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Como todos os dias: acordei cedo, me aprontei e corri para pegar carona com Elena e Hobbs.

A pomada que Hobbs me trouxe ontem, ajudou com o hematoma, mas não o fez sumir. Então fiz como disse que faria: usei manga longa.

Manga longa num calor de 30° do Rio de Janeiro.

—Vamos lá, flor do dia! — me assustei quando ouvi a voz de Elena e a vi parada no batente da porta do banheiro. — Ui, que gatinha. Isso tudo é pro Hobbs?

Revirei os olhos ao observar sua cara maliciosa e me apressei em sair do banheiro.

Agarrei minha bolsa e saímos juntas de casa, descendo o morro até onde o agente estaria nos esperando.

— Não sei que horas chego hoje, tá bom? — Elena começou a dizer enquanto estávamos andando um pouco apressadas. — Estou avisando pra você não ficar preocupada.

— Tá certo! Mas toma cuidado, viu?!

Sempre ficava apreensiva pelo trabalho de Elena. Ser policial não era nada fácil, ainda mais no Rio.

Andamos mais um pouco conversando sobre qualquer besteira que vinha a mente, até chegarmos próximo a viatura de sempre.

— Bom dia, Luke! — sorri mínima ao adentrar o veículo.

— Bom dia, Ceci! Como está o braço? — perguntou ao observar o hematoma ainda muito evidente.

— Graças a sua pomada, está melhor do que estaria...obrigada, novamente!

— Já disse que não precisa agradecer! — murmurou com os olhos presos na estrada.

— Alguma pista do Toretto? — Elena perguntou e percebi Hobbs balançar a cabeça em negação.

Observei melhor a minha amiga e vi, em seu pescoço, um cordão que não era dela.

— De onde é isso? — perguntei em português.

Elena me encarou confusa, mas assim que seguiu meu olhar para deu pescoço, passou a mão no cordão com um pingente barato de crucifixo.

— Eu...achei, ontem, nas vielas da comunidade enquanto estávamos perseguindo os três fugitivos. — explicou e minha reação imediata foi balançar a cabeça em concordância.

— Está entregue, Cecília! — Hobbs nos tirou de nossos devaneios e só então percebi que já estávamos próximos ao meu local de trabalho.

Respirei fundo e desci do veículo, assim que Elena abriu espaço para mim.

— Muito obrigada, Hobbs! Bom trabalho pra vocês! — agradeci em seu idioma e sorri, ao me virar para Elena, a encarei e ergui uma sobrancelha — Presta atenção onde você está se metendo!

A última parte foi dita em português, a loira balançou a cabeça em concordância e eu me virei, seguindo para a escola.


-

— Era só o que me faltava! — murmurei estressada ao olhar para o ônibus e o perceber lotado. — Vou ser encoxada nessa merda.

Subi no grande veículo e paguei a passagem ao cobrador, atravessei a catraca e me espremi entre as muitas pessoas de pé.

Permanecendo no mesmo lugar espremida até o meu ponto, era obrigada a ouvir todas as fofocas das pessoas que conversavam alto, não que eu estivesse reclamando de ouvir uma fofoca.

Além das fofocas, o calor absurdo dentro dessa lata de sardinha fazia com que todos suassem. O CC tava brabo naquele lugar.

Crianças chorando, mães brigando, velhas fofocando, pessoas suando.

Estava me dando pânico. Chegou num momento onde eu nem escutava mais nada, minha cabeça se formou num eco gigantesco.

Quando dei por mim, puxei a cigarra do ônibus e desci umas duas quadras antes do meu ponto.

Me espremi entre as pessoas e desci correndo do veículo. Ao pôr os pés na calçada da rua, pude respirar fundo e aliviada.

Os barulhos voltaram e eu ouvia os vendedores ambulantes, sirenes de ambulância e as dos policiais, buzinas de carro e o falatório das pessoas ao meu redor.

Balancei a cabeça, respirando fundo novamente e comecei a caminhar de forma vagarosa; comparado ao meu normal; em direção de casa.

Estava longe, mas era muito melhor do que estar dentro daquele ônibus.

Agarrei ainda mais a bolsa ao meu corpo, para evitar de ser roubada por alguém. Isso não adiantaria se mirassem uma arma na minha testa, fato! Entretanto, evitaria de alguém passar correndo e tirá-la do meu ombro.

— Boa tarde, senhor Luís! — falei ao passar pelo senhor de uns 60 anos que morava próximo de casa.

— Boa tarde, menina! — respondeu sorrindo e acenando se sua barraquinha de água de coco.

Subi as escadas e fui diretamente para o meu quarto, joguei a bolsa em qualquer canto e peguei a primeira roupa que vi.

Tomei um banho e me certifiquei que a porta de casa estaria bem trancada, me joguei na cama e dormi.

Porém, não muitas horas depois que eu tinha pego no sono, percebi algo de estranho fora do quarto.

Abri os olhos assustada e tentei me levantar de forma silenciosa. Pisava no chão, com as pontas dos pés, evitando fazer muito barulho.

— O que quer aqui? — perguntei com a voz trêmula ao observar uma silhueta na sala de estar.

Mesmo no escuro, consegui observar a pessoa se virar de frente para mim. Numa distância considerável de uns cinco metros, a pessoa permaneceu parada.

Passei a mão no primeiro objeto que encontrei, ao tatea-lo percebi ser um jarro de cerâmica.

De alguma forma, teria que me defender.

A pessoa passou a mão no abajur da mesinha e o acendeu, me dando um pouco de visão do seu rosto. Era um homem.

— Quem é você e como entrou aqui? — perguntei ainda com a voz trêmula, a vontade era de gritar e chorar.

— Vim atrás da Elena. Ela está com algo que é meu. — disse em inglês, sem responder às minhas perguntas, visto que não compreendeu a minha língua.

— Quem é você? — perguntei novamente, mas dessa vez em inglês, respirando fundo.

— Dominic Toretto. — respondeu e, pelo susto, deixei o vaso cair no chão.

Fez o maior barulho e no desespero acabei pisando em cima de um dos cacos pontiagudos.

— Merda! — gritei chorosa ao sentir o pé arder.

O homem veio em minha direção e pela dor que sentia, não reclamei quando ele me ajudou a sentar no sofá.

— O que um criminoso internacional quer na casa de uma policial? — perguntei atônita pela dor.

— Já disse, ela está com algo meu. — respondeu de forma simples. — Eu não sabia que você estaria aqui, me desculpe ter te assustado e feito você cortar o pé.

Respirei fundo fechando os olhos.

— É o cordão, não é?

— Que?

— Você veio atrás do cordão. — expliquei e ele ficou em silêncio. — É importante pra você, não é?

— É sim. — respirou fundo.

— Levanta, vai até o banheiro e pega uma maleta preta embaixo da pia. — ordenei ao observar o meu pé sangrar.

O homem me encarou estranho, mas pela dor que sentia, não dei a mínima para o que ele pensasse de mim naquele momento.

— Anda, menino! — falei novamente e ele se levantou rápido. Estiquei a mão para o interruptor da sala, que ficava próximo ao sofá e acendi a luz, vendo que o pé estava bem feio pelo corte. — Agora deu mesmo, vou trabalhar como amanhã?! — murmurei estressada.







INEFÁVEL - LUKE HOBBSOnde as histórias ganham vida. Descobre agora