Minha Bela Criação - Trilogia Androids Que Amam

Capítulo 09

— Aquilo...— Voltei a agarrar o braço de Lucia, quase engasgando, a procurar de ar com a cena. — Eles...eles estão...eles....

— Sim, sim, sim. Os androids estão lutando, se era isso que queria perguntar.  — Lucia revirou os olhos para minha reação, mas daquela vez nem mesmo me importei. — Na verdade, acho que eu disse isso antes...— E ela realmente disse, mas eu havia jurado que era outro tipo de luta e não uma tão...violenta e corporal.

A paisagem que enfeitava meus olhos, era constituída por uma arena branca, como as academias de treinamento para lutadores. Não apenas um, como alguns androids, se mantinham atentos a luta que estava ocorrendo. Attor tinha músculos definidos e pretos, com alguns cabos entre os espaços das placas, entretanto, seu rosto perfeito e criado com muito esforço, era o que mais chamava a atenção. Afinal, ele era lindo! Mas naquele momento, sua postura e pupilas me lembravam de uma pantera, com olhos azuis tão brilhantes quanto uma estrela e frios como...o gelo. 

Sua expressão desprovida de emoção, me trazia uma sensação desconfortável. Aquela era a natureza de um android, não é? Maquinas cruéis e sem empatia, piores do que psicopatas, pois não tinham quaisquer sentimentos ou sensações.  E mesmo assim, meus olhos não conseguiam desgrudar de seus movimentos ágeis, de seus músculos se contraindo para desferir golpes potentes contra seu adversário. 

Foi então que nossos olhos se encontraram e seu rosto foi recebido por um murro certeiro. Quando o vi cair no chão, me aproximei correndo, sem me dar conta dos robôs que estavam sentados ao redor, rindo e conversando entre si. Com minha aproximação todos começaram a ficar quietos, como quando presenciamos a entrada de um personagem famoso. 

Ainda assim, eu não conseguia deixar de me preocupar com o android, que se levantava como se nada tivesse acontecido. A outra maquina que enfrentava MZ130 possuía uma coloração acinzentada, com uma grande cabeça que me lembrava de um alien, ou de um capacete para ciclismo. Seu rosto possuía características humanas, porém, era realmente assustador. Seus olhos não possuíam escleras brancas, somente uma iris de cor mais forte e amarela, como um farol. 

— Você deve ser a senhorita Cassiane. — Um android com grandes olhos redondos e azulados, tão neons quanto os de Attor, e com uma cor branca por igual, se pronunciou.

— Zeno! Deixe a senhorita em paz! — Quem o repreendeu foi a mesma android feminina que me levou o café da manhã. Estranhamente a robô continuava com o uniforme de empregada. 

— Não estou dizendo nada de mais. É que é meio obvio que é ela, né? — Sem saber como o android havia me reconhecido, comecei a procurar algum crachá em minhas roupas, qualquer coisa que entregasse minha identidade. Seria importante não ter nada para que me dedurasse, se eu conseguisse fugir dali. — Não precisa se preocupar moça, eu sei que é você porque o senhor Attor finalmente foi atingido. E só porque te viu chegar. 

Os androids que estavam por perto soltaram algumas risadas baixas, o que me lembrou de um circulo de amigos, comendo e brincando entre si. O que você está pensando, Cassiane? Eles estão mais para um circulo de animais prestes a te devorar.

— Não é só porque Attor ainda não caiu, que ela seja a Cassiane. 

— Fala sério Meg! Ele está aqui des de ontem a noite e Magnus só conseguiu acertar aquele soco quando ele a viu. — Eu senti meu rosto começar a esquentar conforme o android fazia suposições constrangedoras, e ainda as expressava em voz alta. 

— Acredito que já está bom, pessoal. Vamos dar um descanso para nossa convidada. — As mãos de Lucia se juntaram para bater palmas e chamar a atenção dos presentes. Em seu rosto havia um sorriso sincero e alegre. Até seu tom de voz era diferente do que ela usava para falar comigo.