Um conflito inesperado

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Phillip Beaumont, o Marquês, era um homem cujas cicatrizes emocionais eram tão intricadas quanto as danças nos salões da alta sociedade londrina. Enquanto os acordes da música o envolviam, sua mente mergulhava em lembranças de uma infância marcada por sombras e silêncios.

Ao fechar os olhos por um breve momento, viu-se novamente na vastidão da propriedade Beaumont. O solar majestoso erguia-se como uma testemunha silenciosa das tensões familiares. Seu pai, um homem distante, cujo afeto era mais raro do que uma flor rara em uma estação desolada, dedicava-se mais às terras e ao título do que ao filho.

A mãe de Phillip, Lady Agnes, era uma presença sombria nos corredores da mansão. Seu olhar cansado e desiludido refletia uma amargura que não conhecia limites. O casamento, uma união por conveniência e dever, deixara marcas profundas em sua alma. A mãe nunca escondeu sua insatisfação, e o jovem Phillip absorveu essa desilusão como se fosse parte de sua própria essência.

Na infância, Phillip encontrava refúgio nos jardins isolados da propriedade. Entre as sombras das árvores antigas, ele buscava nas histórias que lia nos livros esquecidos da biblioteca, escapando assim das tensões que pairavam sobre a família.

A lembrança do olhar vago de sua mãe e das palavras distantes de seu pai atormentavam-no, formando um escudo contra as expectativas sociais da sociedade londrina. Cada baile, cada festa, era uma reminiscência de um passado que preferiria esquecer. O casamento, aos olhos de Phillip, era uma prisão dourada, uma corrente de compromissos e responsabilidades que ele jurara evitar.

Por sorte a família do Duque Ellingham, seu tio, se aproximou após alguns anos, e tornou a infância menos solitária. Com a morte de sua mãe, e a doença de seu pai anos depois, a casa que para ele sempre fora vazia, tornara-se ainda mais solitária (e ele se perguntava como isso era possível), ele então deu preferência em viver com seus tios, e ali pode ver que nem toda criança tem a mesma sorte que ele teve. Entretanto, ele acreditava veemente que Edward, seu primo, teria uma vida familiar fabulosa, enquanto ele próprio estaria fadado a repetir os feitos de seus pais. Aquilo o consumia, e o fazia afastar qualquer mulher que insistisse em tentar algo, pois ele sabia que elas se aproximavam pelo seu título, e que isso era uma receita para uma união fracassada.

Elizabeth fitava o jovem Marquês com um misto de curiosidade e preocupação, seu maxilar tenso, e seus olhos perdidos mostravam que apesar de seu corpo forte estar ali, sua alma estava em algum lugar bem distante, vagando por lembranças.

- Meu lorde, o senhor parece distante, deveria te agraciar com a presença de minha mãe? Ela pode deixa-lo completamente constrangido com suas atrocidades casamenteiras. - disse ela tentando tirar Phillip de seu devaneio.

Quando voltou a si e olhou nos olhos de Elizabeth, percebeu o quanto a jovem era bela. Seus cachos semi presos em um coque, com algumas mechas lhe caindo pelo ombro e testa, os fios de seu cabelo ruivo, como chamas suaves dançando ao vento, emitiam uma aura de calor e vitalidade, a pele branca como porcelana, as bochechas rosadas e a boca em formato de coração, delicadamente desenhada, como se fosse esculpida por um habilidoso artista. Cada traço de seu rosto revelava uma mistura encantadora de vivacidade e graça. Os olhos esmeralda de Lady Elizabeth eram verdadeiramente cativantes, refletindo uma inteligência aguda e uma centelha de ousadia que desafiavam até o mais valente cavalheiro. Quando ela sorria, era como se o próprio salão se iluminasse com a luz radiante de sua alegria. A cada movimento gracioso, ela parecia dançar com a própria essência da juventude, uma presença vibrante entre as damas da alta sociedade.

- Marquês Beaumont? - insistiu Elizabeth, ainda tentando entender o que se passava na cabeça do homem que a conduzia.

- Perdão, acabei me perdendo em alguns pensamentos, mas definitivamente, irei prestar atenção. Sem ofensas senhorita, mas eu dançaria cem valsas com a sua pessoa, se a Lady me garantisse que eu não cairia nas garras da minha tia e de sua mãe.

O MarquêsWhere stories live. Discover now