Capítulo Sete

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As aulas acabaram, fiquei com notas acima de sete em todas as matérias e meu aniversário está chegando. Eu adoraria receber uma folga, mas mamãe disse que não é por eu ser filha dela que eu posso criar minhas próprias regras no trabalho, e isso é verdade. Portanto, tenho folga igual aos outros funcionários, num dia específico.

Quanto ao Otávio e eu, o clima ficou um pouco tenso naquele dia, mas o convidei para ir à igreja comigo. É muito difícil processar todas essas informações, mas estou tentando lidar da melhor forma possível. Desta vez, ele irá até a igreja em que frequento com minha família. Depois disso, meus pais vão fazer um jantar em casa para que possam conhecê-lo oficialmente. Pobre Otávio, terá que lidar com as inúmeras perguntas feitas pelos homens daquela casa (meu pai e meus irmãos).

Otávio

Fico me questionando o tempo todo se fiz certo ao ter sido tão direto sobre meus sentimentos, mas pensando bem, até quando eu iria ficar escondendo isso? É algo novo para mim… Mas uma coisa é fato, eu quero ter um relacionamento sério com a Mia, e estou pedindo o direcionamento de Deus para isso.

Ela é encantadora. A inteligência dela é exuberante, juntamente com sua beleza, seu sorriso e sua personalidade. Ela possui os mesmos princípios que eu na fé, e tudo isso me encanta. Quem diria que eu me apaixonaria por uma garota que me apontou um estilete… Eu devo ter algum problema, não é possível… Mas isso é até engraçado.

— Eu quero levar ela para São Paulo.

— Como assim, Otávio? Que história é essa, meu filho? — Minha mãe questiona, tomando café da manhã.

— Ela ama One Piece, quero levar ela para conhecer um restaurante temático do anime.

— Mas você acabou de conhecer a moça, querido.

— Meu amor, pode ficar tranquila. Otávio tem a cabeça no lugar. Se ele decidiu tomar tamanha decisão, é sinal que realmente gosta dela. — Meu padrasto acaricia os cabelos de minha mãe.

— Ah, eu esqueci de mencionar! Mas isso é só um detalhe, pois ela é incrível do mesmo jeito. — sorrio.

— Que detalhe? — Minha mãe pergunta.

— Ela é autista. — Eu digo e eles engasgam com o chá.

— Autista? — Minha mãe questiona.

— Filho, tem certeza de que isso é certo para você?

— Tenho, pai. Deus vai guiar meus passos e vou fazer o meu melhor por ela.

— Está bem. Deus abençoe vocês, meu filho. — Meu padrasto sorri. — Traga ela aqui para que possamos conhecê-la.

— Claro, pai! Será um prazer. Só tenho que combinar com ela antes.

— Eu não estou me sentindo bem sobre isso, filho. Mas traga ela aqui, mesmo, para que possamos conhecê-la.

— Claro, mãe! Vocês não vão se arrepender. Agora eu vou trabalhar, até mais tarde. — cumprimentei-os e me retirei da mesa. Ainda assim, tentando ouvir a conversa de longe.

— Otávio enlouqueceu? Ele nunca namorou antes, está se precipitando. — sussurrou minha mãe.

— Querida, admita… Só está preocupada assim por conta da condição de Autismo da moça.

— Eu só não quero que nosso filho seja infeliz ao lado de alguém assim… Você já viu as crianças autistas na internet? Eu fico morrendo de dó dos pais e da criança por sofrerem tanto com as crises. — A voz dela embarga no choro.

— Meu bem, deveria pesquisar melhor na internet. Nosso filho está querendo namorar uma moça autista, ela não é uma criança. Existem alguns jovens autistas que são inteligentes acima da média, passam nas melhores faculdades… Existem aqueles que possuem deficiência intelectual, e existem aqueles que não possuem nem superdotação, nem deficiência intelectual. Cada um tem suas características, querida. Nenhum autista é igual, fique calma.

Após ouvir meu pai acalmando a minha mãe, eu fui trabalhar de fato. E quando era mais ou menos uma hora da tarde, Mialara chegou.

— Boa tarde, senhorita.

— Boa tarde, cavalheiro. Eu trouxe algo para você. — Ela sorri.

— Sério? — Fico sem graça.

— Sim, eu sei que você é apaixonado por Fórmula 1, então trouxe esse carrinho para a sua coleção.

— Espera… Só pode ser brincadeira! Não acredito! Esse é o Side-Splitter Funny Car número 271 original! Como conseguiu ele??

— Comprei de um colecionador na internet. Ele é de 1995, certo?

— Exatamente! Essa belezinha está valendo até três mil e quinhentos dólares por causa de um erro de impressão. Eu estou impressionado!

E foi então que seus olhos brilharam, e seu sorriso ficou ainda mais lindo.

— Eu decidi te dar esse presente porque eu não sei se deixei claro que estava gostando de você. É muito difícil reconhecer minhas próprias emoções, então comprei esse carrinho para tentar demonstrar meus sentimentos por você.

— Quer casar comigo?

— O quê?

Ah, Otávio! Se empolgou demais! E agora, o que você vai fazer?

— Quero dizer… Muito obrigada, senhorita Mialara. Eu estou completamente encantado com o presente e com a sua demonstração de carinho. — digo e ela cai na gargalhada. — O que foi?

— Você é engraçado! Gostei de conhecer o seu lado empolgado. — Ela diz, colocando seu avental, indo em direção à cozinha.

— Boa tarde, Mia! E aí, cunhadinho? — adentrou Lucas, tocando o sino da porta, com um sorriso bem aberto.

— Lucas! Que história é essa de cunhadinho? — exclamou Mia, séria, batendo nele com um pano de prato.

— Ai! Não precisa me bater! — passou a mão no braço.

— Está tudo bem. Como vai, Lucas? — sorrio.

— Estou bem, cunhadinho… Ai! — levou outro tapa do pobre pano de prato. — Tá bom, tá bom! Desculpe, Otávio.

— Está tudo bem. Não precisa agredir seu irmão por causa disso. — sorrio e seu rosto fica corado.

— Eu só estou aqui para fazer um convite para a Mia. Um amigo nosso de infância vai casar, e ele quer que sejamos padrinhos.

— Sério?? Qual deles? Samuel, Nathan ou Cleiton? Visto que os três namoram…

— O Cleiton. Ele e a Amanda estão super animados.

— Eu topo! Se encontrar com ele na academia hoje, pode confirmar que irei. — Ela se anima.

Após Lucas sair da confeitaria, Mia ficou tão alegre que começou a dançar.

— Nossa, quanta alegria! Fico feliz por isso. — digo.

— É que nós conhecemos o Cleiton e os outros meninos desde que viemos para o Brasil. Eles são nossos vizinhos, e têm uma consideração muito grande por nós, assim como nós por eles. Lucas, Rael, Cleiton, Samuel, Nathan e eu sempre fizemos tudo juntos. Éramos o “terror” da escola. Eu falo isso no sentido figurado, porque eram eles que amavam fazer pegadinhas.

Fiquei ouvindo atentamente tudo o que ela estava dizendo, mesmo sem conhecer as pessoas da história. Algum tempo depois, a dona Cecília chegou e nos mandou ir trabalhar.

Como Chegar Até Você Where stories live. Discover now