Capítulo 10

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— Tenho medo de como isso pode terminar.  — Finalmente consegui formular alguma coisa, admitindo para mim mesma o que eu não queria admitir. 

— Se no fim terminamos juntos, não me importo com mais nada. — A intensidade de seus olhos azuis me desconcentrava completamente. Minha preocupação em encontrar o corredor certo sumiu  naquele momento.

—  Você é forte, literalmente feito de aço. Eu não. Me machuco muito fácil, e não consigo simplesmente deletar as decepções da minha mente. Se tudo der errado...

— Meu corpo é feito de metal, Cassi. Mas minha alma é como a sua. Dar certo ou não, apenas nós podemos decidir isso.

— Qualquer coisa entre nós, é impossível, Attor. Meus desejos são errôneos, não deveriam existir e nem tem explicação razoavel do porque existem. E...sem levar em conta os obstaculos que enfrentariamos.

—  " De almas sinceras a união sincera. Nada há que impeça: amor não é amor. Se quando encontra obstáculos se altera, ou se vacila ao mínimo temor. Amor é um marco eterno, dominante, que encara a tempestade com bravura; é astro que norteia a vela errante, cujo valor se ignora, lá na altura. Amor não teme o tempo, muito embora seu alfange não poupe a mocidade; amor não se transforma de hora em hora, antes se afirma para a eternidade. Se isso é falso, e que é falso alguém provou, eu não sou poeta, e ninguém nunca amou."

— William...era mesmo bom no que escrevia. — Ouvir a voz robótica, enquanto o corredor parecia ter silenciado qualquer som, criou um clima tão intenso, que meus olhos quase lacrimejaram e meus lábios tremeram. Os olhos do android eram como chamas em meio a uma caverna escura, brilhando como a mais pura estrela virgem. — Mas sempre pensei que ele sonhava com coisas impossíveis. 

—  Shakespeare era um homem corajoso, pois escrevia o que muitos queriam expor e não conseguiam. Suas palavras foram usadas mesmo após sua morte,  para unir casais. Seus sonetos são o texto perfeito para enlaçar os corações. O que para ele era impossível, tornou-se o puro doce das palavras de outros amores. Não somos Shakespeare. O que queremos está  ao nosso alcance, mais perto do que você pensa, minha Cassi. As palavras deste homem apenas servem para realçar o que já sentimos. 

— E como você descobriu isso?

— Descobri o que?  — Sua voz havia se tornado um sussurro robótico, porém mais sedutor e grave do que o melhor locutor de rádio. 

— Que poemas e sonetos são meu ponto fraco.

— Não sabia. Mas fico feliz que meu chute tenha tido sucesso. 

É incrível como o mundo coopera para nos atrapalhar quando estamos felizes, pois finalmente quando pensei que estava com a mente clara, o corredor ficou escuro e luzes vermelhas começaram a clarea-lo, os alarmes de emergência soaram, me deixando agitada. O que está acontecendo? Me perguntei. A única explicação para o sistema de segurança apitar seria uma ameaça, mas pensava que a ameaça já estava ali dentro, andando pelos corredores. Havia outro perigo?

— Attor...— Foi a única coisa que consegui dizer, desviando minha atenção das sirenes para o rosto do android. O que encontrei em sua expressão me assustou, olhos sem vida e uma boca fechada em linha reta. Ele não estava alegre como antes, muito menos sedutor. — O que aconteceu?

— Nada. Se esconda em seu quarto. Continue a andar pelo corredor, pegue o elevador e desça 3 andares. Quando as portas se abrirem, continue reto, chegará na porta 32, é onde foi colocada. Ficará tudo bem. — Ele nem mesmo me encarou ao me informar como voltar para o cômodo em que acordei.

— O que está acontecendo?! — Repeti a pergunta, na esperança de chamar sua atenção para mim. Seus olhos me encontraram brevemente, antes de se desviarem, enquanto o android se afastava alguns passos.

Minha Bela Criação - Trilogia Androids Que AmamOnde as histórias ganham vida. Descobre agora