Capítulo 06

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— Attor, por favor, reconsidere essa maluquice.  — Minhas tentativas se resumiam a implorar para que a inteligência do android fosse despertada. — Coloca na sua cabeça que...

— Chegamos.  — Sua voz firme me cortou, antes que pudesse dizer mais alguma palavra. Meu instinto foi ficar por detrás de seu grande corpo de metal negro. Ele apenas permaneceu com a posição impecavelmente ereta de todo robô e esperou a porta abrir para andar. 

Enquanto Attor dava longos passos pelo corredor branco, meus pequenos pés tentavam acompanha-lo, para ficar agarrada a suas costas. Na minha imaginação, se eu me mantivesse muito grudadas, talvez os demais androids não me notasse. Era idiota, porém, o que mais poderia fazer? 

— Olá!   — O primeiro "oi" vinha de uma voz igualmente robótica, mas com um timbre diferente. Ou seja, não pertencia a Attor.

— Olá, Zikkar. Todos estão reunidos?   — MZ130 perguntou, deixando-me surpresa que estivesse chamando o outro android por um nome especifico e não pela numeração de fábrica. 

— Sim. Estão aguardando suas ordens.   — Quando Attor continuou a andar, me deparei com a incerteza de correr de volta ao elevador, aproveitando o dialogo entre os dois ou de continuar o seguindo, confiando em sua palavra de me manter segura.  — O que você traz consigo? — A curiosidade no tom do android quase me fez escolher a primeira opção, mas fui impedida por um braço musculoso com cabos negros, pertencente a Attor. Sua mão me segurava pelo pulso com firmeza.

— Esta é Cassi. Minha Cassi. 

Quando MZ130 se afastou um pouco mais, pude me deparar com um robô um pouco conhecido por mim. Não que eu fosse amiga ou tivesse tido contato, mas vez ou outro pude vê-lo realizar testes na sala de corrida. Era um robô-carro, feito como automóvel. Claro que apenas os mais ricos possuíam condições de tê-los, mas ainda assim, a Renovull não poderia ser considerada uma empresa para classes baixas. As peças que formavam o corpo do robô-carro eram de um dourado amarelado e seu rosto, diferente de Attor, pendia mais para o lado mecânico, sem muito traços humanos como pele, orelhas ou lábios corados. Seus olhos eram tão neons quanto o de Attor, mas a luz era mais espaçosa, o que me lembrava de um farol de carro. 

— Então é ela. Vou avisa-los que a trouxe consigo. — Quando o android deu um passo para frente, ainda com sua atenção fixa em mim, por instinto me afastei, no limite em que o braço de Atto permitia. — Me desculpe por assusta-la. Não proporciono perigo algum, senhorita Cassiane.

— Ela ainda não está acostumada conosco, mas logo estará. — MZ130 fez um sinal com a cabeça, que o outro entendeu e se afastou, desaparecendo ao andar na nossa frente. 

O aperto de Attor diminuiu quando relaxei um pouco, sem ver nenhum olhar robótico em minha direção. Continuamos a andar, até ouvir o chiado de uma porta de metal se abrindo. Quando adentramos, meu coração errou as batidas com o que vi. Cerca de centenas de androids, de todos os tipos, estavam em pé, cuidando uns dos outros. Alguns escovavam os cabelos, outros cuidavam da lataria, havia até mesmo robôs limpando o chão com...com...um liquido vermelho, muito, MUITO parecido com sangue. 

— Attor.  — Meu sussurro saiu arrastado, quase como um choramingo de pavor. 

— Venha, minha Cassi. Não tenha medo da nossa família.  — O tom alto com que ele falou me deixou constrangida, principalmente ao pensar que alguns dos demais poderia ter ouvido. Sua família. Foi isso que quis dizer, mas me mantive calada, apenas agarrada as costas de metal de Attor. 

Pensei que poderia me manter escondida, de olhos fechados, enquanto respirava fundo para não ter um treco ou tentando pensar que meu sangue não seria derramado pelo chão e os androids ali limpariam ele. Mas foi difícil, principalmente quando o robô me puxou e me colocou a frente dele, sem me dar chances de escapar dos olhos neon. Pensei que os robôs iriam se descontrolar e avançar ou me direcionar olhares ameaçadores, cheios de loucura. Mas me surpreendi com a calma que mantiveram, muito diferentes das imagens que a TV mostrara, das maquinas entrando em casas e empurrando carros. 

Minha Bela Criação - Trilogia Androids Que AmamWhere stories live. Discover now