Capítulo 08

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Eu acordei e tudo era real. Para minha infelicidade, claro. A primeira prova de que nada havia sido um sonho, foi a presença de um enorme robô feminino com um uniforme de empregada, como alguns filmes cliches gostavam de fazer. Seu avental branco e bordado me lembrava de alguns filmes antigos. Considerando que esses androids estavam sendo fabricados para vendas, conclui que alguns consumidores tinham gostos...estranhos demais.

— Olá, senhorita Cassiane. — Ouvir a voz robótica me cumprimentar, igual a forma como todos os outros androids o faziam, estava começando a me incomodar. Sempre tão formais...aquela educação toda não combinava com o que eles estavam fazendo ao se voltar  contra a minha espécie. — Trouxe um cardápio preparado especialmente para você. Levamos suas preferências em consideração. Experimente, por favor. — Suas mãos robóticas se ergueram, apontando para a bandeja que substituía a jarra de água da noite anterior, na mesinha ao lado da cama.

Não tinha palavras para o que vi, um café da manhã dos meus sonhos mais felizes. Havia um pouco de tudo que eu gostava, algumas coisas caras demais para me dar o luxo de poder come-las. O dinheiro que eu ganhava não era pouco, mas suficiente para pagar água, luz, aluguel, entre outras coisas e por isso nem sempre me sobrava grana para comprar alguns pratos apetitosos ou guloseimas. Morar sozinha podia ser muito difícil. Sem levar em conta que eu passava a maior parte do tempo na Renovull, naqueles últimos meses. Então alimentos fáceis e rápidos eram minhas escolhas mais recentes.

Entretanto, naquele momento, parado ao meu lado, se encontrava um belíssimo café da manhã. Só percebi que estava parada encarando a bandeja, quando o android pigarreou, me chamando a atenção.

— Algo não te agradou, senhorita Cassiane?

— Ãh...na verdade, acho que só estou um pouco surpresa. — Impressionada. Mas eu não diria aquilo em voz alta, muito menos elogiara aquela máquina.

— Que bom! Fico aliviada! Eu e minha equipe preparamos tudo de acordo com o cardápio que o senhor Attor nos passou. — Eu duvidava que ela realmente se sentisse aliviada, mas também estranhei a forma como chamara por MZ130, como se fosse alguém de cargo importante. Era padrão dos androids serem formais com os humanos, mas entre eles...não. Aquilo não estava em sua programação.

— Ele te deu um cardápio? — Perguntei, me atentando a informação passada sem acreditar. Até o que eu como foi anotado por aquele robô stalker? As palavras de Lúcia não saiam da minha cabeça, sobre como Attor podia ser...observador em relação a mim.

— Sim, senhorita. Um cardápio contendo tudo o que gosta muito de comer, gosta um pouco, não gosta ou tem alergia. Também havia algumas informações a mais, como ingredientes que alteram o seu humor, dependendo do seu ciclo menstrual. Fiz uma análise corporal em você e acredito que se encontra em seu 13° dia de ovulação. Então pensei que alimentos com uma boa quantidade de B12, uma vitamina importante para a fertilidade, seriam bem-vindos, respeitando, obviamente, suas preferências. — Era chocante saber que falar tudo aquilo não fazia a android se esconder de vergonha, enquanto eu queria enterrar meu rosto no travesseiro.

— Uou...você...fez uma pesquisa completa mesmo...— O que mais eu diria?! Obrigado por vasculhar até meu ciclo menstrual?! Ou por pensar na minha probabilidade de ter bebês?!

— Nada além do necessário. Mas se for do seu querer, posso fazer exames mais aprofundados.

— Não! Obrigado. — Respondi antes que o android feminino se locomovesse para mais perto. Eu não sabia como ela havia feito a análise e nem queria saber. Meu grito, porém, parecia tê-la deixado um pouco deprimida, só então percebi que meu tom saiu mais forte e assustado do que deveria. 

Minha Bela Criação - Trilogia Androids Que AmamOnde as histórias ganham vida. Descobre agora