1. O Pior da Minha Vida

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Kornkamon Teach

A fumaça queimava minhas narinas enquanto eu empunhava minha espada e andava pelo navio inglês em chamas. Meu braço ardia de tanto que eu havia lutado contra os soldados ingleses e ainda assim mais e mais deles continuavam aparecendo.

Havíamos planejado aquele ataque de forma coordenada e eficiente, como sempre fazíamos, mas um segundo navio da guarda costeira inglesa conseguiu nos pegar de surpresa, duplicando o número de inimigos que teríamos que lutar: uma emboscada.

 
Era inviável, impossível darmos conta daquela quantidade de soldados bem equipados.

O caos estava instalado e eu mal conseguia enxergar por entre os escombros de madeira e a fumaça espalhada pelo ar.

- Mon! - Ouço a Tee chamando por trás de mim. Me viro em sua direção, mas não consigo ver muita coisa. Até que sinto uma mão agarrando meu pulso e me puxando. Era ela.

- Temos que ir embora, a batalha está perdida e... seu pai. - Ela apresentava dor em sua face e não parecia ser física.

- Abandonar o navio! - O grito de alguém me tira a atenção da Tee.

Do pouco que eu consigo enxergar pela fumaça, percebo os ingleses se recolhendo. Eles se jogavam ao mar e nadavam até o navio de suporte da guarda costeira, que veio fazer a segurança deles.

Volto meu olhar para a Tee, mas ela já estava de costas andando e voltava a me puxar por entre as chamas que lambiam o casco do navio.

- Tee! - Eu gritava para ela me ouvir. O barulho do navio se esfacelando devido aos tiros de canhões e as chamas era muito alto. Olho pro chão e vejo uma lâmina de água se formando. Tínhamos que sair dali o mais rápido possível.

- Mon... - Ela se vira para mim, apertando meus ombros com as duas mãos. - Seu pai foi atingido.

O terror me assola e sinto meu corpo todo gelar. Não é como se nunca tivéssemos lutado lado a lado antes, desde que tinha completado idade suficiente, eu fazia parte da tripulação do Concorde. Eu lutava lado a lado com ele há muito tempo, foram diversas as vezes que ele se feriu em batalha ou o contrário, mas dessa vez eu sentia que era diferente. 

No olhar que a Tee lançava para mim, sua expressão de medo e tristeza misturados. Eu sabia que era muito pior do que jamais havia acontecido. 

- C-Como assim? - Pergunto em pânico.

- Ele perdeu muito sangue, não vai sobreviver! - Ela fala alto para que eu consiga ouvir.

A cena caótica e apocalíptica que estava em torno de nós já não me importava e o silêncio tomou o lugar do barulho que antes rugia ao nosso redor. Naquele momento eu não ouvia mais nada.

Apesar do meu olhar de pânico e evidente temor, Tee volta a me puxar por dentre os corpos caídos, marinheiros se jogando ao mar e as chamas que não cessavam. Eu não conseguia andar sozinha, por isso ela me puxava para que meu corpo se movesse, até que vejo ao fundo várias pessoas da nossa tripulação ao redor de algo. Ou alguém.

Aperto meus olhos para tentar enxergar e finalmente posso ver o corpo do meu pai estendido no chão de madeira. A Lauren segurava sua cabeça, enquanto tentava em vão conter o sangramento que não cessava em emergir de dentro do ferimento.

Corro até ele e me ajoelho ao seu lado, pegando sua cabeça das mãos da Lauren. Suas vestes escuras estavam empapadas em sangue e havia um punhal enterrado até a altura do cabo, no meio do seu tórax. Quem o empunhou tinha tanta força e raiva que o penetrou profundamente em sua carne, eu não via nenhum resquício da lâmina, estava completamente cravada em seu corpo.

Velas Negras • MonSamWhere stories live. Discover now