14. Lidando com os sentimentos?

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Kornkamon Teach

Já era quase noite quando eu voltava cavalgando no lombo do meu cavalo enquanto eu via as ondas batendo na costa. Eu tinha acabado de sair do hospital depois de meio que me declarar para a Sam.

Desde que eu havia saído escondido do hospital, me camuflando para seu pai não me ver ali, a minha cabeça não parava de pensar no que tinha acontecido nas últimas horas.

O mar estava relativamente calmo e as poucas ondas que tinha, quebravam lentas na areia branca da praia. A imagem da água transparente e calma me acende a vontade de descer um pouco do cavalo e tomar um banho de mar. Àquela hora o mar estava mais morno do que o normal, após o sol ter passado o dia inteiro o esquentando.

Desço do Joe, o colocando em uma grama próxima que havia ali, para deixá-lo pastando um pouco já que era uma área da praia bem deserta e tranquila, me permitindo deixá-lo solto.

Removo as botas e as peças de roupa mais pesadas, ficando apenas com roupas íntimas e uma camisa de algodão e começo a andar em direção à água. Meus pés afundavam na areia fina e branca, enquanto minha cabeça rodava, repassando os fatos que haviam acontecido.

A maneira que me senti desesperada quando vi a Samanun deitada no chão e como me expus na prisão e no hospital. Eu cheguei a beijá-la em frente a todos da enfermaria. Eu tinha ultrapassado todos os limites e isso me fazia começar a ficar com medo do que aqueles sentimentos eram capazes de fazer comigo.

Sempre fui uma pessoa que não pensa muito nos próximos passos, impulsiva. Essa impulsividade normalmente era acompanhada de uma ótima intuição e geralmente me trazia muito mais benefícios que malefícios. Porém, os acontecimentos das últimas horas acendiam um alerta na minha cabeça que dizia que se eu pulasse nesses sentimentos tão de cabeça e sem pensar nas consequências, como eu havia feito até então, isso poderia me colocar em apuros.

Enquanto a água morna banhava minha pele e o sol começava a se pôr, eu boiava na água, deixando os pensamentos fluírem livremente. As memórias brotaram na minha cabeça através de imagens. Cenas de eu levando a Sam no meu colo, correndo com uma detenta nos braços para fora da prisão no meio da noite, poderia muito bem ser configurado como um crime. Eu não tinha me importado com isso nem por um segundo, quando ela se encontrava desacordada. Sua vida estava em risco, eu não ligava para nada.

Esse era o problema.

Eu parecia não ligar para nada se ela estivesse em perigo, porém eu era uma pirata, estar em situações de perigo meio que fazem parte da minha rotina. A Samanun, apesar de precisar passar um tempo afastada, também leva a mesma vida que eu e não posso simplesmente colocar tudo a perder se, em alguma missão, eu cruzar com seu navio e ver que ela corre risco. Eu não podia, seria se arriscar demais.

Fora que quando estávamos juntas, parecia que o contexto em que estávamos inseridas sumia e eu só a enxergava. Meu desejo falava mais alto e eu não respondia por mim. O que iriam dizer se simplesmente descobrissem que eu estava envolvida com ela?

Uma coisa é vontade carnal. Eu havia me afogado nessas vontades com ela mais de uma vez, porém a situação começava a adquirir uma nova configuração: eu havia descoberto sentimentos.

Ainda não saberia dizer exatamente como me sentia, mas a questão é que haviam sentimentos, havia a preocupação pelo seu bem estar, havia a vontade de estar junto apenas pela sua companhia. E tudo isso era arriscado demais, eu precisava de um pouco mais de tempo para organizar minhas ideias.

Eu tinha que segurar o ímpeto de sempre querer estar com ela. Eu havia acabado de sair do hospital e eu já queria voltar. Era ridícula aquela situação, mas o principal fato a se levar em consideração é que era perigosa. Tanto para mim quanto para ela. E conhecendo a Sam, não levaria tempo para que ela também chegasse à mesma conclusão que eu havia chegado: precisávamos dar um passo para trás.


Velas Negras • MonSamWhere stories live. Discover now