16. A Dançarina

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Samanun Every

Meu coração batia disparado e eu não sabia o que pensar, o que fazer. Um ano depois de todo o drama que eu me inseri por ter me entregado para ela, mais parecia uma eternidade atrás e, ao mesmo tempo, parecia ontem.

Muita coisa tinha acontecido, mas ouvir o nome dela sendo dito pela Jim sem que eu esperasse por isso, havia me colocado de volta em um lugar que eu não esperava voltar.

- Sam? Sam! - Kornkamon me chama duas vezes, provavelmente notando meu estado catatônico. - O que foi? Quem é Margot?

- Minha ex. - Respondo de forma direta. A Mon me olha com uma carranca.

- Aquela ex? A dançarina? - Ela me pergunta e eu franzo o cenho.

- Sim. Como sabe quem ela é?

- Todo mundo sabe que você chegou ao fundo do poço depois que ela foi embora, Samanun. - Ela fala, agora um pouco irritada.

Estávamos ambas ao lado da porta, mas ela começa a falar e se afasta até próximo da janela.

- Não sabia que isso era conhecimento comum. - Respondo também um pouco irritada pela minha vida ser assunto comum de fofoca da ilha.

- E então, vai correndo para os braços dela agora? Você pareceu bem abalada quando ouviu o nome dela. - Ela fala, com acidez e eu finalmente entendo que ela estava com ciúmes.

Acho fofo.

Também me afasto da porta em sua direção. Ela estava de costas para mim, espiando pela fresta da janela. A abraço por trás.

- Você está com ciúmes? - Pergunto achando aquilo um pouco engraçado.

- Nem um pouco. Só que ficou claro que você ainda é balançada por ela. Olha a maneira que ficou. - Ela fala, removendo minhas mãos do entorno de sua cintura e se afastando um pouco de mim.

- Eu não fiquei abalada... Sim, tudo bem, eu fiquei um pouco, mas--

- Ok. Então eu farei o seguinte. Eu vou sair de fininho pela janela, aproveitando que toda a atenção está nela. Não terei dificuldade em andar por cima do muro. Já precisei sair por caminhos mais difíceis. - Ela me interrompe e muda de assunto.

- Mon! - É minha vez de falar mais alto, para tirá-la dos seus devaneios. - Você não vai pular da janela, é perigoso.

- Eu vou. Não é tão alto e eu já estive em situações piores. - Ela começa a abrir a janela e põe uma perna do lado de fora. Puxo seu braço.

- Kornkamon, volta aqui! - Ela me olha com fogo nos olhos.

- Não tem o que fazer, Samanun. Eu preciso sair daqui agora, enquanto o Bordel todo tem uma distração. É uma oportunidade única, sua ex chegou no momento perfeito.

Ela fala a última frase com ironia evidente, mas a verdade é que não deixava de ser um fato. A chegada da Margot havia possibilitado que ela conseguisse sair sem ser vista, enquanto eu iria seguir com os planos de fingir que tinha dormido aqui porque estava cansada.

Ela me olha por alguns segundos e então some pela janela.

Quando me viro de volta para o quarto e encaro a porta, a realidade recai em cima dos meus ombros com o peso do mundo inteiro: eu teria que encarar a Margot depois de um ano tentando fingir que sua existência tinha sido um surto coletivo.

Passo a mão nas minhas roupas, vendo se estava tudo no lugar. Olho ao redor do quarto procurando qualquer resquício de que a Mon tivesse dormido aqui. Constatando que eu estava acima de qualquer suspeita, abro a porta rapidamente, andando no corredor sem pensar muito, se não eu iria voltar para aquele quarto e só sairia quando ela tivesse ido embora.

Velas Negras • MonSamWhere stories live. Discover now