—Elena? — chamei pela minha amiga ao adentrar a cozinha da minúscula casa que dividimos.Após a morte de seu marido, Elena me acolheu em sua casa, já que eu fui expulsa de onde morava.
Ao perceber que a loira não estava em casa, fui ao banheiro tomar um banho e me trocar.
Desci as escadas que levavam de casa até a rua e sorri cumprimentando alguns vizinhos e outras pessoas que passavam por mim.
— Bom dia, senhor João! — gritei acenando para o senhor de idade sentado na varanda de sua humilde casa, em troca recebi um aceno e um sorriso.
Conferi as horas no relógio de pulso e murmurei um xingamento baixo ao perceber que me atrasaria para pegar o ônibus.
Antes que pudesse acelerar os passos, uma movimentação estranha na rua da comunidade me alarmou.
— Cecília!
Meu nome foi exclamado e eu identifiquei a voz de Elena, me virei em direção a voz e sorri ao vê-la. A loira veio em minha direção com uma feição séria e meu sorriso se desfez.
— O que aconteceu? — perguntei quando ela parou em minha frente e pôs as mãos em meus ombros.
— Desce o morro logo, ou então volta pra casa. — respirou fundo e eu olhei por cima de seu ombro.
Lá atrás tinham alguns homens que, nitidamente, não eram do Rio. Entretanto, um em específico me chamou muito a atenção.
Alto, malhado e careca; com uma blusa preta hiper colada em seu tórax, marcando os gominhos que nitidamente eram bem malhados; uma carranca gravada em sua face e a forma como observa ao redor enquanto colocava o colete a prova de balas...de certa forma me hipnotizou.
— Cecília? — Elena me balançou e eu voltei a mim, olhando a loira que estava com os olhos arregalados em minha direção.
— Desce o morro logo! — falou e eu balancei a cabeça, ato que acreditei que faria os meus pensamentos voltaram a si.
— Huh? Ah, claro, tá...tá bom! — falei rápido e virei as costas enquanto apertava os passos, com a esperança de ainda conseguir pegar o ônibus que me deixaria em frente ao serviço.
— Eu te ligo no seu intervalo! — a loira gritou, já que eu estava longe e eu virei rapidamente e concordei.
Tropecei diversas vezes durante meu percurso, o tênis preto e surrado já estava pedindo por aposentadoria.
Por ironia do destino, consegui chegar ao ponto de ônibus junto com o automóvel.
Enfiei uma das mãos no bolso e recolhi o trocado da passagem e rapidamente entrando na fila junto de outros trabalhadores que, assim como eu, estão atrasados para o trabalho.-
— Oi, Lena' — disse assim que atendi a ligação.
— Chegou bem ao trabalho? — perguntou e eu murmurei uma afirmação enquanto mastigava o almoço do dia.
— Tia Cecília?
Levantei o olhar até a porta da sala dos professores e sorri para uma das minhas alunas.
— Elena, só um minuto. — murmurei para minha amiga no telefone e o larguei na mesa.
— Sim, querida? — chamei a criança até onde eu estava e assim que chegou apoiou uma das mãos em minhas pernas. Seus olhos estavam brilhando, mas eram de lágrimas. — O que aconteceu, Milena?
A garotinha de seis anos soluçou e na mesma hora a diretora adentrou o recinto, me pegando desprevenida.
— O Gabriel me bateu. — a garota conseguiu dizer entre soluços e eu respirei fundo, tentando manter a calma.
YOU ARE READING
INEFÁVEL - LUKE HOBBS
Romanceinefável adjetivo de dois gêneros 1. que não se pode nomear ou descrever em razão de sua natureza, força, beleza; indizível, indescritível. 2. que causa imenso prazer; inebriante, delicioso, encantador. Com a chegada de Hobbs e sua equipe no Brasil...