Pólvora e sangue pintavam minha anatomia. Cadáveres lançados pelo árduo solo. A cada segundo, um novo soldado se atirava a mim, suicidando-se. Meus olhos sangravam com a visão infernal. Passione e suas putinhas, determinados a minha vida inteira foder. Crianças desnorteadas assistiam seus pais morrerem. Os civis enlouqueciam com a carnificina. E não cessaria. Somente descansariam quando conquistassem seu precioso troféu. Minha cabeça, o meu óbito. E, eu garanto, jamais acontecerá. Poderíamos jogar para sempre, até a exterminação da humanidade. Pfff... Como um europeu de merda me derrotaria? Olhando de soslaio, avistava repórteres. Paparazzis obcecados por suas próprias matérias. Seguir um criminoso seria um fantástico conteúdo. E eu tenho o direito de me divertir um pouquinho, não é? Elegantemente, caminhei até a zumbificada repórter, que, aparentemente, já mantia sua câmera em mim. Inclinando-me levemente, toquei a lente com meu dedo indicador.
- Está ao vivo?
A mulher parecia morta. Petrificada, apenas assentiu com sua cabeça, sem dizer uma única palavra. Sua pele pálida e úmida, hiperventilando. Ótimo! Seria transmitido para toda a TV! Cuidadosamente, ajustei o meu microfone, erguendo sua câmera, para que se focasse em mim. Eu estava tímido. Pode ser uma surpresa, mas não sou muito sociável. Nunca havia feito uma entrevista. Todavia...
- Boa tarde, América!
Hiperativo, berrei, balançando as penas da, já morta, avestruz entre meus dedos. Acenava para a câmera, sorrindo gentilmente. Embora meu rosto permanecesse oculto. Não seria grosseiro, seria adorável como uma boneca de garota. Na televisão, é o que se faz para conquistar espectadores.
- Como sempre, eu espero que todos estejam tendo uma excelente tarde. E uma maravilhosa vida! Vejam só, estamos em setembro! Logo virão as festas, a folia e a euforia! Vamos festejar! Beber! Comer! Foder! Protejam esposas e crianças. E para festejar com vossa senhoria, nesta noite, convido cada cidadão americano a participação de meu grandioso evento. Se estiverem interessados, estarei aqui, em suas telas. Não percam! E como cidadãos americanos, vivam cada segundo como se fosse o último! Vamos enlouquecer até a morte!
Gargalhando estridentemente, rodopiava. Para a, agora inútil, mulher, uma mísera bala. Aquela transmissão estava na televisão... Todos que a assistissem, compreenderiam perfeitamente. Esperava que funcionasse... Ficaria de coração partido se não conseguisse. Minha grande carta aberta, para a América e o mundo.
- Aaahh... Aah... Aa.. Tirem-me daqui! Me deixem sair daqui!
Debatia-se o maldito, chorando como uma garotinha. Seus membros amarrados ao instrumento de ferro, seus olhos, ainda vendados. Não iria amordaça-lo. Ouvi-lo gritar nada mais era que uma encantadora sinfonia.
- Há alguém aí? Chiara? Madelyn? Onde eu estou?!
Mas, ao mesmo tempo, irritante pra caralho. Nenhum osso quebrado e já era o bastante para enlouquecer? Para o comandante do mundo, não parecia tão poderoso. Mesmo o mais poderoso dos reis, se torna inofensivo quando é atingido. Francamente, estava decepcionado. Decepcionado pra caralho. Um maricas como aquele comandava Nova Iorque? Comandava a América? Não sou o maior patriota, mas sempre serei um garoto do Queens. Como bom cidadão, faria uma ação comunitária à minha prestigiada vizinhança. Não é a primeira vez que um moleque do Queens o realiza.
- Malditos! Ratos imundos! Vocês sabem quem sou eu?! Eu reino neste país! Nova Iorque não seria nada sem mim! A América não seria nada sem mim!
Típico... Coroas nojentos sempre serão coroas nojentos. Acho que é um pré-requisito político. Todo o sistema é falho. Sempre foi. Sempre será.
- Seus... Vocês pagarão caro! Não sabem o que acontecerá se não me libertarem! Eu os...
Chutei sua mandíbula, farto de suas ameaças. O que um velhote despedaçado faria? Nunca fora capaz de executar suas funções políticas. Admirável, porém previsível. Os chefões, aqueles chefões. São uns merdas do caralho. Qualquer político é um merda fracassado que se alimenta e alcança os céus através da escravidão humana. Tsk... Eu deveria ser um pintor.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Between Sex and Blood
ActionNÃO RECOMENDADO PARA UM PUBLICO SENSÍVEL!! Em um mundo repleto de caos e violência, falemos agora sobre o nosso amado protagonista Clifford Okami. Herdeiro do trono do mundo sucumbido, vulgo, aquele que deveria um dia governar o inferno. O mesmo é u...