23. Afogando-me

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Samanun  Every

Kornkamon olha para mim, ainda apertando a mão da minha irmã. Ela me dá um sorriso sincero e eu retribuo, enquanto me encosto na mesa e cruzo os braços, observando a interação delas.

- Nós concordamos com o pedido de vocês, de acatar a aliança, mas lembre-se que ainda precisamos voltar a conversar sobre o Acordo de Paz. - Falo para a Mon, mas para minha surpresa sua expressão não se modifica, ela continua sorrindo para mim e faz um movimento positivo com a cabeça, como se concordasse que aquilo deveria ser tratado em breve.

- Não se preocupe, quando as coisas melhorarem, iremos trazer essa pauta novamente. - Ela me responde, me surpreendendo mais uma vez.

Seu olhar fica fixo em mim, sua expressão séria, enquanto ela me encarava.

- Vocês querem que a gente dê licença para que se comam aqui? - Engfa pergunta, quebrando o laço invisível que nossos olhares seguravam.

- Por mim, sim. - Kornkamon responde de bate pronto, como era de costume e eu abro o olho espantada.

- Ninguém vai se comer em canto nenhum, temos que ir Engfa. - Falo apressandamente e meio sem jeito sob os olhares divertidos da minha irmã e das mulheres dos Negros.

- Engfa, eu vou confeccionar o documento para que assinemos diante do Conselho. Assim que estiver pronto eu te entrego e você avalia para ver se concorda. - Tee fala.

- Não, acho que esse documento deve ser feito em uma reunião dos Vermelhos e dos Negros. - Kornkamon responde.

- É um pretexto para encontrar com minha irmã, Mon? - Engfa fala levantando uma sobrancelha e a Mon ri de forma cínica.

- A gente tem que levar essas reuniões de uma maneira mais profissional, para que sejamos mais objetivas. - Eu falo.

- Ih ala, a chata quer falar, fala chata. - Engfa fala e a Mon volta a rir. Isso me irrita um pouco.

- Deixa de ser infantil, Engfa. Você é a capitã do navio, porte-se de uma maneira um pouco mais responsável.

- Eu também sou a capitã e não vejo você reclamando da maneira que me porto. - Kornkamon me desafia.

- Não é minha capitã, Kornkamon. - Respondo séria.

- Não é no convés do navio, mas na cama... - Engfa volta a falar e o grupo das mulheres dos Negros ri.

- Tudo bem, querem ficar de gracinha? Pois fiquem, como sou uma mera maruja, não preciso estar aqui. Com licença para me ausentar--

Começo a me virar para ir embora, mas a Mon se adianta e segura meu braço.

- Para com isso, a gente está só brincando. - Ela me suplica, olhando o fundo dos meus olhos.

Desço meu olhar para sua mão enrolada no meu braço, meus pêlos se arrepiam e ela percebe, rindo de canto de lábio discretamente.

Meu olhar procura no seu pescoço a possível marca que deixei ontem a noite, mas a gola da sua jaqueta estava sabiamente bem posicionada, de maneira que não deixava o vestígio à mostra.

- Eu costumo levar minhas obrigações como capitã a sério, Kornkamon.

- Por mais que a gente brinque, o que estamos abordando aqui é uma ameaça real. Não confunda brincadeira com irresponsabilidade, porque eu também levo minhas atribuições como capitã, a sério demais. - Ela fala com o olhar firme e de maneira sóbria.

Todos na sala estavam em silêncio, observando nossa interação. O queixo levemente levantado da Mon e sua pose segura, só demonstraram como eu tinha batido em um ponto que ela não iria deixar passar. Sua pose me lembrava a maneira que havia se portado com sua tripulação no dia do julgamento.

Velas Negras • MonSamWhere stories live. Discover now