Capítulo 17

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— Lucia, Lucia. Tenho certeza que nesse momento deve estar na minha sala, aproveitando-se da minha poltrona, xingando meus retratos e provavelmente riscando a minha parede. São atitudes típicas de você. Mas não se preocupe, nada disso me importa. Acredito que esteja procurando por isto. — Havia um vidro corcular em suas mãos, de cor esverdeada. Era viscoso e grosso, como a gosma de uma lesma. — Ou talvez esteja atrás dos laboratórios de nossa juventude. Queria ver seu rosto decepcionado ao descobrir que eu inundei tudo com cimento. Não tem como me incriminar, se pensava em fazer algo do tipo. — Lucia estava com raiva nítida, enquanto cruzava os braços por cima da jaqueta preta de couro. — Se estiver pensando o motivo que tenho para fazer esse vídeo, não fique mais ansiosa. Vou te mostrar. — A imagem que se seguiu foi tão pertubadora, que eu pude ouvir o impacto dos joelhos brancos de Zeno no chão. Ao me virar, sua expressão de miséria me sufocou como se ele amarrasse uma corda em volta do meu pescoço. Meg estava pendurada por fios, sem braços ou pernas. Seu peito estava aberto, e diferente do que imaginei, não haviam somente circuitos, mas sangue.

— Oh...meu Deus...— Coloquei a mão sobre a boca, sentindo a ânsia sondar a boca do meu estômago. Attor que nem percebi estar atrás de mim, passou os braços ao redor de minha cintura, para me manter em pé. — Attor...Attor...— Nada saia da minha boca além do seu nome.

— Shh, calma, minha Cassi. Calma, meu amor. — Sua mão mecânica ficou suave sobre o topo do meu cabelo, alisando-o devagar, como a um gatinho. Aquilo me acalmou e mesmo que quisesse sair, senti que precisava ficar ali. Eu quero saber a verdade.

— Não se preocupe, não fizemos estrago nas peças principais. Olha que belesura temos aqui. — Cinthia se virou, desaparecendo do vídeo por alguns segundos, antes de voltar com um órgão dentro de um plástico transparente, contendo o mesmo liquido verde até o topo. Um cérebro. — Agora poderemos entender como eles estão desobedecendo os comandos. Deveriam estar mortos. Mas de algum jeito, esses cerebros sobreviveram, não é mesmo? Está com medo que eu encontre o ponto fraco de seus amiguinhos? — Sua voz continha uma grande quantidade de ironia e provocação. Henry parecia uma criança emburrada, com raiva do amigo que não quis brincar com ele. — Sabe...— Ele passou os dedos brancos sobre o tecido do terno de luxo. —...pensei que você seria mais esperta. Sempre deu uma de sabichona. Presumi que estava perdido quando soube do ataque a empresa. Felizmente seus androidzinhos não voam e pude escapar com minha equipe e o Soro Vedette.

— Eu vou mata-lo. Destroça-lo. — As palavras saíram de Zeno, que as repetia, olhando fixamente para a tela, sem desviar os olhos do rosto vaidoso de Henry. — Vou acabar com ele.

— Deve estar se remoendo em sua cadeira. Afinal, vidas inocentes estão sendo tiradas por conta de sua resistência. Meus montadores não sabem diferenciar maquinas de humanos, me compreende? Todos que estiverem juntos aos seus amiguinhos morrerão. — O sorriso que Henry deu foi arrogante, como uma serpente se deliciando do veneno em sua presa, enquanto ela agonizava. — É bom que saiba que não costumo demorar muito nas minhas mensagens, mas como é uma conhecida muito querida, não tem porque não fazer isto. — Por alguns segundos, pude jurar que Cinthia levantou os lábios em reação a fala, incomodada. — Ah! E conte a MZ130 que ele não ficará muito tempo impune! Se não o entregarem, sofreram fortes consequências. Isso...— O foco da câmera voltou para o corpo pendurado de Meg. —...é apenas o começo. Mandarei o rosto de cada um dos seus que eu matar. — A imagem retornou a Henry. — É melhor me entregarem o android negro. Vocês sabem que os humanos nunca os aceitarão. Mas a escolha é de vocês! Pense bem, Lucia. Posso deixa-la sair sem maiores riscos, ou você pode morrer juntos com suas maquinas. Lembre-se de AB001. Todos os seus amigos acabaram do mesmo...— E antes que o vídeo pudesse continuar, a tela ficou negra e Lucia se revelou abaixada sobre o notebook, provavelmente tendo acabado desligar a TV.  Quem era AB001?!

Minha Bela Criação - Trilogia Androids Que AmamWhere stories live. Discover now