CAPÍTULO VII: Liberdade

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Pólvora e sangue pintavam minha anatomia. Cadáveres lançados pelo árduo solo. A cada segundo, um novo soldado se atirava a mim, suicidando-se. Meus olhos sangravam com a visão infernal. Passione e suas putinhas, determinados a minha vida inteira foder. Crianças desnorteadas assistiam seus pais morrerem. Os civis enlouqueciam com a carnificina. E não cessaria. Somente descansariam quando conquistassem seu precioso troféu. Minha cabeça, o meu óbito. E, eu garanto, jamais acontecerá. Poderíamos jogar para sempre, até a exterminação da humanidade. Pfff... Como um europeu de merda me derrotaria? Olhando de soslaio, avistava repórteres. Paparazzis obcecados por suas próprias matérias. Seguir um criminoso seria um fantástico conteúdo. E eu tenho o direito de me divertir um pouquinho, não é? Elegantemente, caminhei até a zumbificada repórter, que, aparentemente, já mantia sua câmera em mim. Inclinando-me levemente, toquei a lente com meu dedo indicador.

- Está ao vivo?

A mulher parecia morta. Petrificada, apenas assentiu com sua cabeça, sem dizer uma única palavra. Sua pele pálida e úmida, hiperventilando. Ótimo! Seria transmitido para toda a TV! Cuidadosamente, ajustei o meu microfone, erguendo sua câmera, para que se focasse em mim. Eu estava tímido. Pode ser uma surpresa, mas não sou muito sociável. Nunca havia feito uma entrevista. Todavia...

- Boa tarde, América!

Hiperativo, berrei, balançando as penas da, já morta, avestruz entre meus dedos. Acenava para a câmera, sorrindo gentilmente. Embora meu rosto permanecesse oculto. Não seria grosseiro, seria adorável como uma boneca de garota. Na televisão, é o que se faz para conquistar espectadores.

- Como sempre, eu espero que todos estejam tendo uma excelente tarde. E uma maravilhosa vida! Vejam só, estamos em setembro! Logo virão as festas, a folia e a euforia! Vamos festejar! Beber! Comer! Foder! Protejam esposas e crianças. E para festejar com vossa senhoria, nesta noite, convido cada cidadão americano a participação de meu grandioso evento. Se estiverem interessados, estarei aqui, em suas telas. Não percam! E como cidadãos americanos, vivam cada segundo como se fosse o último! Vamos enlouquecer até a morte!

Gargalhando estridentemente, rodopiava. Para a, agora inútil, mulher, uma mísera bala. Aquela transmissão estava na televisão... Todos que a assistissem, compreenderiam perfeitamente. Esperava que funcionasse... Ficaria de coração partido se não conseguisse. Minha grande carta aberta, para a América e o mundo.

- Aaahh... Aah... Aa.. Tirem-me daqui! Me deixem sair daqui!

Debatia-se o maldito, chorando como uma garotinha. Seus membros amarrados ao instrumento de ferro, seus olhos, ainda vendados. Não iria amordaça-lo. Ouvi-lo gritar nada mais era que uma encantadora sinfonia.

- Há alguém aí? Chiara? Madelyn? Onde eu estou?!

Mas, ao mesmo tempo, irritante pra caralho. Nenhum osso quebrado e já era o bastante para enlouquecer? Para o comandante do mundo, não parecia tão poderoso. Mesmo o mais poderoso dos reis, se torna inofensivo quando é atingido. Francamente, estava decepcionado. Decepcionado pra caralho. Um maricas como aquele comandava Nova Iorque? Comandava a América? Não sou o maior patriota, mas sempre serei um garoto do Queens. Como bom cidadão, faria uma ação comunitária à minha prestigiada vizinhança. Não é a primeira vez que um moleque do Queens o realiza.

- Malditos! Ratos imundos! Vocês sabem quem sou eu?! Eu reino neste país! Nova Iorque não seria nada sem mim! A América não seria nada sem mim!

Típico... Coroas nojentos sempre serão coroas nojentos. Acho que é um pré-requisito político. Todo o sistema é falho. Sempre foi. Sempre será.

- Seus... Vocês pagarão caro! Não sabem o que acontecerá se não me libertarem! Eu os...

Chutei sua mandíbula, farto de suas ameaças. O que um velhote despedaçado faria? Nunca fora capaz de executar suas funções políticas. Admirável, porém previsível. Os chefões, aqueles chefões. São uns merdas do caralho. Qualquer político é um merda fracassado que se alimenta e alcança os céus através da escravidão humana. Tsk... Eu deveria ser um pintor.

Between Sex and BloodOnde histórias criam vida. Descubra agora