha mão.

- Não é? Até parece! - abri a tampa e cheirei, era o mesmo cheiro que o meu, o mesmo! - é o mesmo! O mesmo cheiro!

- Me devolve! - ela começou a puxar da minha mão, mas eu ainda segurava firme.

- NÃO! VOCÊ SEMPRE FAZ ISSO! SEMPRE COMPRA MEU CREME DE CABELO, USA, ACABA E VEM ACABAR COM O MEU! ERA O ACORDO, POR QUE VOCÊ MUDOU?! - puxei o pote para mim.

- EU ENJOEI DO MEU, QUERIA ALGO NOVO E O SEU CREME TEM UM CHEIRO TÃO GOSTOSO, EU QUERIA PROVAR ELE UM POUCO TAMBÉM! - ela puxou o pote pra si de novo.

- ENTÃO, POR QUE NÃO COMPROU DE OUTRO? TINHA QUE SER O MEU! - puxei de volta.

- PARA COM ISSO, É SÓ UM POTE! - ela puxou.

- NÃO. É. SÓ. UM. POTE! - falei pausadamente.

- Ahh, Sangchu! - Escutei Yu-jun falar.

- O quê? alface?

Eu não sei como exatamente aquilo aconteceu, mas foi questão de segundos. Em um momento eu estava puxando o pote e me perguntando o motivo do Yu-jun ter falado alface naquele momento, no outro a Marina tinha olhado para trás de mim e soltado o pote que, como ainda estava puxando com força, acabou voando da minha mão e, por estar aberto, tudo o que tinha dentro dele havia caído. Mas não caído no chão, e sim na cabeça de um garoto que estava segurando uma mesinha de madeira.

- SANGCHU! - Yu-jun gritou.

Cala A Boca, Oppa!Where stories live. Discover now