INEFÁVEL - LUKE HOBBS

002

Oito da noite e eu estava sozinha em casa, corrigindo algumas lições das crianças; com mais de vinte cadernos sendo divididos entre o sofá, a mesinha velha de centro e minhas pernas.

—Tudo certinho? — perguntei assim que vi Elena passar pela porta de casa.

— Certinho não, tá meio "nhe" — murmurou enquanto se jogava ao meu lado no pequeno e surrado sofá.

— E o seu agente bonitão? — perguntei repentinamente e larguei a caneta azul sobre um dos cadernos infantis que estavam sobre minhas pernas.

— O Hobbs?

— Você por acaso está trabalhando com outro agente bonitão?

A loira soltou uma gargalhada e eu revirei os olhos quando ela se levantou do sofá, indo para o banheiro.

— O que tem ele?

Perguntou já dentro do cômodo e eu fui atrás, me apoiando no batente da porta.

— É solteiro, casado, viúvo, enrolado...? — perguntei gesticulando com as mãos.

— Ceci, não sei! Somos profissionais, eu não fico perguntando dessas coisas! — retrucou e eu bufei chateada.

— Mas ele é bem bonito, né... já devem ter laçado ele! Bonito demais pra' ficar solteiro.

Saí da porta do banheiro e voltei para o sofá, tentando terminar de corrigir as lições. Me limitei a prestar atenção no trabalho e perdi a noção do tempo.

Tanto que nem percebi quando Elena saiu do banheiro já trocada e foi em direção a cozinha.

— Já jantou?

— Uhum... — murmurei sem tirar os olhos dos cadernos.

— Você quer carona amanhã? Podemos te deixar perto da escola. — se sentou ao meu lado com seu prato de comida.

— Não vou recusar, você sabe...o preço da passagem tá um absurdo, o que conseguir economizar já é lucro.

Me levantei e comecei a juntar todos os materiais que estavam espalhados pela sala, para que pudesse descansar a mente antes de dormir.

Ao juntar tudo o que era meu, empilhei tudo e me esgueirei até meu quarto, deixando tudo sobre minúscula mesa de madeira.

— Filminho antes de dormir, topa?

Voltei para sala e perguntei a Elena, sorri em comemoração e tratei de buscar o controle da televisão.

-

— Bom dia! — o cumprimentei em sua língua ao adentrar a viatura policial que se encontrava a duas quadras da comunidade.

Me sentei, como da última vez, entre os dois policiais. Me sentia como uma criança.

— Bom dia! — murmurou de volta e eu permaneci em silêncio.

— Ele não fala muito, né? — murmurei para Elena e ela apenas me balançou a cabeça de forma negativa. — Tendi'

— Elena, precisamos ir para o galpão depois! Conseguimos rastrear onde Toretto e seu bando estão.

O agente quebrou o silêncio que tinha se formado na viatura e eu estremeci com sua voz.

— Certo.

Não muito tempo após isso, a viatura parou uma quadra antes da escola; por questão de segurança.

— Amiga, está entregue! Se o idiota do Rafael aparecer pra te atentar, me liga! Imediatamente, por favor!

Elena debulhou em inglês, por força do hábito enquanto descia do carro.

— Pode deixar, fica tranquila! Fala em português da próxima vez, por favor. — sorri em graça e a abracei.

— Obrigada pela carona! — agradeci ao homem que apenas balançou a cabeça e acenei para Elena que já estava de volta à viatura.

Comecei a caminhar em direção a escola e respirei fundo antes de passar pelo portão.

- Hobbs POV - 

— Rafael? — perguntei curioso para a colega brasileira.

— Longa história! Mas resumindo: Rafael é o ex namorado da Cecília, um playboy que não sabe fazer nada além de trair. Meteu tanta falha na coitada da Cecília que eu não sei nem como ela consegue passar por uma porta sem bater com os chifres. — soltou uma risada anasalada.

— E ela permanecia com ele mesmo sabendo disso?

— Ela não sabia, se soubesse já teria terminado há muito mais tempo...mas o idiota vive correndo atrás da coitada e fica infernizando a vida dela. — murmurou — até em casa ele já apareceu, mas graças a Deus eu estava lá e não deixei ele entrar, ainda o ameacei. Sabe-se lá Deus o que aconteceria se eu não estivesse lá.

— Acha que ele faria algo contra sua amiga?

— Acho sim, Hobbs! Ele não é flor que se cheire e se transformou depois que a Ceci terminou com ele. O moleque endoidou, mostrou quem era de verdade, um aproveitador e controlador.

— Bom saber que a Cecília pode contar com uma amiga tão boa quanto você! Você é uma boa pessoa, Elena.

Estacionei o carro e descemos para encontrar o restante da equipe.

— Eu que tenho sorte de tê-la! Cecília é minha menina de ouro!