9. Inconsequência

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Samanun Every

Eu sentia meu coração batendo rápido e a adrenalina correndo nas minhas veias. Em menos de 24 horas eu estaria enfrentando um julgamento que iria definir meu destino.

Respiro fundo tentando me acalmar enquanto a Kornkamon observava minhas reações.

- Sam, você tem uma defesa sólida? - Ela pergunta com preocupação evidente.

Eu estava muito confusa com a maneira que ela agia e me tratava. Ela havia me visitado escondida na prisão, me levou a comida que me salvou. No outro dia ela pede minha soltura, mas nem mesmo olha na minha cara. E agora ela sai da casa dela para me encontrar escondida no Porto para me avisar, em primeira mão, que o julgamento estava marcado e ainda se preocupa se eu tinha uma defesa bem estruturada ou não. Eu simplesmente não entendia.

- Kornkamon, você me confunde. - Falo por fim, ela me olha sem entender e eu me aproximo dela. - A sua preocupação comigo, eu não entendo. - Respondo a pergunta que provavelmente ela se fazia.

- Eu... Eu não tenho preocupação por você, Samanun. Só não quero que você seja morta. Você mesma me alertou que isso poderia ser uma preocupação no seu julgamento. Certo?

Ah, ela então só queria se assegurar que sua consciência ficasse leve nos próximos anos.

Olho em seus olhos castanhos, eu queria entender se ela falava a verdade, mas não conseguia lê-los, então me afasto dela.

- Entendi. - Falo com uma voz um pouco seca.

Eu estava decepcionada?

Ela fecha o espaço que eu havia criado entre nossos corpos, mas volto a me afastar, sentindo a parede fria em contato com minhas costas. Ela me encara.

- Você... - Ela parecia analisar as palavras que iria usar. - Você aparenta estar um pouco menos fraca do que ontem.

"Ontem". No dia que você me soltou da prisão e nem me olhou na cara?

- Por que me soltou da prisão? - Pergunto finalmente. Eu queria entender tantas coisas sobre seu comportamento desde que fomos resgatadas.

- Você estava muito debilitada, mal se aguentava em pé. - Ela fala, como se fosse uma explicação satisfatória.

- Certo. Mas e daí?

- E daí que se você ficasse mais alguns dias ali, você não iria aguentar.

- Ah, então novamente, a questão é me fazer ficar viva para sua consciência não pesar. - Falo com veneno na voz. Eu estava decepcionada e perceber que eu sentia aquilo, me irritava.

Eu não deveria estar sentindo nada, eu também não me importava com ela. A gente tinha se ajudado na ilha, chegamos a dormir juntas, mas não estávamos mais na ilha. A rivalidade das nossas famílias e o conflito dos nossos interesses, voltava a ser o ponto central ali.

Ela engole em seco, pensando em como me responder.

- Por que está irritada? - Ela pergunta com o cenho franzido.

- Eu não estou irritada, só acho que você desacostumou com meu jeito. Eu não tenho que usar de nenhuma polidez social para falar com você. - Um sorriso irônico brota em seus lábios e ela ri. - Do que você está rindo?!

- Nada, é só que eu fui alertada de que isso fosse acontecer, mas ainda assim não tinha dado muita importância. Parece que minha mãe estava certa, afinal.

- Isso o quê? Sobre o que sua mãe estava certa? - Volto a apresentar irritação no tom de voz.

- O joguinho de boa moça que você utilizou para conseguir o que queria e agora você volta a pensar e agir da maneira de antes. O pensamento idiota sobre rivalidade familiar e o ódio gratuito que você tem.

Velas Negras • MonSamWhere stories live. Discover now