Capítulo 29

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Capítulo 29.
Rebeca narrando.
Se não fosse Jesus comigo para me dar forças e me acalmar naquele momento  em que vi mortos as pessoas que  ao longo da minha vida  e dos meses que me tornei moradora daquela casa em frente e que fui aprendendo a amar, eu desabaria junto,
já se passaram 3 dias, a cena dos tiros, Helena implorando para que Sara pudesse sobreviver e Roger  me pedindo para cuidar da sua filha preciosa, rondam minha mente que chega até doer, e tem mais, Sara  está agora ao meu lado ainda desmaiada, depois de pedir ajuda com o pessoal do trabalho para  preparar o enterro, e  explicar que teria de tirar dias de licença, pois  agora tenho mais uma responsabilidade, não deixar Sara sozinha, ela ainda  não acordou e  fico imaginando como irá reagir, e sei que  conhecendo o seu jeito e mesmo  não enxergando,  irá ter reações diferentes, ou seja,  se ela quiser me bater, esmurrar ela mesma, gritar e se  enfurecer culpando e  amaldiçoando Léia, ou negando,  eu conseguiria entender a sua dor,  pois foi exatamente assim que sofri quando  também perdi meus pais,  fui para um orfanato, mas ela não irá precisar pois  tem a mim e o Senhor,  mesmo que ainda não consiga sentir sua presença.
Estou na cozinha de sua casa preparando um chá para no caso de ela acordar,  mesmo sabendo que irá rejeitar completamente, pois  nessas horas não conseguimos até nos alimentar, enquanto em seu quarto ela repousa,  não pude ir ao enterro,  então fiquei arrumando a casa, fui para a minha  apenas para pegar alguns pertences e jogar fora a comida do microondas que nem consegui comer, até que ouço um grunhido estranho vindo lá de cima e subi correndo até lá.
"não, não, não," e cada vez que ela dizia não, um jato de vômito saía de sua boca, fiquei imaginando, de onde ela vomitava tanto, pois  não havia comido nem bebi do nada a três dias,
comecei devagar a me aproximar de onde ela estava, porém, o que vi cortou meu coração, seus olhos se  encontravam fechados, sem vida,  não parecia nada com a menina alegre que conheço.
"Sarinha!" chamei tentando obter respostas, e quando ela ouviu a minha voz, aí que a agonia de sua alma começou, e eu, segurei suas mãos e deixei que se expressasse, colocando tudo para fora.
"não, eles não, aquela, aquela, eu mato"
"porque não foi eu? porque não fui com eles? aquela",
e não conseguia falar o nome da professora, e quando se referia a ela como aquela, vinha a raiva, o choro, a  náusea e  todos os sentimentos relacionados ao luto.
chegou até a me mandar embora, pois dizia que morreram por culpa sua e que merecia a solidão, afinal  não tinha mais ninguém mesmo, mas mal ela pensava e sabia  que eu ficaria exatamente ali,  não iria desistir dela,
com isso  entendi o meu propósito, Deus  permitiu que eu também passasse pelo luto para que eu pudesse ajudá-la,
e assim farei  com toda a paciência e alegria, e sua alma será resgatada  quando chegar a hora.

O único caminho.Where stories live. Discover now